Em um novo capítulo de violência sectária que assola a região noroeste do Paquistão, um ataque brutal ocorrido em Kurram na última quinta-feira resultou na morte de pelo menos 42 pessoas, dentre as quais estavam seis mulheres, com cerca de 20 feridos. Este ato de violência foi realizado por um grupo de atiradores que abriram fogo em um comboio de veículos transportando muçulmanos xiitas, tornando-se um dos episódios mais mortais da história recente do país. O ataque, segundo informações da polícia local, aconteceu na província de Khyber Pakhtunkhwa, área reconhecida por seus confrontos sectários entre a maioria sunita e a minoria xiita, que já vitimaram dezenas de pessoas nos últimos meses.

A tragédia ocorreu enquanto vários veículos se deslocavam de Parachinar a Peshawar, a capital da província, quando os atiradores dispararam em direção aos automóveis. Azmat Ali, um oficial da polícia local, relatou que pelo menos 10 passageiros se encontram em estado crítico nos hospitais da região, ilustrando a gravidade do ataque. O ataque foi seguido uma semana após a reabertura de uma importante rodovia que havia sido fechada por conta de confrontos violentos na área.

Até o momento, nenhum grupo reivindicou a autoria do ataque, o que levanta questões sobre a impunidade e a capacidade do governo local de proteger seus cidadãos. A responsabilidade pelo ataque foi considerada um ato terrorista pelas autoridades. O Ministro do Interior, Mohsin Naqvi, e líderes políticos, como o Primeiro-Ministro Shehbaz Sharif e o Presidente Asif Ali Zardari, condenaram veementemente o ato. Na sequência, Sharif enfatizou que os responsáveis pela morte de civis inocentes não ficariam impunes, enviando uma mensagem clara sobre a necessidade de justiça e segurança no país.

Durante o ataque, um residente de Kurram, identificado como Mir Hussain, descreveu um cenário caótico, onde viu quatro atiradores surgindo de um veículo, disparando contra os ônibus e carros que faziam parte do comboio. Ele contou que a troca de tiros teve duração aproximada de 40 minutos, durante os quais buscou abrigo para se proteger. “Eu ouvi os gritos das mulheres, e as pessoas clamavam por ajuda”, relatou.

Os membros da comunidade xiita, que representam cerca de 15% da população total do Paquistão, de 240 milhões, expressaram sua indignação. Ibn Ali Bangash, um parente de uma das vítimas, descreveu o dia do ataque como o mais triste da história de Kurram, lamentando a morte de mais de 40 de seus conterrâneos. “É uma questão vergonhosa para o governo”, afirmou.

O líder xiita Baqir Haideri se manifestou contra o ataque, prevendo que o número de mortos poderia aumentar e acusando as autoridades de não terem tomado as devidas precauções ao não fornecer segurança adequada ao comboio. Em resposta ao massacre, comerciantes locais em Parachinar decidiram realizar uma greve como forma de protesto.

A situação no Paquistão é preocupante, com a violência sectária se intensificando em várias regiões. Desde julho, um conflito relacionado a disputas de terras em Kurram já resultou na morte de muitas pessoas de ambas as comunidades. Embora a convivência pacífica entre sunitas e xiitas seja, em muitos casos, a norma, a região possui um histórico de tensões que data de várias décadas, especialmente em áreas onde os xiitas predominam.

O governo paquistanês enfrenta o desafio de lidar com a violência não apenas no noroeste, mas também no sudoeste, onde militantes frequentemente atacam policiais, tropas e civis. A violência no noroeste é frequentemente atribuída ao Talibã paquistanês, um grupo militante que possui vínculos com o Talibã afegão. Em contrapartida, a situação no sudoeste, na província de Balochistan, é marcada pela atuação do Exército de Libertação Baloch, uma organização banida que também tem protagonizado constantes atos de violência.

Assim, o atentado em Kurram não apenas expõe a fragilidade da segurança em regiões já marcadas pela violência sectária, mas também nos lembra que, embora uma resposta imediata seja essencial, uma abordagem mais ampla e estratégica é critical para resolver as questões subjacentes que alimentam essa epidemia de violência.

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