No competitivo e dinâmico universo da tecnologia climática, um clichê prevalece: a importância do hardware é inegável. Afinal, em um mundo onde as preocupações com as mudanças climáticas aumentam a cada dia, não é possível combater a poluição de carbono sem resolver problemas fundamentais associados a materiais como cimento, aço, hidrogênio, entre outros. Contudo, em uma análise mais aprofundada, fica claro que, nos dias de hoje, o hardware é apenas uma parte do quebra-cabeça da inovação tecnológica.
Nessa linha de raciocínio, a Blue Bear Capital está adotando uma abordagem que prioriza o software, destacando-se em um cenário onde muitos investidores concentram seus esforços em hardware ou em uma combinação de hardware e softwares. Vaughn Blake, sócio da Blue Bear Capital, comentou sobre essa estratégia dizendo que “em quase todos os casos, o hardware será desenvolvido com o software em mente”. Ao invés de seguir o caminho já percorrido por outros fundos, a Blue Bear acredita que o potencial de impacto das soluções digitais e da inteligência artificial aplicada é enormemente promissor.
Um exemplo emblemático apresentado pela empresa é o de uma companhia de energia solar. Da mesma forma que qualquer hardware, as usinas solares enfrentam problemas de equipamentos que podem limitar a produção de energia. Entretanto, se um operador recorrer a um serviço de monitoramento como a Raptor Maps, em que a Blue Bear é investidora, isso pode resultar em uma minimização significativa das perdas. “Considere 10% apenas como um número redondo”, explicou Sack. “Uma empresa como a Raptor Maps está ativa em mais de 100 gigawatts de capacidade de geração solar, e um aumento de 10% na performance representa 10 gigawatts. Isso é aproximadamente equivalente a 10 bilhões em capital de investimento e algo em torno de três a cinco usinas a carvão ou nucleares que poderiam ser evitadas”.
Ernst Sack, outro sócio da Blue Bear, alude à vasta aplicabilidade da IA, enfatizando que as oportunidades não se limitam às tecnologias tradicionais voltadas para o clima, como a energia solar. “A aplicabilidade da IA é tão universal”, declarou, citando setores como energia eólica, tratamento de água, refrigeração, produção de aço e cimento, químicos, além da logística marítima e aérea como campos em que a tecnologia pode ter um grande impacto.
Para validar sua abordagem, a Blue Bear Capital arrecadou recentemente um terceiro fundo, no valor de $160 milhões. Entre os parceiros investidores estão o McKnight Foundation, Rockefeller Brothers Fund, UBS, Woven Earth Ventures e Zoma Capital, além de executivos de fundos de private equity e infraestrutura. A Blue Bear, assim como esses investidores, está incorporando uma estratégia de investimento em estágios mais avançados, mas focada em empresas em fase inicial. O fundo tem reservado o dobro do valor para investimentos subsequentes em comparação aos primeiros cheques; ou seja, para cada cheque inicial de $5 milhões, há mais $10 milhões reservados para investimentos adicionais que visam manter a participação na empresa.
Blake comentou que o plano é investir em cerca de 15 companhias, o que sugere um portfólio relativamente enxuto. O diferencial dessa abordagem é o desejo do fundo de auxiliar um maior número de empresas a chegarem a um ponto de saída. “O modelo segundo o qual investimos entende e pressupõe que as ofertas públicas iniciais (IPOs) serão menos prováveis nos mercados em que atuamos”, explicou Blake. Ele também observou que fusões e aquisições, seja por meio de estratégias privadas ou respaldadas por private equity, são consideravelmente mais prováveis nesse contexto. Assim, cada saída bem-sucedida pode ser menor do que os números estrondosos que muitos fundos de capital de risco têm como alvo, mas a expectativa é entregar retornos similares para os parceiros investidores em um cenário agregado.
Dessa forma, a Blue Bear Capital se posiciona como um ator estratégico no campo da tecnologia climática, focando em soluções digitais que não apenas complementam o hardware, mas potencializam ainda mais sua eficácia. Ao trazer uma nova perspectiva às discussões sobre o impacto ambiental e os desafios energéticos, a empresa contribui decisivamente para um futuro mais sustentável e eficiente, demonstrando que, em tempos de intensa transformação, a inovação não deve ser limitadora, mas sim, amplamente inclusiva.