Nos dias atuais, onde a polarização política atinge níveis alarmantes, fica claro que a única forma de diversão durante a cobertura televisiva da Noite de Eleições de 2024 é para os apaixonados por política, os nerds de matemática e os masoquistas. Se você não se enquadra nesse grupo, talvez seja melhor mudar de canal ou preparar um lanche e assistir a um filme.
Na terça-feira à noite, enquanto os resultados começaram a fluir, as principais redes de TV como CNN, MSNBC e Fox News proporcionaram uma experiência intensa, mas também, no mínimo, tumultuada. No início da noite, Jake Tapper da CNN fazia questão de lembrar que a contagem estava apenas começando, reforçando repetidamente o quão cedo era para conclusões definitivas. Com resultados ainda em cifras de um único dígito, ele sugeriu que os espectadores preparassem um café, não exatamente a melhor recomendação para aqueles nervosos e ansiosos pelas primeiras projeções de vitória.
Nos estúdios, a imagem era quase cômica, lembrando uma fórmula de ‘weather report’ acelerada, onde comentaristas homens predominavam e gesticulavam freneticamente diante de telas eletrônicas. O que mais se destacou, claro, foi Steve Kornacki da MSNBC, notoriamente conhecido por seu estilo frenético. Esse ‘Harry Potter energizado’, como foi descrito, parecia ter tomado doses exageradas de café, analisando tendências de votação com um entusiasmo tão intenso que poderia fazer qualquer acadêmico da história sentir-se intimidado.
Enquanto as redes competiam para apresentar análises preditivas e gráficos, CNN, com seu famoso “Magic Wall”, e Fox, com seu inusitado “Bill-board”, disputavam a atenção e a audiência com novidades constantes. A MSNBC lançou a ‘Kornacki Cam’, transmitida pela plataforma Peacock, mostrando Kornacki para os fãs mais fanaticos que não queriam perder nenhum momento de sua análise.
O cenário inicialmente leve, com toques de humor e humanização, fez inclusive com que telespectadores se identificassem com um jovem eleitor da Carolina do Norte, que revelou em uma entrevista que só havia votado após um ultimato da namorada. Um lembrete de que a motivação eleitoral pode ser estranhamente pessoal e, algo que muitas mulheres preocupadas com os direitos reprodutivos possam ter considerado, a agitação para assegurar que suas vozes fossem ouvidas.
Curiosamente, a atenção focada em um eleitor da Arizona que contou ter votado em Trump apenas porque Kamala Harris não apareceu em um programa onde Joe Rogan é convidado, nos leva a pensar sobre como figuras da mídia ganharam influência em eleições. Isso sem dúvida levanta questões sobre como um ex-apresentador de um programa de entretenimento se tornou tão relevante no debate político moderno.
Na Fox News, a alegria era palpável enquanto as vitórias de Trump se acumulavam estado por estado. Kellyanne Conway não hesitou em afirmar que ‘wokeness e fraqueza’ estavam em jogo, enquanto outros comentadores previam um retorno político sem precedentes caso ele saísse vitorioso. Inclusive, a Fox anunciou estados para Trump muito antes do que as outras redes, levando a uma série de risadas e reações cínicas entre os críticos de campanha que observavam esses anúncios.
E assim, com as chamadas de estados e a contagem de votos, muitos espectadores assistiram impotentes enquanto referendos em Florida, que buscavam expandir os direitos de aborto e a legalização da maconha, foram negados pela maioria, mas não pela supermaioria necessária — parte da cruzada mais ampla do governador Ron DeSantis para transformar a Florida na mais conservadora do país.
Ao longo da noite, o tom sobressaiu como reflexo de um cansaço global e сообщений, culminando nas falas de um dos poucos democratas constantes da noite, o senador Joe Manchin, que declarou entre sorrisos que “sobrevivemos independente de quem ganhar”, o que tornou essa noite de eleições, tudo mais um grande espetáculo.