Na última segunda-feira, o presidente eleito Donald Trump utilizou suas redes sociais para anunciar suas intenções de implementar grandes aumentos nas tarifas de bens provenientes de México, Canadá e China, a partir do primeiro dia de seu segundo mandato. Esta proposta não é apenas uma promessa de campanha, mas uma mudança significativa no relacionamento que os Estados Unidos mantêm com seus maiores parceiros comerciais, especialmente na Ásia, que poderá enfrentar efeitos adversos em suas economias.
As tarifas, basicamente taxas aplicadas sobre produtos importados, geram incertezas sobre o impacto que podem causar. Contudo, a expectativa é que nações asiáticas, que dependem da exportação para os Estados Unidos, sintam uma pressão econômica crescente. Por exemplo, o Japão teve um total de exportações para os Estados Unidos de USD 145 bilhões no ano passado, representando aproximadamente 20% do total de suas exportações. Além disso, em 2023, a Coreia do Sul também viu os Estados Unidos se tornarem seu segundo maior mercado exportador, apenas perdendo para a China, e contabilizou um comércio de USD 116 bilhões. Esses números destacam a vulnerabilidade interconectada das economias de diversos países da região em relação às políticas comerciais dos EUA.
Por outro lado, a decisão de Trump de aumentar tarifas sobre produtos chineses pode criar oportunidades inesperadas para nações do Sudeste Asiático. Fábricas que costumam operar na China poderão optar por deslocar suas operações para países como Camboja, Vietnã, México e Brasil, criando um novo cenário econômico na região. O impacto dessa possível mudança já é visível, como exemplificado pelo vendedor de calçados Steve Madden, que anunciou a redução pela metade de sua produção na China para evitar tarifas, optando por alternativas em outros mercados.
O comércio entre os Estados Unidos e a Ásia revela um quadro intrigante. Em 2023, as importações dos EUA foram lideradas pelo México, seguido por China e Canadá, onde seis dos dez principais fornecedores estão localizados na Ásia. Essa relação, no entanto, não é simétrica, uma vez que os Estados Unidos mantêm um déficit comercial considerável com várias nações asiáticas. Durante os primeiros nove meses de 2024, a China registrou o maior déficit comercial com os Estados Unidos, acompanhado por México e Vietnã, onde a discriminação gerou um déficit de USD 90,6 bilhões. Essa desproporção comercial também é evidenciada na crescente tendência de déficits com países como Vietnã e Tailândia, à medida que os Estados Unidos tentam diminuir sua dependência de produtos chineses.
Trump declara que suas intenções com as tarifas visam reduzir ou eliminar o déficit comercial, mas economistas alertam que essa estratégia pode, na verdade, resultar em um imposto indireto para os consumidores americanos. Isso porque muitas empresas podem repassar para os consumidores os custos elevados dos produtos importados, diluindo assim o benefício esperado das tarifas. Um exemplo claro é a declaração de Philip Daniele, CEO da AutoZone, que enfatizou que se as tarifas forem aplicadas, elas serão repassadas aos consumidores.
Enquanto o comércio e as tarifas continuam a ser temas relevantes nas relações internacionais, as imprevisibilidades econômicas e comerciais criadas pelas políticas anunciadas por Trump geram preocupações significativas. Os custos para as indústrias e consumidores poderão ser substanciais, levando a uma série de efeitos colaterais, tanto nos Estados Unidos quanto nas nações asiáticas que, até há pouco tempo, se beneficiavam desta relação comercial intensa.
Portanto, fica a pergunta: o que esperar desse novo cenário econômico? As nações asiáticas se adaptarão a essa nova realidade, ou as tarifas prometidas por Trump se tornarão um fardo insustentável? O futuro próximo nos trará as respostas, mas uma coisa é certa: as consequências de decisões unilaterais em comércio podem ecoar muito além das fronteiras do país que as impõe.