Lucknow, Índia (AP) — Em uma sequência alarmante de eventos, autoridades indianos foram forçadas a fechar escolas e suspender serviços de internet em uma cidade do norte da Índia nesta segunda-feira, após confrontos que resultaram na morte de quatro pessoas. Esses conflitos foram desencadeados por um levantamento oficial que investiga se uma mesquita do século XVI foi construída sobre um antigo templo hindu, gerando uma onda de tensão entre as comunidades religiosas.
Na cidade de Sambhal, localizada no estado indiano de Uttar Pradesh, quase mil manifestantes muçulmanos se reuniram em frente à Shahi Jama Masjid no domingo, determinados a impedir que uma equipe realizasse o levantamento, que foi ordenado pelo tribunal após uma petição de um advogado hindu. Este advogado alegou que a mesquita estaria situada no local de um antigo templo hindu, uma declaração que acendeu os ânimos e aumentou as tensões comunitárias.
“Todas as escolas e faculdades foram fechadas e as reuniões públicas proibidas” na cidade, afirmou o administrador local, Aunjaneya Kumar Singh. Ele também explicou que, além da proibição de reuniões, a entrada de pessoas de fora, organizações sociais e representantes públicos na cidade estava suspensa sem autorização oficial até 30 de novembro. Essa medida surge em um contexto onde o governo tentava conter a instabilidade gerada pelos confrontos.
O que começou como um impasse rapidamente se transformou em um confronto quando manifestantes começaram a atirar pedras na polícia, que respondeu com o uso de gás lacrimogêneo, conforme relataram as autoridades. A situação se agravou e provocou cenários de violência que foram registrados em vídeos que circulam nas redes sociais, mostrando veículos em chamas e a polícia utilizando força para controlar a multidão.
Autoridades locais, como o oficial de polícia Krishna Kumar Vishnoi, mencionaram que “alguns elementos na multidão recorreram à violência, forçando-nos a usar força moderada e gás lacrimogêneo para restaurar a ordem”. Essa intervenção, no entanto, não foi suficiente para evitar que os confrontos resultassem em mortes.
Apesar do clima de agitação, o levantamento continuou conforme o planejado, uma decisão que demonstra a determinação do governo em prosseguir com a investigação, mesmo em meio à violência. Com isso, as autoridades se prepararam para as repercussões potenciais que poderiam surgir após o incidente, que reacendeu as tensões em um país onde disputas religiosas frequentemente resultam em conflitos contemporâneos.
Este episódio se insere em um contexto mais amplo de tensões religiosas na Índia, particularmente entre hindus e muçulmanos. Grupos ativistas hindus, que geralmente têm vínculos com o partido governante de Narendra Modi, alegam que diversas mesquitas no país foram construídas sobre templos hindus durante o Império Mughal. Essas afirmações estão longe de serem novas e têm sido uma fonte constante de conflito entre as comunidade religiosas.
Especialistas observaram que os nacionalistas hindus se tornaram mais ousados após a inauguração, por Modi, de um controverso templo hindu construído sobre as ruínas de uma mesquita centenária na cidade de Ayodhya. Este ato simbólico foi visto como um triunfo político para o líder populista, que busca transformar o país de uma democracia secular em um estado hindu, criando um ambiente propício para a intensificação de reivindicações religiosas.
A base do pedido na cidade de Sambhal se sustenta em textos históricos que afirmam que a mesquita foi construída sobre um templo hindu que, segundo a lenda, teria sido destruído pelo imperador muçulmano Babur em 1529. Os defensores do levantamento argumentam que ele visa descobrir verdades históricas, já os opositores consideram-no uma violação da Lei de Locais de Culto de 1991, que busca preservar o status religioso dos locais como eram em 1947.