Nos últimos meses, o mercado de bebidas alcoólicas tem enfrentado um panorama desafiador, refletindo a reação dos consumidores diante dos preços elevados. A chamada “ressaca” chegou para as empresas de bebidas, que viram um crescimento explosivo durante a pandemia de Covid-19 agora se enfraquecer. Esse ajuste no consumo, combinado com a inflação e o aumento das taxas de juros, está impactando diretamente nas finanças de algumas das maiores fabricantes do setor, que incluem marcas renomadas como Remy Cointreau e Anheuser-Busch. O atual cenário apresenta uma redução nas vendas e um excessivo estoque, levando os fabricantes a reavaliar suas estratégias.

Os dados fornecidos pela empresa de análise de bebidas IWSR mostram que, no início de 2024, o volume total de vendas caiu 3% durante os primeiros sete meses, cifra que superou as previsões do setor. Essa queda afeta todas as categorias principais, como tequila, uísque americano, cerveja e vinho. A única exceção à regra são os coquetéis em lata, que tiveram um leve crescimento de 2%. Em um universo onde bons drinks podem ter um preço elevado, os consumidores começam a se questionar se realmente vale a pena pagar mais por qualidade sem ver o valor correspondente.

Lisa Hawkins, responsável pela comunicação do Conselho de Bebidas Destiladas dos Estados Unidos, comenta que esta situação representa uma recalibração da indústria que, após o crescimento extraordinário durante a pandemia, se depara agora com um panorama de crescimento estagnado influenciado por fatores inflacionários. Como resultado, os fabricantes enfrentam um excesso de estoque, principalmente nos Estados Unidos, provocando ajustes nas expectativas financeiras. Por exemplo, a Remy Cointreau já viu suas ações caírem 50% ao longo do ano, prevendo um novo ano de declínios nas vendas.

As impressões de vendas refletem uma contínua desestocagem nos Estados Unidos, onde a demanda permanece abaixo do esperado. Durante uma chamada recente com investidores, Luca Marotta, CFO da Remy Cointreau, mencionou uma queda acentuada nas vendas de 22,8%, com suas marcas de conhaque se destacando como as menos performáticas. De maneira semelhante, a Pernod Ricard relatou uma redução de 10% nas vendas nos últimos trimestres, evidenciando uma gestão mais restritiva dos estoques por parte dos varejistas.

Essa tendência de queda nas vendas é vista como uma “normalização” dentro da indústria, conforme os dados de vendas de álcool estão se aproximando aos patamares anteriores à Covid-19. O presidente da divisão americana da IWSR, Marten Lodewijks, descreve que a inflação e a redução de gastos discricionários por parte dos consumidores acabaram prejudicando os resultados financeiros das empresas de bebidas. “Os consumidores estão reduzindo seus gastos com bebidas alcoólicas devido aos custos elevados. Eles estão se voltando mais para cerveja e coquetéis prontos que oferecem um preço mais baixo por dose”, complementou Lodewijks ao comentar sobre o cenário atual.

Movimento em direção a rótulos próprios e a busca por preços mais baixos

Os consumidores, cada vez mais conscientes em relação às suas compras, estão migrando seus hábitos de consumo em direção a opções mais econômicas. As marcas de rótulos próprios, que costumam oferecer produtos em preços mais acessíveis, podem ser uma boa alternativa. Um exemplo notável é o caso da Aldi, uma rede de supermercados que vem se destacando na venda de bebidas alcoólicas, incluindo coquetéis, vinhos e uma variedade sazonal de cervejas a preços competitivos.

O diretor de compras da Aldi, Arlin Zajmi, relatou que as vendas dos rótulos próprios estão crescendo a cifras de dois dígitos, superando as tendências gerais do setor, que enfrenta uma queda no volume de vendas. Ele destaca ainda que os consumidores reconhecem cada vez mais o valor da proposta que essas marcas oferecem: qualidade a um preço menor. Essa percepção é um reflexo de como as marcas de rótulos próprios se estabeleceram ao longo da última década, tornando-se uma alternativa viável no mercado.

A rápida expansão da Aldi nos últimos anos também favoreceu sua linha de cervejas, que viu um aumento impressionante de 100% nas vendas. Atualmente, mais de um quarto dos lares americanos realizam compras na Aldi, o que representa o dobro em relação a seis anos atrás. Essa situação é complementada pela sua oferta de seltzers à base de malte, que custam menos do que versões concorrentes, como a White Claw.

Essa expansão está perfeitamente alinhada aos novos padrões de consumo dos consumidores, que se mostram mais sensíveis a preços. De acordo com Bryan Roth, editor da newsletter Sightlines+, o preço de um pack de seis garrafas a 8 ou 9 dólares na Aldi pode parecer uma verdadeira revolução, especialmente quando comparado aos preços de cervejas artesanais que superam a barreira de 12 dólares nas grandes redes de supermercados.

Ao examinar a dinâmica atual do mercado de bebidas alcoólicas, é evidente que as empresas precisam se adaptar rapidamente às necessidades e preferências dos consumidores. A mudança no comportamento do consumidor evidencia uma pressão crescente sobre o setor para oferecer alternativas mais acessíveis e inovadoras, caso contrário, as gigantes das bebidas alcoólicas podem ver seus estoques aumentarem ainda mais enquanto as vendas continuarem a cair. Assim, seguimos observando um mercado em transformação, onde o foco no custo, qualidade e inovação será fundamental para a sobrevivência e prosperidade das empresas do setor.

Similar Posts

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *