[Esta história contém grandes spoilers do finale de Say Nothing]

Em 2019, o jornalista Patrick Radden Keefe, em seu livro intitulado Say Nothing, apresentou uma possível resposta para um dos mistérios persistentes relacionados aos Troubles na Irlanda do Norte: quem foi responsável pela morte de Jean McConville? O autor argumentou que a voluntária do Exército Republicano Irlandês, Marian Price, foi a responsável pelo disparo fatal que tirou a vida da mãe de dez filhos, que havia sido sequestrada em 1972 por membros do IRA sob a acusação de ser informante para o exército britânico. McConville, após desaparecer por décadas, teve seus restos mortais encontrados em uma praia irlandesa em 2003.

Três anos após a descoberta de seus restos, o ombudsman da polícia da Irlanda do Norte divulgou uma investigação que concluiu que não havia provas de que McConville tivesse atuado como informante. Este contexto sombrio e complexo foi magistralmente retratado na adaptação para a televisão da FX, dirigida por Josh Zetumer e Michael Lennox, que culminou em uma cena carregada de emoção. Na emocionante conclusão, o trio de personagens Dolours Price (interpretada por Lola Petticrew), Marian Price (Hazel Doupe) e Pat McClure (Martin McCann) são vistos decidindo, um a um, quem vai atirar, resultando na morte de Jean McConville.

Em uma entrevista focada no final da série, Zetumer e Lennox discutiram o treinamento emocional que viver aquele momento era para todos os envolvidos, especialmente em um local que conecta diretamente à história que estavam contando. O diretor expressou o quanto foi crucial abordar essa cena de uma forma respeitosa, uma vez que ele tem uma ligação pessoal com o local das filmagens, na Irlanda do Norte. “Foi muito angustiante filmar uma cena assim, especialmente para mim, dado meu vínculo com o lugar”, comentou Lennox, enfatizando como cada ator e membro da equipe se concentraram no impacto do que estavam criando.

“Quando Hazel [Doupe] se juntou ao projeto, ela estava apenas parcialmente familiarizada com a história, e quando o momento de revelar que seu personagem seria o perpetrador da morte de Jean McConville chegou, foi visível o peso que isso trouxe para ela”, acrescentou Zetumer, refletindo sobre o profundo respeito e conexão que se formou entre o elenco durante as filmagens. “Essas duas atrizes, Lola e Hazel, se apoiaram muito, e foi realmente especial ver isso acontecer no set.”

Valorizar essa conexão emocional não era apenas uma questão de arte, mas também uma forma de reconhecimento do que essas histórias representam. Durante a série, houve um esforço consciente para incluir informações sobre instituições que ajudam as famílias a lidar com as consequências da guerra. Como resultado, o final da série apresentava um cartão informativo sobre a Comissão Independente para a Localização dos Restos de Vítimas, destacando a importância de continuar essas discussões sobre os desaparecidos e as famílias afetadas.

“É vital lembrar que ainda existem vítimas que não foram encontradas até hoje. Countless pessoas ainda estão buscando justiça”, afirmou Lennox. Esse desejo de trazer à luz o que aconteceu e manter a conversa em andamento foi ecoado por Zetumer, que concluiu: “Nossa esperança é que o show gere uma discussão positiva ao abordar tudo o que ocorreu. O melhor que a TV pode fazer é servir como um bem social, catalisando o diálogo e a empatia.”

A série, que já está disponível na íntegra no serviço de streaming Hulu, não serve apenas para entreter, mas também para educar sobre um passado complexo e frequentemente doloroso. Os criadores deixaram claro que não há respostas simples para as questões levantadas e que, ao refletir sobre o custo da violência política, o espectador é convidado a considerar as vidas que foram destruídas. A escolha de transmitir a história de Jean McConville e de várias outras figurações históricas é um convite ao diálogo e à reflexão, especialmente para as novas gerações que podem não estar cientes dos eventos que moldaram a Irlanda do Norte e suas consequências duradouras.

Ao final, o que permanece é a indagação sobre a responsabilidade compartilhada em meio ao caos e à dor. O que a série realmente nos ensina é que, na complexidade das experiências humanas, todos somos afetados por ações que vão muito além do que poderíamos imaginar. Uma conversa que não deve acabar aqui, mas sim continuar a se desdobrar à medida que novas gerações testemunham a história que foi, e ainda é, a Irlanda do Norte.

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