Recentemente, oficiais do Pentágono iniciaram discussões informais sobre como o Departamento de Defesa deve se preparar para uma situação delicada: a possibilidade de que o ex-presidente Donald Trump emita ordens para o uso de tropas ativas em solo americano e para demissões em massa de funcionários considerados apolíticos no governo federal. Essas conversas surgem à medida que Trump sugere abertamente o uso da força militar para a aplicação da lei e para deportações em massa, além de tentar reformar o governo federal com leais a seu governo, visando eliminar o que considera atores corruptos no setor de segurança nacional dos Estados Unidos.

As pautas estão sendo analisadas no contexto de um possível overhaul completo do Pentágono, levando em consideração diversas situações que podem ocorrer. Um oficial de defesa afirmou que “todos estamos nos preparando e planejando para o pior cenário, mas a realidade é que não sabemos como isso vai se desenrolar ainda.” Tais afirmações levantam questionamentos sobre a condução do ex-presidente, especialmente sobre como ele poderia lidar com ordens que poderiam ser consideradas ilegais e como os seus nomeados dentro do Departamento de Defesa reagiriam a essas ordens.

Embora os militares tenham a obrigação legal de desobedecer ordens ilegais, surge a dúvida sobre a reação de líderes militares seniores. Seriam eles propensos a renunciar ou considerariam isso como uma deserção de suas tropas? A incerteza prevalece também sobre quem Trump escolherá para assumir posições de liderança dentro do Pentágono, com a expectativa de que seu novo governo evite os atritos que marcaram sua administração anterior com as Forças Armadas. O ex-oficial de defesa que serviu sob Trump ressaltou que “a relação entre a Casa Branca e o DoD foi realmente muito ruim,” e que essa questão certamente pesaria nas decisões sobre a escolha dos novos membros do Departamento de Defesa.

O desafio adicional que os oficiais de defesa enfrentam é identificar quais funcionários civis poderiam ser afetados caso Trump reinstale o Schedule F, um decreto executivo da sua gestão anterior que reclassificaria uma grande quantidade de funcionários federais de carreira, tornando-os mais suscetíveis a demissões. O secretário de Defesa, Lloyd Austin, manifestou a crença de que “nossos líderes continuarão a agir corretamente, não importa o que aconteça,” e expressou confiança de que o Congresso também apoiará as Forças Armadas nesse contexto.

A Preocupação com o Uso Militar em Solo Americano

Os pensamentos mais preocupantes entre os oficiais de defesa giram em torno de como Trump planeja utilizar o poder militar americano dentro do território. No mês passado, Trump afirmou que o exército deveria ser empregado para lidar com o que chamou de “inimigo interno” e “lunáticos da esquerda radical.” Essa retórica é alarmante, especialmente considerando o histórico das relações entre o ex-presidente e as Forças Armadas, caracterizado por suas tentativas de intervir em assuntos civis.

O ex-presidente chegou a sugerir que, em caso de protestos no Dia da Eleição, a Guarda Nacional ou, em situações mais drásticas, as Forças Armadas deveriam ser envolvidas. Essa ameaça à liberdade civil despertou reações entre ex-oficiais militares de alto escalão, incluindo o ex-presidente do Estado-Maior Conjunto, Gen. Mark Milley. Muitos ex-oficiais demonstraram preocupação com as tendências autoritárias de Trump, que frequentemente era comparado a figuras históricas como Adolf Hitler, com comentários que fazem alusão à lealdade esperada de generais sob regimes totalitários.

Negar a capacidade do Pentágono de proteger a tropa contra um possível abuso de poder por parte de um Comandante em Chefe é um dilema que ainda penetra profundamente a discussão. Embora advogados do Departamento de Defesa façam recomendações sobre a legalidade das ordens, não existe uma salvaguarda legal que impeça Trump de mobilizar tropas americanas para patrulhar as ruas do país. Isso levanta a questão sobre o impacto da escolha de Trump em comandar mais tropas em missões de segurança e imigração ao longo da fronteira sul com o México.

Com a presença de milhares de militares na fronteira, incluindo membros da ativa, da Guarda Nacional e da Reserva, o governo Biden já havia enviado cerca de 1.500 tropas no ano passado para conter a imigração. No entanto, se Trump decidir aumentar a presença militar nas cidades americanas para atender ao seu plano de deportações em massa, isso pode abrir um capítulo sombrio na história da relação entre o estado e seus cidadãos.

Preocupações sobre Funcionários Civis em Risco

Em um tom oportuno, Trump deixou claro sua intenção de restaurar sua autoridade plena sobre a remoção de funcionários federais considerados burocratas corruptos, um eco de promessas feitas durante sua campanha. O Pentágono já está se preparando para essa possível mudança de política, como o relataram oficiais, que afirmaram que seus e-mails estão inundados com preocupações sobre as implicações do Schedule F.

Diante da possibilidade real de contestações nos processos administrativos, o Departamento de Defesa paralelamente está elaborando listas de quais funcionários poderiam ser impactados. O Escritório de Gestão de Pessoal emitiria ordens para reforçar as proteções para os funcionários, mesmo que oficiais do setor afirmem que há maneiras de um novo governo contornar tais restrições.

Em meio a essa incerteza, Lloyd Austin reiterou frequentemente que as forças armadas apenas obedecerão ordens que sejam legais. Ele enfatizou que “a integridade e a continuidade dos trabalhadores civis devem ser protegidas” e que todos devem permanecer neutros politicamente, leais à Constituição e às legislações dos Estados Unidos. O futuro próximo para a administração de Trump no Pentágono pode revelar-se um terreno complicado, tanto para cidadãos como para os que servem às Forças Armadas.

O laço entre cidadania e as Forças Armadas americanas será colocado à prova à medida que essa discussão interna ganha força, e a observação cuidadosa das decisões tomadas nesse contexto poderá moldar o futuro do país, assim como de suas instituições democráticas.

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