No contexto atual da indústria cinematográfica, as tecnologias transformadoras e suas implicações na produção audiovisual estão em foco, refletindo um cenário em rápida evolução. O painel da Motion Picture Association (MPA) realizado no Festival Internacional de Cinema de Tóquio trouxe à tona essas questões em um evento altamente assistido no dia 30 de outubro. Com um público considerável, a discussão não apenas abordou a crescente popularidade do conteúdo japonês no mundo, mas também as particularidades e desafios de produzir filmes e séries na Terra do Sol Nascente.

Edward B. Neubronner, representante da divisão Ásia-Pacífico da MPA, iniciou o evento destacando a valorização do mercado de anime, que atualmente movimenta mais de 31 bilhões de dólares globalmente. Ele enfatizou o interesse crescente de criadores internacionais em realizar produções no Japão, um país amplamente reconhecido por sua rica cultura e estética única. Entretanto, mesmo com um cenário promissor, Neubronner e outros oradores levantaram questões sobre as barreiras que ainda perduram, como a burocracia e as dificuldades logísticas associadas à filmagem no Japão.

Dando sequência à programação, o discurso de Evan Felsing, representante da embaixada dos EUA em Tóquio, capturou a atenção dos presentes ao abordar a relevância da colaboração entre Japão e Estados Unidos. Ele ressaltou a importância de joint ventures no enfrentamento da desinformação e na proteção da propriedade intelectual, um tema que se tornou premente com o avanço das tecnologias de inteligência artificial. Curiosamente, Felsing também revelou que suas falas foram geradas por uma IA, gerando um leve murmurinho entre os participantes.

A nova incentivo à produção, introduzido no ano passado e oferecendo reembolsos de até 1 bilhão de ienes (aproximadamente 6,6 milhões de dólares), foi apontada como um fator significativo para incrementar o interesse das produções estrangeiras no Japão. Um exemplo claro dessa movimentação foi a série “Tokyo Vice”, da plataforma Max, que utilizou essas facilidades para realizar suas filmagens. Contudo, Alex Boden, produtor da série, apresentou uma visão mais realista dos obstáculos enfrentados na produção, desde as dificuldades para obtenção de permissões até a escassez de equipes disponíveis, sem contar as barreiras linguísticas que complicam ainda mais a logística.

Em meio a ausências e restrições causadas pela pandemia, que impôs severos controles de fronteira, Boden mencionou que, apesar das dificuldades, as consultas para filmagens no Japão continuam a surgir, como a que recebeu na manhã do evento. O panorama é claro: a demanda por colaboração com o Japão permanece alta, o que exige que o país refine suas operações e supere os impedimentos existentes.

Outro destaque do painel foi Ryo Nakajima, cineasta que compartilhou suas experiências com a integração de efeitos visuais gerados por computador (CG) e inteligência artificial em suas produções. Ele narrou a receptividade variada que essas tecnologias enfrentam em festivais de cinema na Europa e na Ásia, ilustrando com a polêmica levantada por um videoclipe gerado por IA, que foi vaiado no Festival de Annecy. Por outro lado, seu filme intitulado “Quem disse que a morte é bela” conseguiu uma recepção mais calorosa. Nakajima também observou que, ao contrário de outras regiões, no Japão, a IA é vista como uma solução viável para a escassez de mão de obra e as longas jornadas de trabalho na indústria criativa.

Para finalizar as apresentações, George Murphy, artista de efeitos visuais premiado com o Oscar, abordou as inovações em produção virtual e os novos desafios que elas trazem. Durante a discussão, as questões éticas em torno da utilização de tecnologias emergentes, especialmente no que tange à propriedade intelectual e aos direitos dos artistas, foram centradas nas falas de Murphy, que introduziu o conceito de “gêmeos digitais de talentos” – a possibilidade de que atores mantenham direitos sobre suas imagens digitais, evitando seu uso não autorizado e garantindo maior controle sobre suas identidades.

Em um momento de interação com o público, foi levantada a preocupação sobre como garantir a autenticidade cultural ao utilizar tecnologias de produção virtual para representar locais estrangeiros. Murphy enfatizou a importância da interação física com os cenários reais, que, segundo ele, enriquece a conexão dos atores com o ambiente, algo difícil de replicar virtualmente. Sustentando essa linha de raciocínio, Boden ressaltou a flexibilidade que filmar em locações proporciona, embora reconheça as realidades logísticas que não podem ser ignoradas.

Ao término do painel, todos concordaram que as ferramentas de IA e produção virtual, quando utilizadas de maneira consciente e ética, têm o potencial de elevar a narrativa cinematográfica a novos patamares. Contudo, ressalvaram que uma abordagem cuidadosa em relação à autenticidade e aos direitos da propriedade intelectual é fundamental para que a indústria avance de maneira responsável e sustentável, preservando o que é essencial na arte de contar histórias.

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