A expectativa em torno do reencontro de Tom Hanks e Robert Zemeckis, duas lendas da sétima arte, nunca foi tão alta quanto na recente estreia, ‘Aqui’. Passados quase três décadas desde o lançamento do inesquecível ‘Forrest Gump’, que conquistou multidões e o Oscar, a nova produção, embora envolvesse um elenco estelar e um diretor aclamado, se mostrou uma verdadeira decepção nas bilheteiras. A discrepância entre o desempenho comercial de ‘Aqui’ e o fenomenal sucesso de seu predecessor deixa claro que o caminho não seria fácil para recuperar a mágica da década de 1990, e é interessante observar os fatores que contribuíram para essa difícil realidade.
O filme ‘Aqui’ teve uma abertura modesta, arrecadando apenas $4,8 milhões em seu primeiro final de semana, um número que contrasta fortemente com os $24,5 milhões registrados na estreia de ‘Forrest Gump’. Enquanto ‘Aqui’ luta para atingir um total de $11,4 milhões em arrecadação doméstica, é evidente que esta colaboração entre Hanks e Zemeckis não será lembrada como seus sucessos anteriores, como ‘Náufrago’, que arrecadou cerca de $233 milhões, ou ‘O Expresso Polar’, que fatureou $183 milhões. Na retrospectiva, diferenças significativas podem ser identificadas como razões para o fracasso inicial de ‘Aqui’. Uma análise minuciosa revela que a crítica não foi favorável e o filme recebeu uma baixa avaliação de 32% no Rotten Tomatoes, o que, sem dúvidas, afetou o interesse do público.
Além disso, o conceito central de ‘Aqui’, que gira em torno do protagonista preso em um único cenário de filmagem, foi difícil de vender ao público, limitando a atratividade do filme em um ambiente cinematográfico que, em grande parte, se concentra em franquias e filmes com grandes orçamentos. O estilo mais cerebral e artístico de ‘Aqui’ contrasta fortemente com a natureza acessível e envolvente de ‘Forrest Gump’ e de outros trabalhos conhecidos dos criativos envolvidos. Essas mudanças no gosto do público ao longo de trinta anos também não podem ser ignoradas, especialmente em um cenário cinematográfico que prioriza a continuação de histórias conhecidas e bem estabelecidas.
Embora ‘Forrest Gump’ tenha sido um colossal sucesso, sua trajetória também foi marcada por contratempos. Mesmo com uma arrecadação domestica impressionante de $330 milhões e uma coleção de seis Oscars, incluindo Melhor Filme e Melhor Ator para Hanks, houve alegações de que o filme, segundo a contabilidade de Hollywood, havia sido considerado um “fracasso”. Isso se deve ao que foi chamado de “contabilidade criativa”, onde a Paramount Pictures alegou que o filme havia perdido mais de $62 milhões por conta de técnicas contábeis que inflacionaram os custos de produção, fazendo com que o filme parecesse menos lucrativo do que realmente era.
O autor do livro em que ‘Forrest Gump’ se baseia, Winston Groom, também viu um impacto negativo, pois apesar do sucesso estrondoso do filme, ele não recebeu nenhuma remuneração além do pagamento inicial de $350.000. O contrato dele previa um percentual dos lucros líquidos, o que levou a uma situação onde, apesar do filme ter feito uma receita extraordinária de $677 milhões em todo o mundo, ele não viu participação alguma nos lucros adicionais. Essa situação ilustra como a matemática da indústria cinematográfica pode favorecer os estúdios em detrimento dos criadores.
O desempenho de Hanks na bilheteira também foi um fator de interesse nesse contexto. Sua estrela brilhante, que antes garantiu enormes lucros, parece não ter o mesmo peso atualmente. Hanks continua a ser um ator admirado e respeitado, mas seu recente histórico financeiro apresenta uma nova realidade. Filmes recentes, embora respeitáveis, como ‘O Código Da Vinci’, não têm mais a mesma força comercial que atraía o público em massa. O fato de que projetos mais recentes, como ‘Notícias do Mundo’ e ‘Pinóquio’, foram direcionados para streaming, aumenta a percepção de que o nome de Hanks, embora ainda forte, não é mais o suficiente para arrastar os espectadores para os cinemas da mesma forma que fazia antes.
Portanto, em vez de expor Hanks como um ícone desvanecido, ‘Aqui’ deve ser visto como uma manifestação das transformações na indústria do cinema e nas expectativas do público ao longo dos últimos trinta anos. Com uma mudança de foco em histórias que envolvem grandes gastronomias, franquias conhecidas e compartilhamento nas redes sociais, o cinema contemporâneo se fortalece na ideia de que o passado, por mais glorioso que tenha sido, não é necessariamente uma fórmula para o presente. Agora é a hora de refletir sobre o futuro da sétima arte à medida que continuamos a acompanhar as carreiras de figuras proeminentes como Tom Hanks e Robert Zemeckis.