Nos últimos dias, Donald Trump tem se lançado em uma busca intensa para preencher uma das posições mais desafiadoras em Washington: a de advogado geral. Enquanto isso, do seu resort à beira-mar na Flórida, a tensão no Departamento de Justiça (DOJ) é palpável, com funcionários temendo que o retorno de Trump à presidência se transforme em um caminho de caos e retaliação. Essa busca pelo novo advogado geral se destaca em um cenário onde a confiança na independência do DOJ está em jogo e onde ameaças implícitas pairam sobre os funcionários de carreira que se opuseram ou investigaram o ex-presidente.
O comportamento conturbado de Trump em relação à sua equipe é bem documentado. Ele foi responsável pela demissão de um advogado geral e fez dois assessores da Justiça, que supervisionavam investigações ligadas a ele, perderem seus cargos. De fato, nenhum cargo em seu gabinete atraiu mais sua atenção do que o de advogado geral, onde ele repetidas vezes expressou frustração com aqueles que não se alinhavam com suas ideias ou que se opunham a seus planos. Isso levantou preocupações entre muitos funcionários do DOJ, que temem que sua independência tradicional do Palácio da Casa Branca seja sacrificada.
Além disso, aliados de Trump, como o advogado conservador Mark Paoletta, emitiram avisos severos para os funcionários de carreira do DOJ, alertando que serão monitorados com rigor. Paoletta não hesitou em afirmar que aqueles que não implementarem os planos do presidente de boa fé deveriam considerar a possibilidade de deixar seus cargos. Dessa forma, os funcionários estão cada vez mais preocupados que as antigas práticas de separação de poderes e a ética no serviço público estejam em risco, criando um ambiente de incertezas e temores sobre possíveis represálias.
Impacto da Buscada de Trump por Retribuição e Investigação
Ao se afastar de uma posição mais tradicional, Trump agora está enfatizando a importância do advogado geral como uma peça fundamental para cumprir suas promessas de campanha, que incluem a implementação de ordens executivas relacionadas à imigração e investigações sobre seus adversários políticos. A nova administração está ciente de que o DOJ desempenha um papel crucial na defesa das ações do governo em tribunal, abordando temas que vão desde saúde pública até questões ambientais e controle de armas. JD Vance, que é o companheiro de chapa de Trump, declarou em uma entrevista que o advogado geral pode ser a figura mais importante do governo depois do próprio presidente.
Em meio a essa nova configuração, surge uma lista de “alvos” que inclui funcionários do DOJ, como o promotor especial Jack Smith, bem como advogados e investigadores que se envolveram em investigações sobre Trump e os eventos de 6 de janeiro. O clima dentro do FBI não é diferente, com muitos funcionários temendo uma onda de demissões e mudanças em suas carreiras, especialmente após a busca por documentos classificados em propriedade de Trump. Ele já insinuou que planeja demitir Chris Wray, atual diretor do FBI, o que gerou incertezas e temores sobre as futuras diretrizes a serem seguidas dentro do FBI.
A Liberdade Aumentada para o Presidente e os Medos do Departamento de Justiça
Um fator adicional que causa alarme dentro do governo federal é a recente decisão da Suprema Corte, que expandiu as imunidades legais dos presidentes em suas interações com o DOJ. Muitos funcionários atuais e antigos do DOJ se manifestaram em privado, demonstrando preocupação com o fato de que investigações e ações judiciais politicamente motivadas poderiam se tornar mais comuns. Durante seu primeiro mandato, Trump frequentemente expressou frustração com seus próprios indicados ao DOJ, que ele sentiu que não estavam cumprindo sua agenda de maneira adequada.
Agora, funcionários do DOJ relatam que estão se “planejando com segurança” diante do cenário de retaliação. Vários estão considerando a possibilidade de contratar advogados, refletindo um clima de depressão e incerteza em relação ao futuro. Aqueles envolvidos em investigações de alto perfil, como os processos relacionados à invasão do Capitólio, parecem estar particularmente apreensivos. Uma sensação de paralisia se instala à medida que as incertezas sobre a continuidade de suas funções se tornam palpáveis.
Um Retorno à história: Dificuldades e Conflitos no Departamento de Justiça
Os episódios tumultuados do primeiro mandato de Trump com seus advogados gerais estão frescos na memória. Desde a demissão da procuradora-geral interina Sally Yates por ter se recusado a defender uma ordem executiva controversa, até a ameaçada de demissão em massa de advogados que se opuseram a apoiar as alegações infundadas de Trump sobre fraudes eleitorais, o histórico de conflitos entre o ex-presidente e o DOJ é complexo e problemático. O ex-advogado-geral William Barr não escapou das pressões, sendo alvo de pedidos para investigar adversários políticos, culminando em sua saída após conflitos em relação às alegações de fraude de Trump nas eleições de 2020.
A busca de Trump por um novo advogado geral não é apenas uma questão de escolha de colaboradores, mas representa um teste do próprio sistema de justiça dos Estados Unidos. Se ele conseguir moldar o DOJ de uma maneira que atenda a suas ambições políticas, poderá mudar significativamente a dinâmica da política americana. O tempo dirá como esse drama se desenrolará e quais serão as consequências para a administração e a estrutura legal do país, mas não se pode negar que os capítulos futuros dessa história serão escritos sob a atmosfera de incerteza e tensão que envolvem cada movimentação no cenário político atual.