Aos 95 anos, Pat Levin está enfrentando diariamente uma nova realidade que a deixa inquieta e desanimada. A expectativa em relação às eleições de 2024 gerou um sentimento de medo que a persegue, como ela mesma descreve: “Deixou-me muito assustada”, revela Levin. Essa insegurança é alimentada pela possibilidade de que Donald Trump possa voltar à presidência, um pensamento que, para Levin, parece uma crescente possibilidade em seu horizonte. Isso se torna ainda mais angustiante por conta da derrota do senador democrata Bob Casey e da sua congressista, a também democrata Susan Wild em sua localidade.
Levin recorda seus primeiros contatos com a política, que remontam à época de Franklin Roosevelt. Neste contexto, ela já testemunhou muitos eventos históricos, desde a Guerra do Vietnã até o Watergate e os ataques de 11 de setembro. Contudo, ela sente que o momento atual carrega uma gravidade e uma ameaça única, comparável a nenhum outro. “Eu quero lutar”, afirma Levin, admitindo sua relutância, mas ciente de que não pode ficar inerte. “Acredito que não há como permanecer neutro. Uma vez que você opta pela neutralidade, é o opressor que vence e o oprimido que sofre”, reflete Levin em uma conversa recente.
Sendo uma democrata de longa data, Levin experimentou a insatisfação em tempos de Nixon, Reagan e Bush, mas nunca havia vivido uma sensibilidade tão intensa. Seus vizinhos republicanos a aconselham a relaxar, que tudo ficará bem, mas ela não confia nesses conselhos. “Vejo um homem que não — ou melhor, um regime que não está prestando atenção à nossa história e nossas normas”, diz com temor, destacando que não está tão assustada por si mesma, mas por aqueles que virão depois dela.
Recentemente, Levin se juntou ao projeto “All Over the Map”, uma iniciativa que busca capturar as experiências de diferentes grupos eleitorais durante a campanha de 2024. De acordo com pesquisas de saída, os eleitores acima de 65 anos são os mais propensos a votar e, embora nacionalmente Trump e a vice-presidente Kamala Harris tenham empatado com 49% cada, na Pensilvânia Trump teve uma leve vantagem com 52% dos votos desse grupo etário. Para Levin, isso desencadeia um questionamento profundo sobre o futuro e o legado que deixará.
Morando em Northampton County — um lugar tradicionalmente significativo na escolha de presidentes — Levin observa que a suas preocupações vão além da política. Ela aponta para uma percepção de retrocesso em direitos das mulheres, mentiras não desafiadas no discurso político e uma onda de desdém à civismo e às normas democráticas. “É aterrorizante pensar que Elon Musk possa ser considerado o presidente sombra”, lamenta. “Nunca tivemos que pensar assim antes.”
Assim como Levin, Marvin Boyer, um ativista comunitário de 75 anos, também se mostra perturbado com os resultados da eleição e a agenda de Trump. Contudo, apesar das inquietações, ele prefere adotar uma postura mais otimista, aguardando para ver se todas essas previsões se concretizarão. “Gosto de acreditar que nossos melhores anjos irão ressurgir”, diz Boyer, crente de que um mensagem de divisividade gerou uma ressonância com muitos eleitores.
Atualmente, ele se dedica a ações concretas em sua comunidade, organizando distribuição de refeições para o Dia de Ação de Graças em um centro comunitário local onde a reunião principal leva o nome de sua mãe. Boyer acredita que a solução reside nas causas locais e na ação comunitária. “Esta não será minha primeira decepção política”, afirma. Ele incentiva os demais a se unirem em organizações para criar uma mudança real e a se tornarem ativistas em suas comunidades. A determinação dele é admirável, mesmo diante das dificuldades que enfrenta.
Enquanto isso, o movimento denominado “resistência silenciosa” começa a ganhar forma com pessoas como Darrell Ann Murphy, uma participante ativa do grupo de Boyer, que após o resultado das eleições decidiu canalizar sua decepção em qualquer atividade que seu coração pedisse. Murphy, de 84 anos, se dedica a ensinar Mahjong e expressa sua preocupação com os direitos reprodutivos, além do tom que considera tóxico do novo presidente. “Preciso sentir alguma esperança pelos meus filhos e netos e pela próxima geração”, diz Murphy, que há três semanas ainda lutava para entender o resultado eleitoral que a pegou de surpresa.
O jogo de Mahjong se tornou um espaço para debate e reflexão entre Murphy e suas amigas, que compartilham suas ansiedades sobre o futuro. Entre sorrisos e provocações amistosas, elas discutem sobre a situação política atual e a polarização, refletindo sobre como essa divisão tem impactado cada família e relacionamento. Aita, uma apoiadora de Trump, expressa um ponto de vista pragmático. Para ela, o que importa é a segurança e a situação financeira, já que acredita que Trump conseguirá prover isso, enquanto Long complica a conversa ao trazer a moralidade de suas escolhas. Murphy concorda que essa divisão está afetando duramente os laços sociais. “É horrível, está afetando cada família”, conclui.
Com essa divisão em mente, Aita sugere que todos devem seguir em frente e esperar por um novo ciclo eleitoral. A contestação é acirrada, mas no final, reconhecem que o diálogo é necessário. Eles percebem que o respeito mútuo e a escuta ativa são vitais neste cenário político polarizado. “Se ainda estivermos aqui, ainda poderemos debater sobre isso ao longo dos próximos quatro anos”, sugere Murphy, com um tom leve e esperançoso. Afinal, entre as incertezas, um ponto permanece claro: os cidadãos ainda aspiram a respeitar os princípios que unem a sociedade.