Em uma ação ousada que une tecnologia ao esforço pela justiça, a polícia de Amsterdam apresenta um holograma perturbador em plena zona vermelha da cidade, no intuito de reabrir as investigações sobre o brutal assassinato de Bernadett “Betty” Szabo, morta em 2009. A imagem holográfica da jovem, vestida de forma sugestiva e com um tatuagem de dragão, interage com os transeuntes, com a palavra “HELP” surgindo na tela, clamando por atenção e respostas.
Localizada à beira de um canal em De Wallen, o famoso bairro onde trabalhavam as “janelas” das prostitutas, muitos se aproximam do holograma, criando um local de reflexão e, quem sabe, revelações. A criação dessa representação tridimensional não é apenas um artifício tecnológico; é uma esperança de que, finalmente, alguém se lembre de detalhes que poderiam levar à resolução desse crime hediondo, conforme declarado pelo porta-voz da polícia, Olav Brink, à agência AFP.
Betty, que na época tinha apenas 19 anos, foi assassinada de forma brutal em seu quarto de trabalho, apenas alguns meses após dar à luz a um menino. A brutalidade do crime e a aparente falta de testemunhas deixaram a polícia sem respostas, levando o caso a se tornar um dos muitos que se tornaram ‘frios’ na longa lista de investigações não resolvidas. Contudo, uma reavaliação do caso trouxe à tona “pistas promissoras”, resultando na inédita decisão de utilizar um holograma como uma nova forma de chamar a atenção para o caso. A esperança é de que a figura de Betty possa evocar lembranças em indivíduos que, sem dúvida, estavam nas proximidades no dia do crime.
Um Clamor por Justiça e Por Vidas de Mulheres nas Ruas
Fazendo eco a esse clamor, membros da equipe responsável pelo caso, como Anne Dreijer-Heemskerk, fazem um apelo direto à comunidade, sugerindo que testemunhas que antes temiam se manifestar, agora podem encontrar a coragem para compartilhar informações. Pondera-se que, mesmo em uma das áreas mais movimentadas de Amsterdam, é praticamente inconcebível que ninguém tenha visto ou ouvido algo que possa ajudar a esclarecer o que ocorreu naquela noite fatídica.
A ação com o holograma se insere em um contexto maior de conscientização sobre a violência enfrentada por trabalhadores sexuais. Segundo um relatório de 2018, cerca de 78% das prostitutas nos Países Baixos relatam ter enfrentado violência sexual, e 60% já sofreram agressões físicas. A pandemia de Covid-19 exacerbou ainda mais essa situação, levando muitas a serem forçadas a trabalhar em condições ainda mais arriscadas e a relatar menos as agressões à polícia.
Desde que o holograma de Betty foi exposto, a polícia confirmou ter recebido diversas dicas úteis e está ansiosa por um que possa ser chamado de “dica de ouro”, que surge com uma recompensa de 30.000 euros, ou aproximadamente 31.600 dólares. Essa recompensa visa aqueles que tiverem informações que podem levar ao deslinde do caso que permanece em aberto, sem resolução.
A Intenção de Fazer História ao Reforçar a Memória
Brink comentou sobre como o holograma é uma “forma especial de chamar a atenção para este caso histórico”, levando em consideração a importância simbólica do local em que está instalado. Entretanto, a sustentabilidade dessa iniciativa enfrenta desafios, uma vez que a prefeitura de Amsterdam planeja deslocar a zona vermelha para um centro destinado na parte sul da cidade, com o intuito de diminuir a criminalidade e o turismo na zona tradicional. Essa mudança é amplamente desaprovada por habitantes e trabalhadores da região, que clamam por melhor controle de multidões e segurança em De Wallen, o que é considerado por muitos um local mais seguro e integrado à vida urbana da cidade.
Conforme os locais e visitantes se detêm para discutir essa instalação singular sob a bandeira “Quem foi Betty?”, essa história se transforma não apenas em uma busca por resolução, mas em um alerta sobre as vidas de outras mulheres na rua, como ressaltou Miranda K., uma moradora que se preocupa com o impacto da possível relocação das trabalhadoras sexuais.
A busca pelo esclarecimento do assassinato de Betty não acontece de forma isolada, mas se insere em um esforço mais amplo para solucionar crimes não resolvidos não apenas nos Países Baixos, mas em toda a Europa. Em uma campanha recente, a Interpol lançou uma iniciativa para identificar 46 mulheres cujos restos mortais foram encontrados em casos não solucionados, ampliando seus esforços após o sucesso do programa anterior, que resultou na identificação de várias vítimas históricas. Esta interconexão destaca a urgência e a significância da memória coletiva e da busca pela justiça, refletindo as muitas vozes que clamam por reconhecimento e respeito no contexto da violência contra mulheres na sociedade atual.