A Coreia do Norte está em processo de expansão de uma fábrica de armas que produz mísseis utilizados pela Rússia em suas operações militares na Ucrânia, conforme revelações de um think tank baseado nos Estados Unidos. Tal informação levanta preocupações sobre o aprofundamento das relações militares entre Pyongyang e Moscou, uma questão que já ecoa nas discussões internacionais. A fábrica em questão, localizada na segunda maior cidade do país, Hamhung, é conhecida por sua produção dos mísseis KN-23 (Hwasong-11A) e KN-24 (Hwasong-11B). Este movimento de expansão acontece em meio ao aumento das tensões na Europa Oriental, especialmente com uma recente escalada nos ataques russos a alvos na Ucrânia, muitos dos quais estão utilizando esses armamentos norte-coreanos.

A instalação, visitada em diversas ocasiões pelo líder norte-coreano Kim Jong Un, já foi proclamada pela mídia estatal do país como uma produtora em massa de mísseis táticos. As autoridades ucranianas relataram que aproximadamente um terço dos mísseis balísticos que atingiram a Ucrânia nas últimas semanas foram originados na Coreia do Norte, destacando a importância deste país no atual cenário bélico. Com o péssimo panorama que se desenha, a situação se torna ainda mais alarmante à medida que novas imagens de satélite indicam a construção de um novo prédio na fábrica de Hamhung destinado à montagem final dos mísseis, além de acomodações adicionais para os trabalhadores.

Em uma análise feita por Sam Lair, pesquisador do Centro de Estudos de Não Proliferação, a expansão dessa instalação reflete uma tentativa clara de aumentar a capacidade produtiva. “Parece que eles estão tentando aumentar a produção além do que originalmente estabelecido”, observou Lair, que também ressaltou que a ampliação da planta começou em 2020, incluindo melhorias constantes, como reforma de estruturas antigas e substituição de telhados danificados. No entanto, a construção desse novo edifício de montagem indica um verdadeiro esforço para não apenas aprimorar os elementos da linha de produção, mas para expandi-la substancialmente.

Além disso, a ampliação da força de trabalho na fábrica é uma outra evidência da escalada na capacidade produtiva. A análise das imagens de satélite obtidas em outubro pela Planet Labs sugere que novos apartamentos estão sendo construídos perto da fábrica para acomodar os trabalhadores, uma movimentação que demonstra o comprometimento do regime norte-coreano com a indústria de defesa. Lair estima que a nova instalação de montagem será de 60% a 70% do tamanho do edifício original, o que gera indagações sobre a capacidade real de produção futura, diante do atual cenário bélico.

Na própria Coreia do Norte, a fábrica faz parte do Complexo de Máquinas Ryongsong, que fabrica, além de mísseis, outros itens como projéteis para lançadores múltiplos, reforçando ainda mais a capacidade militar do regime. As imagens divulgadas pela mídia estatal KCNA mostram Kim Jong Un inspecionando as instalações, mas recentemente, essa cobertura foi excluída da mídia oficial, levantando questões sobre a transparência e o grau de compartimentação da informação no país.

Impacto dos mísseis KN-23 em ataques na Ucrânia

A situação na Ucrânia se agrava, com a Rússia tendo disparado cerca de 60 mísseis KN-23 de origem norte-coreana em 2024. Tais ataques resultaram em um saldo trágico, com ao menos 28 fatalidades e 213 feridos, segundo o procurador geral da Ucrânia. Este intenso uso dos mísseis norte-coreanos não é apenas uma questão de tecnologia militar, mas também uma questão ética e política, considerando o contexto de guerras modernas e as ações de sanções internacionais.

Acredita-se que componentes cruciais utilizados nos mísseis são fabricados por nove produtores ocidentais, apesar das sanções impostas sobre a Coreia do Norte. De acordo com um relatório da Comissão Independente Anticorrupção da Ucrânia, empresas situadas nos Estados Unidos, Holanda e Reino Unido estão entre essas fabricantes. Moscou e Pyongyang repetidamente negaram exportar armas um para o outro, mesmo diante das evidências crescentes que contradizem essas afirmações. Esse cenário tem alimentado preocupações entre os observadores sobre possíveis violações de sanções internacionais que permitiriam à Rússia apoiar o desenvolvimento do programa de satélites militares da Coreia do Norte.

As relações entre Rússia e Coreia do Norte se tornaram intensas desde que as duas nações assinaram um pacto de defesa histórico, prometendo assistência militar mútuo no caso de um ataque. Com a adição de tropas norte-coreanas aos esforços de Moscou em suas tentativas de retomar a região de Kursk, que foi capturada pelas forças ucranianas, a dinâmica do conflito se torna ainda mais complexa e alarmante.

O que se desenha, em última análise, é um ciclo de militarização e dependência entre esses dois estados autocráticos, onde a combinação de tecnologia bélica e estratégias militares pode resultar em consequências devastadoras para a segurança regional e global. E, enquanto a comunidade internacional observa de forma cautelosa, fica a pergunta: até onde vão essas alianças e o que mais está por vir neste jogo de poder?

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