[Esta história contém grandes spoilers do finale da temporada de ‘Sweetpea’.]
A série de comédia dramática sombria da plataforma Starz, ‘Sweetpea’, baseia-se na série de livros de mesmo nome da autora inglesa CJ Skuse. No entanto, a produção protagonizada por Ella Purnell não se trata exatamente de uma adaptação dos romances, mas sim de uma prequela que detalha a transformação de Rhiannon Lewis, uma assistente administrativa tímida, em uma repórter calculista que usa seu trabalho no jornal ‘The Gazette’ para frustrar seus colegas e a polícia, enquanto uma sequência de assassinatos impulsionados pela raiva e pelo luto se desenrola. Essa narrativa nos instiga a pensar sobre o que leva uma pessoa a cruzar limites éticos, tudo sob uma perspectiva que mistura humor e horror.
A proposta da série é intrigante. Em menos de uma temporada, vemos Rhiannon eliminando os “maus” de sua vida – e deixam sua marca ao longo do caminho. Contudo, no chocante finale da primeira temporada, ela se volta contra AJ (Calam Lynch), seu colega de trabalho e um dos poucos que realmente a vê, tornando-o sua quarta vítima. Essa escolha não apenas marca um ponto de virada na série, mas também apresenta uma nova faceta da identidade de Rhiannon, a qual a protagonista terá que confrontar, caso a série continue.
Segundo a criadora e produtora executiva Kirstie Swain, a decisão de fazer AJ a quarta vítima era essencial para mostrar que as consequências de seus atos finalmente pesavam. “Até esse ponto, nenhum dos assassinatos realmente lhe custou algo. Eles, na verdade, a ajudaram a se sentir melhor consigo mesma. Precisávamos que uma dessas mortes realmente tivesse um custo”, explica Swain. Agora, a série se vê em uma encruzilhada, onde as ações de Rhiannon precisam ser pesadas e ponderadas.
A dinâmica entre a protagonista e suas vítimas, além disso, nos leva a questionar os limites da moralidade. Rhiannon justifica suas ações como punindo aqueles que merecem, mas ao eliminar AJ, ela escancara sua própria fragilidade moral. “A parte de Rhiannon que tem medo de si mesma finalmente toma forma”, afirma Swain, revelando o lado mais profundo da narrativa.
O processo de adaptação do material original foi longo e complexo, em parte devido à pandemia. Swain começou a leitura do livro e percebeu que precisava criar um novo enfoque, longe do que já havia sido feito. A autora se afastou de algumas temáticas que já estavam saturadas no cenário televisivo, como a ‘vingança às mulheres’. Em vez disso, ela optou por explorar a origem do personagem, retratando a transformação de Rhiannon de uma pessoa comum em alguém extraordinário – embora não da melhor maneira possível. Essa abordagem ressoou com muitos espectadores, que se identificaram com a sensação de se sentir ignorado, um tema recorrente na vida cotidiana.
A criação de personagens que são multifacetados é um dos maiores trunfos de ‘Sweetpea’. Personagens como a rival de Rhiannon, Julia, e Marina, outra mulher complexa na série, refletem a luta e a busca por reconhecimento que muitas mulheres enfrentam. Porém, a escolha de Rhiannon de não se vingar de mulheres que a prejudicaram, mas sim direcionar sua ira a homens que cruzam seu caminho, levanta questões profundas sobre a natureza da justiça e se essa avaliação é realmente justa.
Diante de reações mistas da crítica e do público, Swain admite que é impossível agradar a todos. “Com qualquer obra que chega ao público, você não pode agradar a todos. Estou tentando ignorar as críticas não tão agradáveis e focar nas boas”, disse Swain, ressaltando que mesmo as respostas desfavoráveis indicam que as pessoas estão interessadas e assistindo à série, o que, em última análise, é o objetivo de qualquer criador.
O impacto que a série gera vai além da tela, forçando os espectadores a refletirem sobre tópicos que são, por natureza, desconfortáveis. A segunda temporada, embora ainda não confirmada, promete trazer ainda mais complexidade e profundidade à história e seus personagens, algo que tanto a crítica quanto os fãs aguardam ansiosamente.
A primeira temporada de ‘Sweetpea’ já está disponível para streaming no aplicativo Starz, e, como todas as melhores histórias, deixa uma impressão profunda, ansiosa por um novo capítulo que poderá continuar a saga de Rhiannon e suas complexas decisões morais.