O setor de folhas de pagamento pode ser um verdadeiro labirinto em qualquer país, mas no Brasil essa tarefa se torna ainda mais desafiadora, principalmente devido às constantes mudanças nas leis trabalhistas e à forte influência dos sindicatos que tornam o processo ainda mais complicado. Fernando Gadotti, cofundador e CEO da DogHero, a versão latino-americana da Rover, enfrentou essas dificuldades de perto. Após a venda da DogHero em 2020 e sua saída da empresa em 2022, Gadotti decidiu que era hora de se dedicar a um novo projeto que abordasse essas questões complexas. Assim nasceu a Tako, uma startup brasileira que se propõe a transformar a gestão do ciclo de vida dos funcionários.
No desenrolar do seu relato a Gadotti menciona: “A cada vez que a folha de pagamento chegava, era uma luta. Havia muitas horas gastas apenas revisando os dados, e não conseguíamos obter as informações necessárias”. Segundo o CEO, na medida em que a empresa crescia, ficou evidente que esses problemas não eram apenas incômodos, mas estavam efetivamente atrasando o progresso da companhia, levando a uma enorme perda de tempo com tarefas repetitivas.
Passados apenas alguns meses após deixar a DogHero, Gadotti deu início ao desenvolvimento da Tako, uma plataforma baseada em São Paulo que visa automação de tarefas como a admissão de funcionários e a gestão da folha de pagamento, centralizando todas as informações dos colaboradores em um só lugar. A Tako também oferece aos empregados um painel para visualização de informações e um contracheque interativo que visa aumentar a transparência, uma questão cada vez mais valorizada pelos trabalhadores.
Gadotti destaca que, embora existam empresas tradicionais de folha de pagamento operando no Brasil, como a ADP, a necessidade de uma solução local se faz premente devido à singularidade do sistema de pagamento brasileiro. Ele explica que as leis relacionadas à folha de pagamento mudam frequentemente, e o Brasil possui cerca de 10.000 sindicatos, sendo comum que as empresas possuam funcionários em mais de um deles. Essa dinâmica exige que os sindicatos atualizem suas regras algumas vezes ao ano, muitas vezes adquirindo mais poder do que as próprias leis.
A Tako utiliza um modelo de linguagem grande (LLM) para lidar com essas constantes mudanças. Esse modelo processa dados sobre as leis trabalhistas e regras sindicais, permitindo que os desenvolvedores da Tako mantenham a base de código atualizada. Gadotti enfatiza a importância de manter os humanos na equação para garantir a precisão, mas ressalta que o uso do LLM proporciona um ganho importante em eficiência.
Lançando oficialmente seu produto em 2023, Gadotti afirmou que a Tako já processou dezenas de milhões de dólares em folhas de pagamento enquanto operava em modo stealth, embora tenha optado por não compartilhar muitos detalhes sobre sua base de clientes. Ele ainda revelou que a startup está focando empresas de médio porte nos setores profissional e financeiro, com uma faixa entre 100 e 500 empregados.
A estratégia utilizada pela Tako é clara: “Não estamos tentando conquistar o mundo de uma vez. Queremos começar em um segmento que conhecemos antes de nos aventurarmos em áreas mais complexas”, declarou Gadotti. A empresa planeja começar com segmentos mais simples e, à medida que evolui, migrar para setores mais complexos no futuro próximo.
Com sua recente rodada de investimentos que totalizou US$ 13,2 milhões, co-liderada pelo Ribbit Capital e Andreessen Horowitz, a Tako está pronta para alçar novos voos. Esse montante também contou com a participação da ONEVC e dos fundadores da Ramp. O CEO da startup informou que a maior parte desse capital será destinada à pesquisa e desenvolvimento, com a meta de dobrar ou triplicar a equipe de R&D.
Embora a Tako tenha planos de expansão em potencial, como a inclusão de benefícios para os funcionários, Gadotti salientou que a companhia se compromete em ouvir as dores de seus clientes e entender onde pode atuar de forma mais eficaz. O ecossistema de tecnologia de recursos humanos no Brasil também apresenta uma competição acirrada, com startups como Gupy e Caju atuando em áreas distintas de gestão de pessoal. Contudo, se a Tako decidir penetrar nesses campos, a competição deverá se intensificar.
O nome Tako, que significa “polvo” em japonês, é uma metáfora que Gadotti usa para descrever a natureza do negócio. A plataforma é vista como o cérebro dos dados dos funcionários, com seus tentáculos alcançando diversas áreas da gestão de pessoal. “Nossa intenção é focar em todo o ciclo de vida do colaborador”, conclui Gadotti, reafirmando o compromisso da Tako em moldar um futuro mais eficiente e transparente para a gestão de folha de pagamento no Brasil.