A trajetória de Geoffrey Mason, que mal passava de 30 anos e trabalhava como função de controle durante os Jogos Olímpicos de Munique em 1972, foi marcada por um evento que mudaria a história da televisão. Naquele fatídico dia, um grupo de atletas israelenses foi sequestrado no vilarejo olímpico, e era em grande parte responsabilidade de Mason decidir o que o mundo veria sobre essa tragédia. Sem pressão, não é mesmo?
Mais de cinquenta anos depois, Mason é o foco do filme September 5, cuja estreia está marcada para 29 de novembro. A produção da Paramount Pictures, que busca uma indicação ao Oscar, retrata um dia em que o terrorismo global, a angústia do país-sede e a ética da mídia colidiram de forma dramática. John Magaro interpreta Mason em uma performance que promete ser marcante, retratando um produtor que, em meio à crise, precisa enfrentar não apenas questões éticas, mas também sua própria pressão interna.
“Não consigo descrever a velocidade com que os eventos estavam se desenrolando naquela sala”, conta Mason. “Cada minuto trazia um novo desafio.” A equipe da ABC trabalhou por 22 horas seguidas em um espaço apertado, onde a cobertura do sequestro se tornaria um marco na história da televisão ao vivo.
Em uma conversa por telefone de sua casa em Napoles, Flórida, Mason exala uma humildade contagiante, falando com um tom sereno, embora levemente autocrítico. Ele sempre foi o tipo de profissional que se encantava com a escolha de ângulos de câmera que poderiam capturar a emoção da cena perfeitamente — e essa paixão por imagem e som perdura após 57 anos de experiência em produção esportiva, que inclui a cobertura de sete Olimpíadas e um Super Bowl, além de sua indução ao Hall da Fama da Radiodifusão Esportiva.
No entanto, mesmo com esse extenso currículo, Mason mantém um respeito especial pelo que ocorreu naquele dia de setembro, quando a possibilidade de mostrar um desastre em tempo real revoluciou a forma como a mídia cobria eventos. Antes deste dia, a história era relatada apenas após o fato, mas agora, a câmera estava lá, capturando cada segundo. A responsabilidade que Mason sentiu ao decidir onde a lente seria direcionada nunca saiu de sua memória.
“Tínhamos uma quantidade limitada de câmeras ao vivo naquele dia, então a possibilidade de capturarmos um momento trágico não era garantida. Mas, por outro lado, talvez o objetivo fosse justamente mostrar isso?” Mason reflete, debatendo as questões que surgiram naquele dia histórico. “Podemos mostrar alguém sendo baleado ao vivo na televisão?”, uma pergunta que ressoou em sua mente à medida que ele encarava a realidade da transmissão.
Tendo servido na Marinha, nada o preparou para a intensidade dos eventos que se desenrolaram diante de seus olhos. Anteriormente, ele tinha coberto eventos nas tranquilas águas do iatismo, mas a tensão dramática e a responsabilidade que enfrentou na sala de controle era completamente diferente.
A função de Mason, sob a orientação da lenda da ABC Sports Roone Arledge, era entregar a cobertura ao vivo dos eventos trágicos, enquanto terroristas mascarados do grupo Setembro Negro aguardavam do lado de fora. O resultado trágico resultou na morte de nove atletas e de um policial alemão ocidental em uma tentativa de resgate mal-sucedida, eventos que atraíram a atenção de um público global. Aproximadamente um bilhão de pessoas, equivalente a quase um quarto da população mundial, testemunharam a cobertura em tempo real.
Mason se lembra de quando conheceu os cineastas Philipp Trauer e Tim Fehlbaum, que tinham a visão de fazer um filme ambientado completamente naquela sala de controle durante aquele dia fatídico. Ele compartilhou suas experiências com eles, destacando o dilema moral que sentia ao estar em uma posição em que decisões graves precisavam ser tomadas em questão de segundos.
As manobras que a equipe realizou para transmitir ao vivo metade das situações foram de tirar o fôlego. Se fossem retratadas em um filme de ação, poderiam ser consideradas exageradas, mas a verdade era que aquilo realmente aconteceu.
“Recordo-me da expressão no rosto de [Howard] Cosell após uma tentativa de entrar no [vilarejo] olímpico. Ele dizia ‘Mase, eles não me deixarão voltar’. Eu disse a alguém: ‘Vá pegar o uniforme de um atleta e coloque nele.’ Cosell não era um atleta.” A improvisação foi uma constante, com Mason movendo câmeras de seu controle para capturar a cena trágica do sequestro.
A intensidade da sala de controle era palpável; a pressão aumentava a cada novo desenvolvimento. Quando a tentativa de resgate falhou, Mason e sua equipe tiveram que lidar com a devastação de comunicar a notícia aos espectadores e diretamente às famílias afetadas. A dor da perda ainda persegue Mason, e ele pondera sobre essa transformação. “Em um instante, estávamos aqui tentando contar histórias emocionantes de atletas que tinham como propósito a celebração do esporte, e subitamente estávamos levando notícias devastadoras a suas famílias,” ele lembra.
Com o tempo, o sentimento de tristeza se tornou parte de sua trajetória. Após uma batalha contra o alcoolismo que durou duas décadas, Mason tornou-se sóbrio em seus quarenta anos. Ele decidiu fundar a Win Back Your Life, uma organização que oferece um suporte atencioso para aqueles que estão lutando com problemas relacionados ao vício. Essa luta o aproximou de instituições de recuperação, onde se tornou amigo de Betty Ford, uma lendária figura na luta contra a dependência.
Mason também participou ativamente na cobertura de eventos monumentais posteriores, como a final de Wimbledon entre Borg e McEnroe em 1980 e o terremoto que atingiu São Francisco durante a World Series em 1989. No entanto, para Mason, tudo ainda gira em torno daquele dia 5 de setembro de 1972, onde as vidas e as histórias foram tragicamente alteradas para sempre. Ele observa como o mundo da transmissão mudou. Atualmente, qualquer pessoa com um celular pode transmitir a vida, tornando-se um “Mason” no dia a dia, enfrentando as constantes perguntas éticas sobre o que, onde e como transmitir.
A sabedoria que Mason compartilha é que, ao cobrir tais histórias, a integridade deve ser a prioridade máxima. Ele se preocupa profundamente com jornalistas que agem precipitadamente e muitas vezes sem uma pesquisa adequada, um alerta considerando que ele mesmo experimentou o que a velocidade na transmissão pode causar. Hoje, ele ainda trabalha em sua empresa de produção esportiva, firmemente focado em permanecer relevante sem se deixar levar pela turbulência da indústria.
Ao refletir sobre o impacto de seu trabalho e a evolução das técnicas de transmissão, Mason se mostra consciente de seu papel na história. Ele ainda não postou muito em redes sociais, mas sua contribuição na formação da era da transmissão ao vivo permanece inegável. Enquanto a sociedade continua a navegar pelos dilemas da comunicação ao vivo, Mason porta uma bagagem pesada de experiência que orienta a forma como interpretamos a mídia hoje.
O legado de Geoffrey Mason nos lembra da responsabilidade que carregamos ao contar histórias cruciais, refletindo sobre as lições do passado e atualmente enfrentando os desafios do mundo em rápida evolução. Encontrar equilíbrio e verdade nas narrativas, mesmo acontecendo há muitos anos, ainda é fundamental, assim como entender o impacto que esse dia teve na forma como consumimos informação. Se Mason teve alguma dúvida há anos atrás, agora é possível concluir que, em um mundo repleto de incertezas, uma história bem contada ainda é o maior de todos os legados.