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Tbilisi, Geórgia
AP
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Recentemente, a Geórgia anunciou sua decisão de suspender as tratativas para adesão à União Europeia por um período de quatro anos, uma medida que foi criticada como uma resposta a uma suposta “extorsão e manipulação” por parte de alguns políticos da UE. O primeiro-ministro do país, Irakli Kobakhidze, fez o anúncio em Tbilisi, o que imediatamente provocou uma onda de protestos e a indignação da oposição.
A decisão de Kobakhidze seguiu sua reeleição como chefe do partido governista Georgia Dream, após conturbadas eleições parlamentares que ocorreram no mês passado. O resultado das eleições, que muitos observadores consideraram uma tentativa da Rússia de manter a Geórgia sob sua influência, levou à suspensão do parlamento pela oposição. A certame eleitoral foi amplamente interpretada como um referendo sobre os anseios georgianos de adesão à União Europeia.
Após a votação, um relatório de observadores da UE destacou um ambiente eleitoral marcado por subornos, votos duplicados e violência física. Questões de credibilidade foram levantadas, uma vez que a oposição acusou o partido governista de manipulação, alegando que o processo não refletiu a vontade popular.
No passado mês de dezembro, a UE concedeu à Geórgia o status de candidato, porém, as negociações de adesão foram suspensas e o apoio financeiro foi cortado, após a aprovação de uma polêmica lei de “influência estrangeira”, considerada uma afronta às liberdades democráticas.
Em um tom firme, Kobakhidze expressou que, embora a Geórgia ainda tenha a intenção de buscar a adesão à UE, “não colocará o tema de abertura de negociações na agenda até o final de 2028”. Ele também anunciou que a Geórgia rejeitaria quaisquer subsídios da União Europeia durante esse mesmo período.
A resposta à declaração do primeiro-ministro foi rápida, com milhares de manifestantes se reunindo em frente ao Parlamento na capital georgiana, Tbilisi, além de manifestações em outras cidades. A indignação deu voz a um povo que, em sua maioria, ainda aspira à integração europeia. O descontentamento foi exacerbado quando o Parlamento Europeu condenou as eleições de outubro como nenhuma livre e justa, exacerbando a crise política que a Geórgia enfrenta atualmente.
Os parlamentares europeus pediram a repetição da votação sob supervisão internacional rigorosa e exigiram sanções contra o governo georgiano, o que apenas intensificou as tensões. Em uma resposta contundente, o primeiro-ministro denunciou o que considerou uma “cascata de insultos” de políticos da UE, acusando-os de transformar o Parlamento Europeu em uma “arma de extorsão” contra sua nação.
“Continuaremos nosso caminho em direção à União Europeia”, ressaltou Kobakhidze, “contudo, não permitiremos que ninguém nos mantenha em um estado constante de extorsão e manipulação”. A retórica, além de firme, parece refletir um crescente descontentamento com o discurso europeu em relação à Geórgia, que tem aprofundado o abismo entre o governo e a oposição.
Por sua vez, críticas ao partido Georgia Dream aumentam, com muitos acusando seu líder, Bidzina Ivanishvili, de estar se tornando cada vez mais autoritário e de se alinhar ao Kremlin. Durante a denúncia do governo, o presidente Salome Zourabichvili, cujo mandado se encerra no próximo mês, expressou sua rejeição aos resultados da eleição, classificando-os de ilegítimos e as políticas atuais como uma “guerra contra o nosso futuro”.
A Geórgia, que já foi vista como um exemplo de transição democrática pós-soviética, agora enfrenta um futuro incerto. Observadores internacionais se preocupam que a crescente influência russa e a erosão das instituições democráticas possam permanentemente desviar a nação de suas aspirações ocidentais. No último ato desse teatro político, o governo georgiano nomeou um novo candidato à presidência, com o partido governista segurando uma posição forte e extremamente favorável.
O futuro da Geórgia no cenário internacional não depende apenas de suas escolhas internas, mas também da resposta da comunidade internacional, especialmente da União Europeia, que precisa reconsiderar sua estratégia em relação a um país que continua buscando uma posição firme entre o Ocidente e a influência russa.
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