Recentemente, o governo do Reino Unido manifestou interesse em endurecer as regras atuais de segurança online, considerando a possibilidade de uma proibição às redes sociais para crianças menores de 16 anos. O secretário de tecnologia, Peter Kyle, destacou que “tudo está na mesa” quando questionado sobre a potencial restrição durante uma entrevista ao programa Today da BBC Radio 4. Essa conversa ocorre em um contexto marcado pela crescente preocupação sobre a influência das redes sociais nas mentes jovens, especialmente após um incidente trágico que resultou na morte de três meninas e que levantou dúvidas sobre o papel da desinformação online nos eventos de violência que se seguiram.
A discussão sobre a utilização de redes sociais entre os mais jovens é, sem dúvida, um tema delicado, mas a relevância do assunto se amplia quando se considera a incidência de jovens entre aqueles processados por envolvimento em tumultos relacionados. O Ministério da Ciência, Inovação e Tecnologia (DSIT) delineou suas prioridades para a aplicação da Lei de Segurança Online (OSA), aprovada pelo Parlamento no ano passado, focalizando a segurança infantil desde o início da agenda.
prioridades estratégicas em matéria de segurança online
A Lei de Segurança Online abrange uma série de danos online, incluindo bullying, discurso de ódio, abuso de imagens íntimas e anúncios fraudulentos. Os legisladores do Reino Unido expressaram seu desejo de tornar o país o local mais seguro para a navegação na internet. O DSIT identificou cinco áreas estratégicas de foco para a OSA, colocando a segurança infantil em primeiro lugar:
A primeira prioridade é “Segurança por design”, que implica a incorporação de medidas de segurança nas experiências online, especialmente para as crianças. A segunda prioridade envolve “Transparência e responsabilização”, exigindo que as plataformas demonstrem sua responsabilidade em termos de resultados de segurança online. A terceira prioridade, “Regulação ágil”, busca manter um quadro regulatório que possa se adaptar a novas ameaças, como o conteúdo gerado por inteligência artificial. A quarta, “Inclusividade e resiliência”, propõe criar um ambiente digital que possa resistir a danos potenciais como a desinformação. Por fim, a quinta prioridade, “Tecnologia e inovação”, visa fomentar tecnologias de segurança online capazes de proteger os usuários e impulsionar a economia digital.
A menção à “desinformação ilegal” é particularmente significativa considerando que, anteriormente, o governo retirou cláusulas da proposta de lei que se concentravam nesse aspecto devido a preocupações com a liberdade de expressão. Contudo, os eventos violentos do verão último pressionaram o governo a reavaliar o poder da OSA e considerar endurecer suas diretrizes para abordar o uso de redes sociais durante esses incidentes.
Em um comunicado, o governo enfatizou a necessidade de aprender com os eventos traumáticos anteriores. “É essencial que responsabilizemos as plataformas pela parte que desempenham na segurança do ambiente informativo online do Reino Unido e na proteção do país contra futuras crises”, afirmou o comunicado. Além disso, a OSA expressa uma preocupação específica com a vastidão de informações incorretas disponíveis online, instando plataformas a adotarem políticas robustas para minimizar o conteúdo enganoso enquanto preservam o debate legítimo.
o estudo de viabilidade sobre redes sociais e crianças
Enquanto o governo prossegue com suas iniciativas de segurança online, o secretário Kyle também mencionou a importância de analisar evidências relacionadas às redes sociais e ao uso de smartphones por crianças, afirmando que um “estudo de viabilidade” está em andamento. Esse estudo tem como objetivo explorar os efeitos do uso de tecnologia nas crianças, contribuindo na pesquisa e fortalecendo as evidências necessárias para construir um ambiente online mais seguro.
Um relatório de 2019 do Médico Chefe do Reino Unido apontou que a base de evidências sobre a relação entre o uso de redes sociais, smartphones e a saúde mental das crianças era “insuficiente para fornecer conclusões robustas”. Kyle observou que existem suposições sobre o impacto das redes sociais, mas o país não possui ainda evidências firmes e revisadas por pares que possam justificar uma proibição. Essa recomendação por uma abordagem baseada em evidências reflete um reconhecimento da complexidade do problema.
Além disso, o governo tem implementado alterações significativas na OSA. Em setembro, foi anunciada a priorização de certos crimes, como o compartilhamento de imagens íntimas não consensuais. As plataformas agora são obrigadas a adoção de medidas proativas para eliminar essas práticas abusivas, enfrentando a possibilidade de multas elevadas em caso de não conformidade. Essa mudança visou não apenas prevenir tais abusos, mas também protegeu milhares de mulheres de experiências degradantes e potencialmente traumáticas que poderiam levar a consequências devastadoras em suas vidas.
A tarefa que o governo enfrenta é desafiante, mas a crescente pressão para garantir a segurança das crianças online continua a moldar o debate sobre as redes sociais e seu papel na sociedade contemporânea. Assim, enquanto o governo do Reino Unido avança em suas diretrizes, a responsabilidade recai sobre as plataformas digitais para criar ambientes seguros e regulados, permitindo que as novas gerações explorem o mundo digital sem riscos prejudiciais.