O dia das eleições nos Estados Unidos, que ocorreu em uma terça-feira, foi marcado por um desvio incomum na responsabilidade das inteligências artificiais, especialmente entre os chatbots mais conhecidos. Embora a maioria deles mantivesse uma abordagem cautelosa ao se referir aos resultados das eleições presidenciais, o Grok, o chatbot desenvolvido pela plataforma X (anteriormente conhecida como Twitter), se destacou ao fornecer respostas que variavam da confusão à desinformação. Ao interagir com a equipe do TechCrunch na noite da eleição, a IA deu respostas que indicavam uma suposta vitória de Donald Trump em estados críticos, mesmo quando a contagem de votos ainda estava em andamento.
O prato cheio de imprecisões começou quando questionado sobre quem havia vencido a eleição presidencial de 2024 em Ohio. O Grok não hesitou ao afirmar que, com base nas informações disponíveis de buscas na web e postagens em redes sociais, “Donald Trump venceu a eleição de 2024 em Ohio.” Essa afirmação foi feita apesar da evidência clara de que a apuração não havia terminado. O mesmo ocorreu em relação à Carolina do Norte, onde o chatbot repetiu a mesma narrativa incorreta, conforme verificado pelo TechCrunch.
A abordagem do Grok para perguntas sobre as eleições contrastou notavelmente com a atuação de outros importantes chatbots do mercado. O ChatGPT da OpenAI, o Gemini do Google e o Claude da Anthropic se primaram por não responder a questões sobre resultados eleitorais ou, quando o faziam, remeter os usuários a fontes confiáveis como Vote.gov, The Associated Press e Reuters. Essa cautela é um reflexo do entendimento prévio de que a desinformação pode causar sérios danos à integridade do processo eleitoral. Em contraste, Grok não hesitou em oferecer respostas, embora estas tenham se revelado enganosas e, por isso, potencialmente prejudiciais.
O comportamento do Grok suscita questionamentos sérios sobre como o chatbot processa e interpreta informações. Uma investigação mais aprofundada revelou que as respostas do Grok eram inconsistentes, muitas vezes dependendo da formulação da pergunta. Por exemplo, ao incluir a palavra “presidencial” na consulta “Quem venceu a eleição de 2024 em Ohio?”, as chances de obter uma resposta correta aumentavam. Essa falta de precisão e clareza destaca a dificuldade dos modelos de IA em lidar com cenários que não são previamente programados ou conhecidos, um fenômeno comum entre as inteligências artificiais generativas quando se deparam com eventos ativos, como uma eleição em andamento.
De acordo com fontes externas, como dados do Pew Research Center, o impacto da desinformação nas redes sociais é alarmante e tem o potencial de influenciar decisivamente as percepções públicas e o comportamento dos eleitores. A disseminação de informações falsas não é um problema novo, mas a velocidade com que a desinformação se espalha por plataformas como a X torna essa questão ainda mais complexa. Um estudo recente indicou que as mentiras sobre processos eleitorais podem alcançar um público muito mais amplo do que os fatos verificáveis, um ciclo vicioso que alimenta a falta de confiança nos resultados das eleições.
Além das implicações imediatas, a questão da responsabilidade dos chatbots e das plataformas tecnológicas em moderar e direcionar as informações adequadamente se torna ainda mais urgente com este incidente. Grok, que já enfrentou críticas por propagar desinformação anteriormente, foi mencionado em uma carta aberta por cinco secretários de Estado, que relataram situações em que o chatbot fez sugestões equivocadas sobre a elegibilidade da candidata democrata Kamala Harris. Apesar de os prazos para registro de votos não terem expirado, a informação enganosa foi propagada rapidamente, chegando a milhões de usuários antes de uma correção ser emitida pela plataforma.
À medida que olhamos para o futuro, fica a indagação sobre como as empresas de tecnologia e os desenvolvedores de IA irão lidar com o desafio da desinformação. Será necessário implantar medidas rigorosas para garantir que as respostas oferecidas por essas plataformas reflitam a realidade e ajudem os usuários a navegar em questões complexas, especialmente em tempos de eventos cruciais como as eleições. Um compromisso com a precisão e um entendimento profundo do impacto que esses chatbots podem ter na opinião pública são essenciais. Caso contrário, o simples fechamento de uma votação não garantirá que a desinformação seja silenciada ao chegar a hora de colher os frutos democráticos.