No cenário atual da indústria do entretenimento, onde o consumo global de conteúdos continua a crescer de forma exponencial, a imax se destaca ao adotar a inteligência artificial como uma ferramenta-chave para expandir a sua presença no mercado de conteúdo original. O movimento surge em um momento em que a demanda por conteúdos em idiomas não ingleses supera a de filmes e séries produzidos na tradicional língua de Shakespeare. Essa nova abordagem da imax não só visa alcançar um público mais diversificado, mas também aproveitar as oportunidades oferecidas pela evolução tecnológica que permeia todo o setor.

De acordo com um relatório da PwC, a indústria de entretenimento e mídia cresceu 5% em 2023, alcançando um total de 2,8 trilhões de dólares. Embora a expectativa seja de que este crescimento continue, a uma taxa anual composta modesta de quase 4%, elevando-se para 3,4 trilhões nos próximos cinco anos, a maior parte deste crescimento deverá vir do conteúdo em idiomas diversos. A rápida expansão do interesse por conteúdo em idiomas não ingleses, mesmo em mercados tradicionais como os Estados Unidos, Reino Unido, Austrália e Canadá, é notória. Somente no Reino Unido, a Netflix reportou um incremento de 90% na visualização de conteúdos não ingleses nos últimos três anos, evidenciando um cenário onde o multiculturalismo é cada vez mais valorizado.

A imax, uma renomada produtora canadense, famosa por suas salas de cinema de grandes dimensões e experiências cinematográficas imersivas, anunciou recentemente uma parceria com a startup baseada em Dubai, Camb.ai. A parceria busca utilizar modelos de inteligência artificial para escalar a localização de seus conteúdos originais, incluindo documentários. A Camb.ai já demonstrou competência em implementar tecnologia de dublagem e tradução em eventos esportivos ao vivo, como o Australian Open, a Eurovisão Sport e a Major League Soccer. Sua plataforma DubStudio oferece suporte para 140 idiomas, abrangendo até mesmo línguas de baixo recurso que não dispõem de grandes volumes de dados disponíveis online.

Em uma entrevista exclusiva, Akshat Prakash, co-fundador e CTO da Camb.ai, comentou sobre a visão singular da empresa: “Modelos como os da OpenAI e Anthropic têm uma perspectiva mais ampla da sociedade, buscando desenvolver aplicações que abrangem uma vasta gama de tarefas. Nós focamos em modelos especializados que são ajustados para atender a demandas muito específicas.” Essa estratégia reflete não apenas o conhecimento técnico, mas também um entendimento profundo das dificuldades linguísticas enfrentadas, como evidenciado pela experiência pessoal de Prakash, que cresceu na Índia e sempre lidou com desafios semelhantes relacionados à linguagem.

Os modelos da Camb.ai foram predominantemente pré-treinados com conjuntos de dados licenciados academicamente e que podem ser utilizados comercialmente, assegurando a integridade dos dados. O restante dos dados, cerca de 30%, é obtido através de parcerias iniciais com empresas que já utilizam as tecnologias de dublagem e tradução da startup. “Temos sido muito cuidadosos em evitar a prática de mineração de dados na internet, o que muitos concorrentes fazem, acreditando que podem se safar dessa abordagem por estar desenvolvendo um aplicativo que está ao alcance do consumidor”, destacou Prakash.

A tecnologia da Camb.ai se destaca por sua abordagem tridimensional que inclui modelos de base, infraestrutura de hospedagem e a interface do usuário pelo DubStudio. O modelo Boli é um grande avanço, pois gera texto traduzido a partir de fala e é capaz de preservar as sutilezas da comunicação. Após gerar o texto, o modelo Mars converte este texto de volta em fala, fazendo uso do sinal de áudio original para garantir que nuances da gravação original, como o som ambiente, sejam mantidas. Essa capacidade de traduzir fala em até 10 idiomas simultaneamente com apenas 20 a 30 segundos de latência, é um recurso que prevê a possibilidade de transmissão ao vivo, onde o atraso geralmente varia entre 30 e 40 segundos.

A imax planeja implementar as traduções em uma série de fases, começando com idiomas que possuem um maior suporte e demanda. O processo de implantação se segue a testes internos da tecnologia da Camb.ai em conteúdos originais da imax. Mark Welton, presidente da imax Global Theatres, ressaltou a importância da parceria, afirmando que “embora estejamos apenas no início, continuaremos a trabalhar em conjunto para explorar o potencial da tecnologia e como ela pode nos impulsionar ainda mais”. Ele também sugeriu que a intenção é otimizar os custos de tradução, ainda que detalhes específicos sobre essa economia não tenham sido divulgados.

Atualmente, a Camb.ai opera com uma equipe de 50 colaboradores e, em fevereiro, levantou 4 milhões de dólares em uma rodada inicial de investimentos, liderada pela Courtside Ventures. Para fortalecer sua posição no mercado e expandir seu quadro funcional, Prakash revelou que a startup está buscando fechar um investimento maior em uma rodada pré-Series A.

Diante desse panorama, a imax, ao adotar a inteligência artificial em suas operações, não apenas evidencia uma clara visão estratégica em um mercado em constante transformação, mas também sinaliza um futuro onde a diversidade linguística e cultural terá um papel cada vez mais central na criação e distribuição de conteúdo audiovisual. Resta-nos aguardar os próximos passos dessa colaboração, que promete remodelar a forma como consumimos cinema e entretenimento.

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