A construção de um novo navio de guerra na China está atraindo a atenção de especialistas militares em todo o mundo, especialmente devido ao seu design incomum e à sua construção em um momento de rápida expansão naval por parte do governo de Pequim. Imagens de satélite obtidas pela Planet Labs revelaram um navio em fase de construção no estaleiro Guangzhou Shipyard International, localizado na ilha Longxue, na província de Guangdong, sugerindo que a China está empreendendo a construção de uma nova classe de porta-aviões que pode ser a primeira de seu tipo no mundo.

um design inusitado para um porta-aviões inovador

O novo porta-aviões, descrito por alguns especialistas como de um formato e dimensões peculiares, é consideravelmente menor do que os porta-aviões tradicionais da China. Segundo Thomas Shugart, ex-comandante de submarino da Marinha dos Estados Unidos, essa embarcação pode ser classificada como um navio de pesquisa oceanográfica disfarçado de porta-aviões, em um contexto onde a dualidade civil-militar é cada vez mais explorada por Pequim. Essa construção suscita questionamentos acerca das intenções da China em usar recursos civis para potencializar suas capacidades militares.

As imagens de satélite, tiradas no dia 23 de outubro de 2024, mostram não apenas a singularidade deste novo porta-aviões, mas também ressaltam a moderna infraestrutura que a China tem usado para acelerar suas construções navais. A velocidade com que o país tem lançado novos navios, muitos deles dotados de tecnologia avançada, coloca a China em pé de igualdade com os Estados Unidos em termos de capacidade naval, especialmente em relação aos porta-aviões. O porta-aviões Fujian, que é o maior, mais moderno e poderoso já construído por Pequim, está aguardando sua entrada oficial na Marinha do Exército Popular de Libertação (PLAN) até 2026. Com 80.000 toneladas, o Fujian desbanca os dois porta-aviões ativos da China, o Shandong e o Liaoning, e se posiciona entre os porta-aviões superpotentes, categoria que apenas a Marinha dos Estados Unidos ostenta.

a montanha-russa da expansão naval chinesa

Além do inédito projeto do novo porta-aviões, a China tem mostrado progresso notável na construção do maior navio de assalto anfíbio do mundo, conhecido como Tipo 076. De acordo com o Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais, este navio possui um convés de voo que se estende por cerca de 260 metros de comprimento e 52 metros de largura, somando mais de 13.500 metros quadrados, o que equivale a quase três campos de futebol americano. A construção ágil e impressionante da China para aumentar sua frota naval colocam seu poderio marítimo em um novo nível, onde Pequim já possui mais de 340 navios de guerra.

O desenvolvimento desse novo porta-aviões, possivelmente híbrido, poderia significar um giro estratégico significativo nas ambições açambarcadoras da China para sua marinha. Com um foco crescente na chamada “fusão militar-civil”, os novos navios podem ser adaptados para missões tanto militares quanto de natureza civil, uma tática que pode proporcionar à PLAN uma vantagem operacional em situações onde o investimento em tecnologia militar convencional não seja necessário, especialmente em ambientes de baixo risco, de acordo com Carl Schuster, ex-diretor de operações do Centro Conjunto de Inteligência do Comando do Pacífico dos EUA.

implicações regionais e potenciais usos humanitários

A possibilidade de o novo porta-aviões servir como uma plataforma para drones ou helicópteros para a Guarda Costeira da China, que está cada vez mais atuando como uma força quase militar, expande as capacidades de vigilância dessa força nas águas distantes do Mar do Sul da China. Schuster acrescenta que a posse de uma plataforma de aviação seria um avanço significativo nas operações da Guarda Costeira, especialmente em contextos de aplicação da lei e controle de quarentena, como demonstrado em recentes exercícios militares em torno de Taiwan.

A China tem mostrado uma postura mais agressiva na região, frequentemente utilizando a força militar em suas reivindicações sobre o Mar do Sul da China, além de intimidar Taiwan, uma ilha que se autogoverna e que o Partido Comunista Chinês tem a intenção de anexar, se necessário à força. Neste contexto, o novo porta-aviões também poderia ser utilizado para fins humanitários, proporcionando assistência e evacuação em situações não bélicas, além de servir como um navio de suporte logístico e de reparo em operações anfíbias depois de uma área já ter sido assegurada.

exercícios navais: o crescimento da capacidade naval chinesa

Recentemente, em uma demonstração do crescente poderio naval da China, o Liaoning e o Shandong realizaram seus primeiros exercícios com duas plataformas de porta-aviões em outubro. Esses exercícios, que ocorreram no Mar do Sul da China, tiveram como objetivo principal “melhorar a capacidade de combate integrado das formações de porta-aviões.” Tal desenvolvimento representa mais um sinal das capacidades marítimas em evolução da PLAN e possibilita uma maior complexidade nas operações navais, com especial foco na logística e na coordenação das comunicações entre os navios envolvidos.

Os exercícios não somente ampliam o conhecimento de táticas entre as duas embarcações, mas também oferecem uma visão sobre a interoperabilidade e a eficácia das operações conjuntas. De acordo com especialistas, tais manobras são essenciais para fortalecer as capacidades ofensivas e defensivas da Marinha, reforçando sua presença e influência nas águas disputadas do Mar do Sul da China.

o futuro do poder naval da china

Com um investimento significativo e uma clara estratégia de expansão naval, a China está se afirmando como uma superpotência marítima, desafiando não apenas a região do Indo-Pacífico, mas também implementando tecnologias e táticas que podem alterar o equilíbrio de poder global. Enquanto a construção de um novo porta-aviões com características únicas sinaliza uma nova fase na evolução da frota, a contínua evolução da capacidade operacional e adaptação da Marinha aos novos desafios geopolíticos permanecerá central nos próximos anos. Assim, o olhar atento dos especialistas e das nações vizinhas continuará focado nas águas movimentadas que cercam a China.

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