A luta para impulsionar a agenda climática nos Estados Unidos tem se tornado cada vez mais desafiadora, especialmente em um cenário político marcado por divisões acentuadas. O ex-presidente Donald Trump, que evidentemente recebeu forte apoio em estados dependentes de combustíveis fósseis durante as eleições mais recentes, promete reverter muitos dos avanços feitos pelo governo Biden na área de energia limpa e redução de emissões. Isso levanta questões sobre como os investimentos em energias renováveis, que têm proliferado em regiões tradicionalmente republicanas, poderão resistir à pressão política e moldar o futuro energético do país.
A expressão “bloqueio marrom” tem sido utilizada para descrever o fenômeno de estados fortemente integrados à economia do petróleo e gás, os quais tendem a apoiar candidatos republicanos que se opõem a ações federais destinadas a combater as mudanças climáticas. Durante as últimas eleições, Trump conquistou 26 dos 27 estados que mais dependem de combustíveis fósseis, sublinhando sua robustez política nas regiões que emitem mais carbono. Essa realidade sugere que tanto suas promessas de desmantelar a agenda climática de Biden quanto os sucessos do Partido Republicano no Senado foram fortemente influenciados por essa base eleitoral.
Todavia, nem tudo é tão simples. Apesar da significativa resistência política, um novo fenômeno está emergindo: investimentos em energia limpa, incluindo energia eólica e solar, bem como veículos elétricos e os componentes necessários para sua produção, que têm fluído predominantemente para estados controlados por republicanos. Iniciativas como a Lei de Redução da Inflação, promovida por Biden, têm contribuído para esse fluxo de capitais, o que pode representar uma oportunidade única de consolidar esforços para a indústria nacional de energia limpa. As recentes injeções de capital nessa área podem se tornar uma linha crucial de defesa para manter os avanços rumo a um futuro energético sustentável mesmo diante da oposição política.
A executiva Lori Lodes, do Climate Power, enfatiza que a beleza da Lei de Redução da Inflação reside justamente em seu sistema de defesa embutido, tendo em vista que os novos empregos gerados na indústria de energia limpa não têm um viés ideológico claro. Muitos dos trabalhadores do setor que ascenderam recentemente ao mercado não votaram temendo a transição energética. O engajamento dessas novas forças de trabalho pode ser um fator a ser considerado para aqueles que tradicionalmente se opõem ao avanço de medidas ambientais.
A relação entre combustíveis fósseis e estados republicanos
É importante notar que, conforme as análises da Administração de Informação de Energia dos EUA, os estados que mais emitem carbono e se concentram na produção e consumo de combustíveis fósseis são em sua maioria controlados pelo Partido Republicano. Essa dinâmica foi ainda mais acentuada após as eleições de 2024, em que republicanos asseguraram 37 das 40 cadeiras no Senado nos 20 estados de maior emissão de carbono, revelando uma consolidação de poder sem precedentes. Essa predominância republicana faz parte do padrão que coloca esses estados no centro da força geográfica do partido, criando um ambiente de resistência às iniciativas demográficas da administração Biden.
Por outro lado, a situação não é tão estática quanto parece. A relação entre a política energética e as características sociais e econômicas desses estados é complexa. Os estados com altas emissões de carbono apresentam um perfil demográfico que tipicamente inclina-se para o eleitorado republicano. Enquanto isso, os estados menos poluentes tendem a votar em candidatos democratas que advogam por medidas para a transição para uma economia com menos combustíveis fósseis. Essa dicotomia entre estados de alta e baixa emissão molda as lutas políticas em torno das políticas climáticas, criando um campo de batalha que reflete as divisões ideológicas contemporâneas.
Além disso, a questão da doação de campanha tem reforçado esse padrão. Historicamente, a indústria do petróleo e gás redirecionou seus recursos de forma quase exclusiva para candidatos republicanos, o que centraliza ainda mais a influência dessa indústria sobre a política ambiental. Enquanto os dados de contribuições mostram um apoio quase que unânime da indústria ao Partido Republicano, os democratas lutam para alavancar qualquer avanço regulatório significativo na área de energia limpa. É um fenômeno que sugere que, mesmo em meio a pressões externas, a resiliência das políticas climáticas depende fortemente da capacidade de conciliar interesses econômicos e energéticos divergentes.
O que Trump fará em relação à energia limpa?
Com o ex-presidente Trump no alcance do retorno ao poder, surgem incertezas sobre o destino das indústrias de energia limpa. Embora Trump tenha demonstrado uma intenção clara de reverter inúmeras políticas de Biden, a base crescente de investimentos em energia renovável em estados republicanos pode complicar suas ações. O desafio é que qualquer tentativa de revogar incentivos como os da Lei de Redução da Inflação pode ter implicações diretas para a economia local, levando a uma resistência potencial por parte dos legisladores de suas próprias bases.
Dados recentes mostram que quase quatro quintos dos investimentos em energia limpa em progresso estão localizados em distritos controlados por republicanos. Essa situação sugere que os legisladores podem eventualmente ter que levar em conta os interesses de seus eleitorados ao considerar qualquer movimento significativo que impacte esses setores em crescimento. O futuro da política energética nos Estados Unidos, portanto, pode não depender apenas do desejo de retroceder em inovações, mas também da pressão por parte de suas bases eleitorais, que cada vez mais se beneficiam dos novos empregos da indústria verde.
Por fim, especialistas alertam que a interrupção da transição energética por meio da revogação de incentivos poderia criar um ciclo vicioso, resultando em menos investimentos, redução na produção e, consequentemente, um estancamento no avanço das tecnologias limpas. Tal dinâmica poderia garantir anos de emissões de carbono elevadas, piorando os efeitos das mudanças climáticas. Portanto, o que está em jogo nas negociações políticas que se desenrolam nos próximos anos é mais do que simplesmente energia; é uma questão crítica que affeta a sobrevivência de milhares de comunidades e a saúde do nosso planeta.
A luta em direção a um futuro energético mais sustentável está longe de ser uma batalha fácil, especialmente com o “bloqueio marrom” em Washington. No entanto, à medida que as sementes da energia limpa começam a brotar em todo o país, há um novo espaço para a esperança e a resiliência na luta contra as mudanças climáticas.