Jennifer Lawrence e Malala Yousafzai podem parecer uma combinação inusitada no mundo do cinema, mas a união da vencedora do Oscar com a ativista paquistanesa pela educação resultou na produção de um documentário profundamente relevante. O filme, intitulado Bread and Roses, traz à tona as duras realidades das mulheres afegãs nos meses que se seguiram à reocupação do país pelo Talibã em 2021. Essa produção não apenas narra experiências pessoais, mas também se posiciona como um ato de resistência contra a opressão sistemática que essas mulheres enfrentam.
Com Bread and Roses agora disponível para streaming na Apple TV+, Lawrence, de 34 anos, e Yousafzai, de 27 anos, confiaram a diretora afegã Sahra Mani a responsabilidade de coletar imagens de mulheres que ela conhecia no Afeganistão logo após a retirada das tropas norte-americanas em agosto de 2021. A retomada do controle pelo Talibã culminou com o colapso do governo afegão, estabelecendo um regime que impõe severas restrições aos direitos das mulheres, baseado em uma interpretação rígida da lei islâmica. A importância de difundir esta mensagem é reforçada por Yousafzai, que aponta que a solidariedade internacional é vital para apoiar as mulheres do Afeganistão. “Precisamos compartilhar solidariedade com as mulheres afegãs, globalmente. Esta é uma mensagem de que mulheres ao redor do mundo estão unidas na luta contra a opressão do Talibã”, afirmou.
A violência que Yousafzai experimentou aos 15 anos, quando foi atacada pelo Talibã por defender a educação feminina, a torna uma voz poderosa e autêntica neste projeto. Ela ressalta que o documentário é crucial, pois à medida que o Talibã tenta silenciar as mulheres afegãs, o ato de dar a elas a câmera para contar suas próprias histórias se transforma em um poderoso ato de resistência. A ideia é que suas vozes sejam amplificadas, contrastando com as narrativas impiedosas impostas pelo regime opressor. “Estamos tentando ajudá-las a contar suas histórias e derrotar as vozes do Talibã”, acrescenta Yousafzai, evidenciando a urgência e relevância da discussão.
Bread and Roses acompanha as experiências de três mulheres durante os meses que se seguiram à queda de Cabul, a capital do Afeganistão. Entre elas, estão Zahra, uma dentista ameaçada de fechar seu consultório; Taranom, uma ativista que se esconde em uma cidade próxima à fronteira com o Paquistão; e Sharifa, uma ex-funcionária pública obrigada a permanecer em casa sob as pressão das novas regras de conduta do Talibã. Para Lawrence, a realização deste filme foi fundamental, pois ela teme que, com o tempo, o mundo esqueça aquilo que está se desenrolando no Afeganistão, um desejo que, segundo ela, se alinha com o que o Talibã quer que aconteça.
No contexto dos direitos das mulheres, que foram drasticamente erradicados um ano após a retoma do Talibã, a mensagem do documentário torna-se ainda mais pertinente. É um retrato da luta incessante pela dignidade e voz feminina em um ambiente adverso e opressivo.
Lawrence expressou seu profundo respeito por Yousafzai, afirmando que é uma grande honra a presença da ativista no projeto. Admiração essa que se reflete na busca por atenção adequada ao tema que o filme aborda. Ela destacou que, embora haja um imenso medo e opressão, dar espaço e visibilidade às histórias de mulheres afegãs é essencial para que suas lutas sejam não apenas reconhecidas, mas respeitadas globalmente.
Yousafzai ainda complementa que “a melhor forma de resistência contra o Talibã é dar visibilidade às mulheres afegãs”. Em meio à opressão contínua do regime, o documentário não só busca conscientizar a sociedade sobre as dificuldades vividas, mas também pretende iniciar um diálogo sobre como os líderes mundiais podem ser mais efetivos na responsabilização do Talibã e promover mudanças significativas para as mulheres afegãs. Enquanto Bread and Roses já está disponível na plataforma Apple TV+, o impacto do filme pode ecoar para muito além do que uma simples produção cinematográfica; trata-se de uma chamada à ação e esperança para um futuro mais igualitário e justo.