No atual cenário do mercado de trabalho americano, as oportunidades para trabalhadores horistas estão se restringindo, e a concorrência entre as plataformas de busca de emprego se intensifica. Recentemente, a JobGet, uma startup de Boston que oferece uma plataforma de busca de emprego com características sociais semelhantes ao LinkedIn, anunciou a aquisição da Snagajob, um rival significativo no mesmo segmento. Essa movimentação estratégica promete consolidar a JobGet como a maior plataforma de empregos direcionada a trabalhadores horistas e da linha de frente nos Estados Unidos, abrangendo uma impressionante base potencial de 100 milhões de pessoas.
Entretanto, é fundamental esclarecer que esse número não representa a quantidade de usuários ativos da JobGet. Embora a empresa não divulgue informações precisas sobre sua base de usuários, menciona que está colaborando com dezenas de milhares de clientes e ajudou a garantir milhões de empregos. Por outro lado, a Snagajob reporta ter 3,6 milhões de usuários ativos mensais e completou 40 mil contratações provenientes de 14 mil empregadores. A disparidade nos números levanta questões sobre a força competitiva e o poder de mercado de ambas as plataformas, especialmente em um setor que continua a evoluir rapidamente.
Os termos financeiros do acordo entre JobGet e Snagajob não foram divulgados. Contudo, para entender o contexto financeiro, vale destacar que a JobGet foi avaliada em 440 milhões de dólares, segundo dados da PitchBook, após um investimento de 52 milhões de dólares em 2022. Este mês, a empresa afirmou ter levantado uma quantia não revelada de Flow Capital, embora tenha surgido dúvida sobre essa informação, com a JobGet contestando-a. A relação entre estas duas entidades não é nova, pois em junho de 2023, a JobGet também adquiriu a Wirkn, um provedor de software de recrutamento no portfólio da Flow, também sem divulgar valores.
A Situação financeira da Snagajob é um tanto mais nebulosa. Fundada há 25 anos, durante o primeiro boom das pontocom, a empresa conseguiu levantar impressionantes 387 milhões de dólares em investimentos ao longo de sua história, com financiamento de investidores como StarVest e Rho Ventures. No entanto, sua última avaliação de 178 milhões de dólares na PitchBook remonta a uma década atrás, deixando em aberto espectros sobre o valor atual da Snagajob e como isso se compara ao momento da venda para a JobGet. A venda pode ser interpretada como parte de um movimento inevitável de consolidação nesse mercado cada vez mais competitivo.
Nos últimos anos, uma série de empresas de tecnologia tem se empenhado em desenvolver ferramentas sociais, de recrutamento e gestão voltadas para trabalhadores horistas. Facetas como as plataformas da Microsoft e o agora extinto Workplace da Meta têm sido apresentadas como recursos para a força de trabalho assalariada, contribuindo para diferenciar essas soluções do Slack. Além delas, dezenas de startups, incluindo a própria JobGet, levantaram milhões para explorar as oportunidades apresentadas por trabalhadores da linha de frente e horistas. Exemplo disso são as captações recentes de investimentos na ordem de 28 milhões de dólares para a TeamBridge, 8,5 milhões para a Bandana, 85 milhões para a Fountain e 175 milhões para a Wagestream. Esse cenário sugere que o mercado está saturado e possivelmente supercapitalizado, especialmente em um momento em que o panorama pode estar mudando em função da ascensão da inteligência artificial e da diminuição da robustez do financiamento para rodadas de investimento em empresas mais maduras.
Essa mudança no mercado também indica que as empresas tendem a se unir para obter maior escala em relação à tecnologia na qual estão investindo. A JobGet, mantendo a comparação com o LinkedIn, coloca a ênfase em mecânicas sociais e se posiciona como uma plataforma “para as necessidades da geração TikTok”. Um dos seus destaques é o “JobGenie”, uma funcionalidade que evoca a Instagram para você, utilizando inteligência artificial e outras ferramentas para personalizar recomendações de emprego para os usuários. Além disso, a plataforma implementou a programação instantânea de entrevistas e outras funcionalidades para reduzir o tempo entre a descoberta de uma vaga e a garantia de uma nova posição.
Keith Forshew, CEO da Snagajob, afirmou que “com acesso aos recursos disponíveis na plataforma da JobGet, os candidatos a emprego e os empregadores da Snagajob continuarão a desfrutar de uma experiência de melhor qualidade e a fazer conexões de emprego significativas”. Observa-se que o perfil dos usuários da Snagajob se alinha bem à proposta da JobGet voltada para o público da geração TikTok, com tendências de pesquisa frequentemente relacionadas a empregos para adolescentes.
Por fim, Tony Liu, fundador e CEO da JobGet, expressou que “a JobGet foi criada para enfrentar um desafio real e urgente: a dificuldade que trabalhadores do dia a dia têm para encontrar vagas e que empregadores enfrentam para encontrar candidatos de qualidade”. Segundo ele, “com a Snagajob como parte de nossa plataforma, estamos avançando em nossa missão de criar caminhos acessíveis para o emprego dos trabalhadores comuns, ao mesmo tempo em que capacitamos os empregadores a conectar-se com candidatos de qualidade de maneira instantânea e eficiente”. Este movimento, portanto, representa não apenas uma fusão de duas plataformas, mas uma grande oportunidade de transformar a forma como trabalhadores horistas e empregadores se relacionam no ambiente contemporâneo do trabalho.