Nila Ibrahimi, uma jovem afegã de apenas 17 anos, provou que a coragem e a determinação podem desafiar as barreiras mais rígidas. Recentemente, ela se tornou a vencedora do prestigiado Prêmio Internacional da Paz Infantil, uma honraria que reconhece o trabalho de jovens que lutam pelos direitos das crianças em todo o mundo. Apesar das severas restrições impostas pelo regime talibã que proíbe as mulheres de se expressarem publicamente em sua terra natal, Nila se destacou como uma voz potente a favor do canto e da educação para meninas no Afeganistão.
O prêmio foi concedido em uma cerimônia realizada na terça-feira, celebrando não apenas a contribuição de Nila para a causa das meninas afegãs, mas também sua bravura em se manifestar em um ambiente de repressão. Anteriormente, figuras de destaque como a ativista climática Greta Thunberg e a defensora da educação feminina Malala Yousafzai foram homenageadas com esta mesma distinção. Ibrahimi foi reconhecida por seu trabalho notável na luta pelos direitos das mulheres em um país onde a voz do sexo feminino tem sido silenciada por normas opressivas estabelecidas pelo Talibã, que retornou ao poder em 2021.
Sua jornada teve início antes da tomada do governo talibã, quando Nila começou a mobilizar o apoio da comunidade on-line para reverter uma proibição que impedia meninas de cantarem em público. Essa proibição parecia ser mais um passo atrás em um país que já vivenciou décadas de conflito e repressão. Para protestar contra essa imposição, Nila gravou um vídeo dela mesma cantando e pediu ao seu irmão que o divulgasse nas mídias sociais. O impacto foi imediato; a campanha “IAmMySong” ganhou força rapidamente e, em poucas semanas, resultou na revogação da norma opressiva.
Em uma declaração em vídeo, Nila refletiu: “Foi a primeira vez que pensei: uau, se eu quero e acredito que essa é a maneira como quero viver, eu posso me manifestar e serei aceita.” Essas palavras ressoam não apenas como um mantra pessoal, mas também como um chamado à ação para inúmeras outras jovens em circunstâncias semelhantes.
da afeganistão para o canadá: a luta continua
A vida de Nila tomou um rumo inesperado em 2021, quando o Talibã retomou o controle de Kabul em meio a uma retirada tumultuada dos Estados Unidos e seus aliados. Nila, aos 15 anos, se viu em uma situação desesperadora. Graças ao apoio da 30 Birds Foundation, ela e sua família conseguiram escapar do Afeganistão e se estabelecer no Canadá. Desde então, Nila não parou de lutar pelos direitos das meninas afegãs.
Aqui, Nila cofundou o projeto “Her Story”, uma iniciativa que incentiva meninas afegãs a compartilharem suas experiências e suas histórias, ajudando a amplificar as vozes daquelas que ainda estão lutando em seu país natal. Em um discurso proferido na Cúpula de Direitos Humanos e Democracia em Genebra no ano passado, Nila expressou sua profunda preocupação: “A cada dia, penso nas garotas que ficaram para trás no Afeganistão, sem esperança. No Canadá, eu tomo decisões sobre minha vida e abraço a pessoa que quero ser, mas e quanto a elas?” Essas palavras são um lembrete poderoso de que apesar de sua nova liberdade, Nila carrega consigo a luta das que permanecem em uma situação de opressão.
um cenário sombrio: os desafios enfrentados pelas meninas afegãs
A realidade no Afeganistão após a tomada do Talibã é desoladora. As escolas para meninas acima de 12 anos foram fechadas; as mulheres e adolescentes não têm permissão para estudar ou trabalhar, e só podem sair de casa na companhia de um parente masculino. Essas restrições extremas são parte de uma grande reversão das liberdades conquistadas ao longo de duas décadas, um retrocesso que desfez o avanço dos direitos humanos tão arduamente conquistados.
Recentemente, o Talibã realizou uma execução pública que gerou condenação internacional e um clamor por justiça e direitos humanos. Richard Bennett, Relator Especial da ONU para a Afeganistão, destacou em suas declarações que tal ato representa uma violação clara dos direitos humanos. O governo afegão se defendeu, negando tais acusações e alegando que “os direitos humanos estão protegidos no Afeganistão”.
A comunidade internacional, incluindo países como Alemanha, Austrália, Canadá e Países Baixos, expressou sua indignação, alegando que o Talibã violou a Convenção da ONU sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra as Mulheres. O regime não cessa sua defesa das políticas implementadas, argumentando que é “absurdo” acusá-los de discriminação de gênero, enquanto a sociedade afegã enfrenta uma das suas etapas mais sombrias em décadas. A jornada de Nila Ibrahimi e suas ações continuam a ser um farol de esperança em meio a essa penumbra, inspirando todos a se unirem em prol da dignidade e do direito das meninas ao canto, à educação e à liberdade.