A Nova Zelândia deu um passo significativo em direção à reparação de um passado sombrio, quando o Primeiro-Ministro Christopher Luxon fez um pedido de desculpas formal e sem reservas aos sobreviventes de abusos sofridos em instituições estatais e religiosas. O ato ocorreu durante uma sessão do parlamento na terça-feira, 24 de julho de 2024, onde Luxon reconheceu os abusos, a tortura e a negligência que afligiram centenas de milhares de crianças e adultos vulneráveis, muitos dos quais pertencem às comunidades indígenas do país. Esta ocasião não apenas marcou o reconhecimento de uma dolorosa realidade, mas também a determinação da liderança em confrontar os traumas causados por décadas de descaso.
Enquanto falava, Luxon expressou sua profunda empatia e indignação. “Foi horrível. Foi de partir o coração. Foi errado. E nunca deveria ter acontecido”, relatou o Primeiro-Ministro perante a casa legislativa e uma galeria repleta de sobreviventes que vivenciaram a dor do abuso. O pedido de desculpas é um resultado direto de uma investigação abrangente que revelou uma realidade alarmante sobre como o sistema de cuidado no país falhou em proteger os mais vulneráveis entre nós. Um relatório devastador, publicado em julho, declarou que estima-se que cerca de 200 mil indivíduos em cuidados estatais, de acolhimento e religiosos sofressem abusos “inimagináveis” ao longo de um período de sete décadas. Essa cifra, que representa quase um terço das 650 mil crianças e adultos vulneráveis que passaram pelos sistemas de cuidado do país entre 1950 e 2019, foi um choque para muitos, revelando a extensão do problema e a necessidade urgente de ação.
Durante o discurso, Luxon também destacou que as experiências traumáticas vividas pela população afetada mudaram o curso de muitas vidas: “Para muitos de vocês, isso mudou o curso de sua vida, e por isso, o governo deve assumir a responsabilidade”, enfatizou. A sinceridade em suas palavras esforçou-se para transmitir um senso de urgência e compromisso em reparar as injustiças. Ele reiterou: “As palavras têm significado e dizer isso aqui hoje é um reconhecimento de que li suas histórias e acredito em vocês.” O Primeiro-Ministro também deixou claro que estava pedindo desculpas em nome de administrações anteriores, sublinhando que a responsabilidade pelo passado deve ser coletiva.
O relatório da investigação, considerado “uma desgraça nacional”, foi resultado de seis anos de pesquisa meticulosa e de estreito contato com sobreviventes que ousaram levantar suas vozes e compartilhar suas experiências. Os dados apresentados no relatório mostraram que a distribuição dos abusos foi desproporcional entre a população Maori, o povo indígena da Nova Zelândia, que enfrentou não apenas um histórico de opressão, mas também o desgaste emocional e físico ligado aos cuidados mal geridos. A revelação de que o governo reconheceu historicamente que o tratamento de algumas crianças em um hospital estatal infame equivalia a tortura representa uma mudança de paradigma que pode ser vista como um marco na luta pela justiça e pela reparação no país.
No entanto, mesmo diante desse passo à frente, muitos sobreviventes e ativistas expressaram suas preocupações quanto à ausência de um plano concreto para a compensação financeira dos abusos. O governo, ao oferecer um pedido de desculpas genuíno, também foi chamado a agir decisivamente para garantir que o reconhecimento das injustiças passe da retórica para a ação prática. Esses indivíduos, que diariamente batalha com as cicatrizes emocionais e físicas do sistema que deveria ter garantido sua proteção, merecem não apenas palavras, mas também medidas substanciais que ajudem a curar as feridas abertas. Essa urgência de resposta requer um compromisso firme da liderança para que os atos de injustiça histórica não sejam apenas lembrados, mas reparados de maneira eficaz e digna.
À medida que a comunidade se mobiliza em torno deste pedido de desculpas, é evidente que a jornada da Nova Zelândia para a reconciliação é apenas o começo. O reconhecimento da dor e do sofrimento é um passo fundamental, mas a verdadeira transformação requer que as vozes dos sobreviventes sejam ouvidas, e que cada um deles veja a sua dignidade restaurada através de ações concretas que demonstrem um comprometimento real com a reparação das fraquezas do passado. Assim, a Nova Zelândia não só enfrenta suas sombras, mas constrói um futuro mais justo e inclusivo para todos os seus cidadãos.