A infraestrutura de um país é a espinha dorsal de sua sociedade, e ela sustenta aspectos fundamentais como água limpa, estradas seguras, acesso à internet de qualidade e fornecimento de energia elétrica. No entanto, essa infraestrutura não é algo garantido; ela demanda atenção constante para manutenção e aprimoramento. No contexto dos Estados Unidos, a situação atual é alarmante. No mais recente relatório da American Society of Civil Engineers, a infraestrutura em idade avançada do país recebeu uma nota desanimadora de C-, sinalizando a urgência de ação nesse setor crítico.
Iniciativas inovadoras estão surgindo para enfrentar esse desafio. A Mach9, uma startup fundada em 2021, acredita que parte da solução reside no fornecimento de informações mais precisas sobre o mundo físico aos operadores de infraestrutura. Utilizando inteligência artificial, a empresa transforma escaneamentos móveis de LiDAR (Light Detection and Ranging) em modelos de engenharia em 2D e 3D com um custo e tempo significativamente menores do que os processos tradicionais. Essa abordagem revolucionária permite que empresas de utilidades, firmas de engenharia e empresas de construção avancem de forma mais ágil em projetos de infraestrutura massivos, otimizando a alocação de recursos financeiros para melhorias e promovendo um entendimento mais profundo dos ativos sob sua responsabilidade.
O carro-chefe da empresa, denominado Digital Surveyor, não apenas cria modelos geoespaciais, mas também consegue identificar automaticamente mais de 20 características essenciais, como postes de eletricidade, semáforos e sinais de trânsito. Tradicionalmente, esses elementos são identificados manualmente por operadores humanos, o que consome um tempo precioso e suscetível a erros. A Mach9 já conta com uma lista impressionante de clientes, incluindo grandes provedores de infraestrutura e empresas de serviços de engenharia nos Estados Unidos e no Canadá, como Michael Baker International, POWER Engineers, Langan e Fibersmith.
Alexander Baikovitz, cofundador e CEO da Mach9, começou sua trajetória nesse campo enquanto estudava robótica na Carnegie Mellon University. Durante sua pesquisa em projetos voltados para infraestrutura, como a descontaminação de instalações nucleares legadas para o Departamento de Energia dos Estados Unidos, ele percebeu que muitos dos problemas a serem solucionados eram, na verdade, questões complexas de mapeamento e levantamento de dados. Isso se concretiza na prática, onde projetos de infraestrutura com os melhores robôs podem enfrentar atrasos desde o início se não houver dados robustos sobre a localização e o estado dos ativos envolvidos.
Baikovitz destaca que muitos operadores de infraestrutura estão lidando com problemas como envelhecimento e deterioração, além de eventos climáticos extremos. A situação é dinâmica, e a forma de lidar com esses desafios é utilizando dados e mapas de qualidade superior desde o início do processo. Inicialmente, a Mach9 planejava atuar no desenvolvimento de hardware, buscando criar sistemas de mapeamento móvel e coletar dados geoespaciais através do uso de LiDAR acoplado a veículos. A empresa participou da edição de verão de 2021 do Y Combinator, arrecadando US$ 2,5 milhões ainda naquele ano. No entanto, após conversas com clientes, Baikovitz e sua equipe se deram conta de que o desafio maior residia em como transformar os dados de mapeamento em informações valiosas e acionáveis.
“Muitas pessoas não se dão conta de como é difícil manter a infraestrutura atualizada em um mundo em constante mudança”, afirmou Baikovitz. É aqui que o Digital Surveyor se torna uma ferramenta crucial. Atualmente, a Mach9 comercializa seu software para consultores de engenharia, proprietários e operadores de infraestrutura, tanto públicos quanto privados, auxiliando-os a transformar dados brutos em insights práticos. Uma das aplicações mais notáveis do software é a identificação precisa de todos os postes de utilidade que compõem a vasta rede de uma empresa de serviços públicos. Enquanto, normalmente, um operador leva de dois a quatro dias por milha de mapa para identificar todas as características, com o Digital Surveyor esse tempo é reduzido para menos de 10 minutos por milha, após uma revisão humana para validar as marcações feitas pelo software.
A capacidade do Digital Surveyor vai além da simples identificação de características; ele fornece informações detalhadas sobre elas. Durante uma demonstração do produto, Baikovitz apresentou como o software pode não apenas identificar um poste de eletricidade, mas também fornecer a inclinação desse poste em tempo real. Essa funcionalidade é crucial em situações em que a obtenção de informações rápidas se torna imprescindível, como logo após um evento climático severo, onde a urgência de ações corretivas é evidente.
Recentemente, a Mach9 fechou uma rodada de investimentos semeais no valor de US$ 12 milhões, liderada pela Quiet Capital, com a participação de novos e antigos investidores, incluindo o fundador da Cruise, Kyle Vogt, o ex-CEO da Autodesk, Omar Hanspal, o CPO da Adobe, Scott Belsky, e o ex-executivo da DoorDash, Gokul Rajaram. Com essas novas injeções de capital, a empresa planeja expandir sua equipe de 14 colaboradores e aprimorar ainda mais o software, incluindo a adição de mais objetos identificáveis. O objetivo é escalar a capacidade de identificação automática que atualmente abrange cerca de 20 características para centenas e milhares no futuro, alinhando-se às crescentes demandas do setor de infraestrutura.
Portanto, a Mach9, com sua abordagem inovadora e tecnologia avançada, promete não apenas modernizar a maneira como os dados de infraestrutura são coletados e analisados, mas também contribuir significativamente para a revitalização da infraestrutura americana em um momento em que isso se torna cada vez mais crucial.