A recente venda de uma moeda de prata americana, datada do século 17, não apenas chamou a atenção de colecionadores, mas também estabeleceu um novo recorde em leilão, encerrando-se por impressionantes 2,52 milhões de dólares. Essa moeda histórica, encontrada há oito anos em um antigo armário em Amsterdã, remete a um período anterior à fundação dos Estados Unidos, trazendo à tona não apenas sua valorização financeira, mas também seu significado cultural e histórico inestimável.
O objeto em questão é uma moeda de três pence, cunhada em 1652 em Boston, logo após a abertura da primeira casa da moeda na então colônia britânica. Segundo declarações emitidas pela Stack’s Bowers Galleries, responsável pelo leilão, a moeda se destaca por ser a mais cara moeda americana não-ouro produzida antes da fundação da Casa da Moeda dos EUA. Embora seu valor em prata seja atualmente de apenas 1,03 dólares, a rica história associada a ela impulsionou seu preço nas vendas.
A descoberta da moeda em 2016 se deu em meio a objetos em um armário datado do século 18, contidos em uma caixa simples que apenas mencionava “Token de prata desconhecido / Família Quincy / B. Ma. Dec, 1798.” Inicialmente, o proprietário não tinha ideia do valor histórico do item, que havia sido simplesmente considerado um token. Somente após extensas pesquisas e análises foi possível identificar e verificar o seu valor pela PCGS, uma entidade independente que avalia moedas raras, revelando que, quando o bilhete que acompanhava a moeda foi escrito, em 1798, aquelas moedas já eram consideradas peças de colecionador.
Essas moedas têm o selo simples “NE” representando Nova Inglaterra em um lado e seu valor em pence em algarismos romanos no outro. O leilão alcançou seu pico em um frenético embate de lances que durou 12 minutos, o que o leiloeiro Ben Orooji descreveu como “uma viagem emocionante e um destaque da carreira”, ao ver a moeda ser leiloada por mais de três vezes seu valor estimado previamente. É interessante notar que apenas mais uma moeda desse tipo sobrevive até os dias de hoje, conservada pela Sociedade Histórica de Massachusetts, enquanto outra, possivelmente, ainda existe após ter sido furtada da Yale College em uma data anterior à década de 1960, mas sem que seu paradeiro seja conhecido.
A produção dessas moedas na Casa da Moeda de Boston, que desafiava a autoridade da coroa britânica, simbolizava o crescente senso de identidade de Nova Inglaterra como distinta da metrópole e sua determinação em regular sua própria economia, conforme destaca a Sociedade Histórica de Massachusetts. Este sentido de autonomia não apenas reforçou o comércio entre colonos, mas também instigou a valorização das moedas produzidas, que se tornaram cobiçadas até mesmo na Inglaterra após a Revolução Americana. De fato, em 1781, o colecionador inglês Thomas Brand Hollis fez um apelo ao então embaixador americano nos Países Baixos, John Adams, para ajudá-lo a localizar uma dessas moedas, levando Adams a consultar sua esposa Abigail, que tinha uma ligação familiar com o ourives responsável pela cunhagem.
Além do novo recorde estabelecido por esta moeda, outras moedas históricas dos Estados Unidos também alcançaram preços exorbitantes em leilões. Por exemplo, um raro dólar de prata de 1794, considerado uma das primeiras moedas feitas pela Casa da Moeda dos EUA, foi vendido por 10 milhões de dólares em 2013. Da mesma forma, uma raríssima moeda “Double Eagle” de 1933, uma das últimas moedas de ouro destinadas à circulação nos EUA, foi arrematada por 18,9 milhões de dólares em 2021. Esses números não apenas refletem o histórico valor de mercado dessas moedas, mas também a crescente paixão e mergulho dos colecionadores no entendimento e preservação de peças que encapsulam histórias fascinantes da nação americana.
Em suma, a venda dessa moeda de três pence não apenas instaurou um novo marco em vendas de leilão, mas também reavivou um interesse por períodos da história que moldaram os Estados Unidos. Ela nos lembra de como pequenos objetos podem carregar grandes histórias e, de fato, valorizar-se de maneira extraordinária. O mercado de colecionadores continua aquecido e deixa aos compradores a reflexão de que nada é tão simples quanto parece, especialmente quando se trata de itens que carregam os ecos de um passado cheio de identidade, valor e significado.