Nos últimos dias, as atenções da indústria de jogos têm se voltado para a 10ª edição anual do Game Awards, programada para ser transmitida no dia 12 de dezembro. Com a divulgação dos indicados, algumas obras já consagradas, como Astro Bot e Metaphor: ReFantazio, garantiram seu lugar de destaque ao receberem sete e seis indicações, respectivamente. No entanto, a inclusão de jogos independentes como Balatro, revelando surpresas agradáveis, também merece esfriar o coração dos entusiastas do setor. Contudo, um questionamento pertinente surge: por que os prazos para as indicações não são reestruturados para garantir que todas as produções tenham uma chance justa? Ao longo dos anos, a programação do evento inadvertidamente prejudica títulos que completam seu ciclo de lançamento muito próximo da data limite de elegibilidade e, consequentemente, não conseguem conquistar o devido reconhecimento. Um exemplo recente disso é Dragon Age: The Veilguard, da BioWare.
Para entender a problemática, é preciso considerar que todos os jogos lançados até o dia 22 de novembro deste ano são válidos para indicação. A data, que ainda se encontrava a uma distância significativa do anúncio dos indicados, estabelece os parâmetros de competição. Com as cédulas de votação finalizadas até 12 de novembro, alguns veículos de imprensa necessitam concluir suas avaliações antes mesmo dessa data, o que traz à tona um embaraço temporal. No caso de títulos que exigem um investimento maior de tempo, como The Veilguard, que pode levar até sessenta horas para ser completado, essa distância temporal se torna um fator crucial. Os votantes, ao receberem o jogo em um espaço de tempo curto, não puderam explorá-lo em profundidade, como aconteceu com outras criações que chegaram ao mercado muito antes da data de votação, como Elden Ring: Shadow of the Erdtree.
A ausência de intervalos adequados entre o corte de elegibilidade e a entrega dos votos resulta na marginalização de muitos jogos que efetivamente poderiam figurar entre os melhores do ano. Em várias edições, os prêmios têm proporcionado mais reconhecimento às produções populares e de amplo alcance, em detrimento da diversidade criativa existente no mercado. Jogos que ainda não foram lançados, mas que são tecnicamente elegíveis, enfrentam a mesma realidade. É impossível para um número significativo de jurados, na maioria das vezes, ter uma experiência de jogo suficiente com eles dentro do período limitado até a votação. A pressão sobre algumas publicações, que precisam convencer seus colegas a considerar um jogo que ninguém mais testou para o prêmio máximo, torna-se, portanto, uma tarefa quase impossível. Essa falta de uma janela significativa entre as datas limita o reconhecimento de jogos que lançam próximos à cerimônia, tornando a competição desleal.
Tomemos como exemplo o caso do jogo S.T.A.L.K.E.R. 2, que foi lançado em 20 de novembro. Mesmo que não tenha se destacado em algumas categorias, foi considerado tecnicamente elegível sob as regras atuais dos prêmios. Entretanto, jogos que não puderam ser testados de forma ampla pelos jurados acabam por não ter a mesma chance de visibilidade. À medida que essa dinâmica se perpetua, títulos que lançam durante o mês que antecede o evento estão constantemente perdendo para aquelas produções com meses de preparação e hype. Destaca-se que, enquanto um título como Spider-Man 2 conseguiu ser nomeado em várias categorias mesmo tendo saído tardiamente, esse não é o destino da maioria. E assim, outras criações, como The Veilguard, só são capaz de conquistar uma única nomeação em Acessibilidade, um reconhecimento direcionado a um nicho específico que acaba por não refletir o jogo como um todo.
Em comparação com outros grandes prêmios, como os Grammy, que abordam a música, constata-se que suas janelas de elegibilidade são significativamente mais amplas. O evento agendado para 2 de fevereiro, por exemplo, terá como base produções lançadas entre 16 de setembro de 2023 e 30 de agosto de 2024, com o anúncio dos indicados acontecendo somente dois meses antes. Essa estrutura minimiza as chances de um reconhecimento superficial e proporciona um contexto mais justo para a consideração das produções. Embora os Grammy também enfrentem suas próprias controvérsias e limitações, a maneira como organizam o processo de elegibilidade é um exemplo que poderia ser adotado pelo Game Awards, evitando assim as armadilhas da programação atual.
Notavelmente, outros prêmios de videogame, como o BAFTA Games Awards, também optam por distanciar suas janelas de elegibilidade do dia da premiação. Portanto, questiona-se: porque o Game Awards está enraizado nessa estrutura que parece funcionar mais como uma vitrine de vendas para os jogos do que uma celebração do setor? Dezembro, sem dúvida, se tornou um período estratégico para editoras que desejam alavancar suas vendas através de vitórias em importantes prêmios da indústria, alinhando suas campanhas a períodos festivos. Contudo, é essencial considerar se o Game Awards pode viabilizar uma reestruturação análoga que promova a real valorização da diversidade de jogos. Se o evento contemplar como seu cronograma atual prejudica jogos como The Veilguard, certamente isso poderá elevar as expectativas e a representação no cotidiano dos eventos anuais.
Por fim, é importante lembrar que não se trata de afirmar que The Veilguard foi apenas ignorado por não ter merecido, mas sim discutir aspectos que podem impactar qualquer jogo, independentemente das opiniões que ele suscite. As falhas no sistema de premiação afetam tanto as produções mais elogiadas quanto aquelas que geram divisões e debates entre o público. É crucial ponderar que o tempo e a equidade na avaliação são fundamentais para assegurar que cada jogo tenha a oportunidade de brilhar no palco que tanto deseja conquistar.