O clima de tensão nas negociações climáticas da ONU em Baku, no Azerbaijão, alcançou um novo patamar de descontentamento no último sábado, quando delegados de nações em desenvolvimento decidiram abandonar a sala de reuniões devido à proposta de financiamento que consideraram inaceitável. As tratativas, que se arrastam há dias, têm como objetivo estabelecer um acordo que permita aos países em desenvolvimento, particularmente os mais vulneráveis, obter recursos financeiros adequados para enfrentar os desafios impostos pelas mudanças climáticas.

A proposta que causou a indignação foi rejeitada principalmente por representantes de países africanos e de pequenas ilhas, que relataram a insatisfação com a oferta que surgiu nas discussões. Evans Njewa, presidente do grupo dos Países Menos Desenvolvidos (LDC), foi claro em sua posição: “O acordo atual é inaceitável para nós. Precisamos conversar com outros países em desenvolvimento e decidir o que fazer”. Para a ministra do Meio Ambiente da Colômbia, Susana Mohamed, a situação reflete uma profunda insatisfação com o que está sendo apresentado. Com a pressão crescendo, algumas nações já se preocupam que, se não se unirem, acabarão aceitando um acordo que não atende às suas necessidades urgentes.

Com o clima tenso, ativistas de organizações ambientais aproveitaram a oportunidade para protestar, confrontando o enviado climático dos Estados Unidos, John Podesta, ao deixá-lo da sala. As acusações eram pesadas, mencionando que a nação americana não estaria cumprindo suas obrigações financeiras e possuía um “legado de queima do planeta.” A situação foi exacerbada pela crescente sensação de que as promessas feitas em conferências passadas estavam sendo ignoradas, especialmente no que diz respeito ao financiamento. O rascunho oficial anterior previa um compromisso de $250 bilhões por ano até 2035, mais que o dobro do objetivo anterior de $100 bilhões, mas ainda abaixo do que especialistas consideram necessário, que ultrapassa a marca de $1 trilhão anualmente.

um mar de frustrações e tensões nas negociações climáticas

Diante do panorama de descontentamento, as nações em desenvolvimento acusaram os países ricos de tentativas deliberadas de minar as negociações por meio de um “guerra de atrito”. Enquanto algumas das nações menores se sentiam ignoradas durante o processo, Panamá, através de seu negociador-chefe, Juan Carlos Monterrey Gomez, expressou seu desdém pela condução das negociações: “A cada minuto que passa, estamos nos tornando mais fracos. Eles não enfrentam esse problema. Eles têm delegações grandes e poderosas.” Com cada vez mais representantes dos países em desenvolvimento se retirando, a tensão aumentava e as esperanças das pequenas nações diminuíam.

Com prazos de voo se aproximando, os ministros estavam ansiosos para não deixar suas nações desprotegidas e sem um acordo vital em um momento em que desastres climáticos se tornavam mais frequentes e devastadores. Mohamed Adow, da Power Shift Africa, destacou que a pressão para aceitar compromissos ruins cresce diariamente e que se as nações em desenvolvimento não mantiverem sua posição, correm o risco de aceitar uma proposta que não atenderá às suas necessidades.

Adicionalmente, o grupo Action Aid emitiu uma declaração que ressaltava a urgência de que melhores propostas sejam apresentadas na mesa de negociação, como forma de garantir que a situação dos países mais afetados pelas mudanças climáticas seja adequadamente abordada. A análise de Teresa Anderson, especialista em justiça climática, apontou que a responsabilidade recai fortemente sobre os países mais ricos, que precisam demonstrar um comprometimento real com o financiamento para que haja esperança de um acordo aceitável.

desafios da corrida pelo financiamento climático global

A demanda por $1,3 trilhões em financiamento, que as nações em desenvolvimento estão buscando para fomentar investigações em energia limpa e melhorar sua resiliência contra desastres climáticos, continua a ser um impasse nas negociações. Os países ricos possuem a obrigação de contribuir com esse financiamento, de acordo com um acordo alcançado na cúpula do clima realizada em Paris em 2015, mas as dificuldades em efetivar esse compromisso têm gerado frustração e desconfiança. Juan Carlos Monterrey Gomez questionou se o montante proposto de $300 bilhões não é “só migalhas”, levantando preocupações sobre a eficácia e a viabilidade de qualquer acordo que não atenda pelo menos às prioridades essenciais de seu país.

O ministro do Meio Ambiente da Irlanda, Eamon Ryan, trouxe uma nova perspectiva, destacando que a questão vai muito além do valor em si. “A questão é como você atinge a meta de $1,3 trilhões”, declarou, enfatizando a necessidade de um financiamento robusto que inclua uma variedade de fontes, como mercados de emissões de carbono. Ao que parece, o caminho para o financiamento climático ainda é nebuloso, e muitos países em desenvolvimento permanecem esperançosos, embora a frustração crescente nas negociações possa resultar em um desacordo que poderia prolongar ainda mais a luta contra as mudanças climáticas, uma batalha que já parece ser mais crítica do que nunca.

Enquanto isso, Alden Meyer, da E3G, observou que ainda é incerto se um acordo será alcançado. Ele e outros participantes das discussões compartilham a preocupação de que um acordo ruim pode ser pior do que nenhum acordo, perpetuando um ciclo de frustração e ineficácia que ameaçaria o progresso qualquer forma de mitigação do clima. O tempo está correndo e o clamor por uma ação significativa cresce, mas, se as partes não se unirem, o futuro do planeta poderá estar em jogo.

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