Um novo livro revelador de Lili Anolik mergulha nas complexidades da vida e obra de Joan Didion, explorando os aspectos menos conhecidos da escritora cult e suas conexões com a também icônica Eve Babitz. Anolik, que já trouxe figuras literárias ao centro das atenções, agora se propõe a desmistificar a relação de Didion com Hollywood, sua vida romântica e sua carreira de roteirista. É uma jornada que promete instigar e desafiar as percepções comuns sobre essa gigante da literatura.
Anolik, conhecida por seu estilo incisivo e provocador, já havia feito ondas em seus trabalhos anteriores, que incluíam a revalorização de Eve Babitz e uma análise crítica da obra de Bret Easton Ellis. Agora, seu foco volta-se para Didion, uma escritora que, por décadas, deixou marcas profundas no jornalismo e na literatura com suas observações perspicazes sobre a sociedade americana, especialmente em um contexto ligado a Hollywood.
O novo livro, intitulado Didion & Babitz, tem lançamento previsto para 12 de novembro e propõe uma análise dual, onde se discute como o legado de Didion e Babitz se entrelaçam. Anolik expressa que “para entender The White Album de Joan, é preciso ler Slow Days, Fast Company de Eve, e vice-versa. Trata-se de um yin e yang.” Essa interconexão revela o impacto mútuo que essas escritoras tiveram uma sobre a outra, mesmo que suas trajetórias tenham sido diferentes.
Anolik observa que, desde que começou a recontar a história de Babitz, houve um renascimento em torno de sua figura. O resgate de obras e a nova apreciação por sua arte proporcionaram a Babitz uma nova base de fãs, que inclui até figuras contemporâneas como Kaia Gerber. Para Anolik, a vida emocionante de Babitz atrai jovens leitoras, pois ela personifica uma coragem e um espírito rebelde que muitas desejam. “Eve é fascinante para essas mulheres jovens porque ela viveu perigosamente”, explica Anolik.
Entretanto, o que mais impressiona na obra de Anolik são os retratos sem máscaras que ela oferece de Didion, que durante muitos anos foi vista através das narrativas que ela mesma criou. Didion, conhecida por seus ensaios e romances, é frequentemente lembrada por sua frieza ao abordar realidades culturais desde os anos 60 até o final do século XX. Embora tenha conquistado um público mais amplo ao longo de sua vida, especialmente após a publicação de suas memórias que lidam com a perda, Anolik a vê sob uma luz diferente. Ela acredita que a Didion que o público conheceu mais tarde fez um “marketing” de sua imagem, transformando-se em uma figura de luto e nostalgia.
Anolik contrasta essa impressão pública com a complexidade que sente ser a verdadeira Didion. “O que eu gosto nela é a sua frieza, seu sangue-frio. Estou apenas tentando vê-la de forma clara, sem a necessidade de torná-la acolhedora ou uma figura maternal”, diz Anolik.
Em sua busca por entender Didion, Anolik recorre a uma de suas maiores fontes: o falecido Noah Parmentel, um escritor proeminente que também foi amante e mentor de Didion. De acordo com Anolik, Parmentel era “o equivalente masculino de uma musa” que ajudou a moldar a escrita e a vida de Didion. Ele esteve presente em seus primeiros romances, influenciando a forma como a autora retratou seus interesses amorosos nas páginas, tornando-se uma figura central em suas narrativas.
O livro de Anolik promete não apenas um olhar crítico sobre Didion, mas também uma análise da forma como o romantismo e a vida pessoal a influenciaram enquanto ela navegava pelo vibrante, mas muitas vezes brutal, mundo de Hollywood. Didion e seu marido John Gregory Dunne, que acabou sendo uma figura importante na indústria cinematográfica, colaboraram em roteiros que, segundo Anolik, frequentemente não eram nada brilhantes, mas refletiam a tendência dos escritores da época que transformavam suas imagens literárias em comissões cinematográficas.
Além disso, a crítica de Anolik aos trabalhos de Didion e na indústria revela como o casal navegou por suas prioridades criativas e comerciais. A relação de Didion e Dunne é explorada, oferecendo uma perspectiva de como suas vidas pessoais e profissionais se cruzaram. Apesar das alegações sobre a mediocridade de seus roteiros, Anolik acredita que as táticas que Didion e Dunne empregaram para obter empregos foram um reflexo da complexidade do mercado de Hollywood na época.
Como resultado, não apenas a imagem de Didion é discutida, mas também como a indústria, suas expectativas e suas repercussões pessoais moldaram a trajetória da autora. Anolik deseja que o leitor veja além da legenda tradicional que frequentemente foi atribuída à Didion, explorando a essência complexa da escritora que, embora tenha sido idolatrada, sempre carregou um fardo de subjetividade e percepção popular.
Essa análise abrangente de Anolik não é apenas uma biografia de duas figuras literárias influentes, mas também um convite para refletir sobre as realidades menos glorificadas da fama e do talento, enquanto se presta uma homenagem ao poder da narrativa que a Didion sempre dominou. Com uma nova luz lançada sobre sua vida, os leitores estão ansiosos para descobrir uma Didion mais nua e crua, e essa busca promete ser tão intrigante quanto reveladora.