Cientistas de várias partes do mundo têm se debruçado sobre os efeitos persistentes do COVID-19, com um foco crescente na condição conhecida como Long COVID. Nessa busca incansável por respostas, um novo conjunto de estudos tem chamado atenção ao indicar a relação entre problemas gastrointestinais e Long COVID, levantando questões sobre potenciais intervenções nutricionais que poderiam beneficiar os pacientes. Algumas pesquisas iniciais sugerem que a saúde intestinal está intrinsecamente ligada ao desenvolvimento de sintomas de Long COVID. Estudos mostram que a diversidade reduzida de nossos microbiomas, que são as comunidades de bactérias “boas” e “más” que habitam nosso intestino, pode estar atrelada a um risco maior de desenvolver sintomas prolongados após a infecção.

A dinâmica entre as bactérias intestinais é crucial para a nossa saúde. As chamadas bactérias “boas”, que contribuem para um microbioma mais diversificado, desempenham um papel significativo na conversão de alimentos em fontes de energia, além de ajudarem o sistema imunológico. Por outro lado, as bactérias “más” tendem a proliferar quando a diversidade do microbioma é comprometida, muitas vezes devido a uma dieta pouco saudável. Um recente estudo evidenciou que, ao utilizar técnicas de aprendizado de máquina, os cientistas conseguiram correlacionar de forma precisa os sintomas gastrointestinais associados ao Long COVID com a composição do microbioma em 89% dos casos analisados. Esses achados sugerem de maneira convincente que a baixa diversidade do microbioma e a presença excessiva de bactérias prejudiciais podem estar interligados à prevalência elevada de sintomas de Long COVID.

A Intervenção Alimentar como Possível Solução para os Sintomas Gastrointestinais

Embora esses estudos não respondam totalmente as razões pelas quais os sintomas gastrointestinais ocorrem em pacientes com Long COVID, eles oferecem hipóteses plausíveis que podem servir como base para o desenvolvimento de estratégias que abordem esses incômodos. Uma dessas estratégias está sendo investigada pelos pesquisadores da Universidade Monash, em Melbourne, Austrália, que estão focando no papel das fibras fermentáveis — encontradas principalmente em alimentos ricos em fibras solúveis — para aliviar os sintomas de Long COVID, entre eles, o desconforto gastrointestinal.

As fibras fermentáveis, presentes em leguminosas, frutas, verduras e pães e cereais integrais, não apenas ajudam na digestão, mas também melhoram a diversidade do microbioma, podendo ainda apoiar o sistema imunológico em sua luta contra os efeitos persistentes da COVID-19. Jane Varney, PhD e dietista sênior no departamento de gastroenterologia da Universidade Monash, elabora que essas fibras são essenciais: “As fibras fermentáveis são convertidas pelas bactérias intestinais em metabólitos como ácidos graxos de cadeia curta, que, por sua vez, reduzem a inflamação e melhoram a função imunológica”.

Um Estudo com Design Simples para Obter Resultados Reais

No estudo em andamento, os cientistas estão dividindo os pacientes em dois grupos: um deles receberá um suplemento contendo inulina, uma forma de fibra fermentável presente em várias frutas e vegetais, enquanto o outro grupo consumirá farinha de arroz, uma fonte de amido com baixo teor de fibras, que servirá como controle. A equipe de pesquisa avaliará se a inulina melhora a microbiota intestinal, conforme medido por estudos de fezes, e posteriormente verificará se esse aumento na diversidade do microbioma impacta de forma positiva os sintomas de Long COVID.

Embora a pesquisa desperte entusiasmo, os pesquisadores reconhecem que ainda não se sabe se os subprodutos dessas fibras poderão irritar os sistemas digestivos de algumas pessoas — especialmente aquelas com condições como a síndrome do intestino irritável, que podem tornar as paredes intestinais mais sensíveis. Nesse sentido, eles estarão monitorando atentamente a reação dos participantes do estudo às fibras. Paul Gill, PhD, pesquisador da Monash e co-investigador do estudo, observa: “Muitos dados de modelos em animais apoiam [o uso de] fibras fermentáveis, mas as doses são além do que é realista para uma pessoa comer”. Ele complementa que a eficácia das fibras fermentáveis dependerá da ausência de efeitos colaterais, como inchaço.

Esperanças em Pesquisas e a Importância do Consumo de Fibras

Drª Bubu Banini, especialista em doenças digestivas da Escola de Medicina de Yale e não envolvida no estudo, expressa otimismo em relação à pesquisa, afirmando que a simplicidade do design do estudo e a possibilidade de respostas significativas podem vir a ser um grande benefício. “Se o estudo mostrar que as fibras fermentáveis são eficazes na redução do risco de Long COVID, isso seria uma vitória, uma vez que a fibra é barata e facilmente disponível”, comenta, ressaltando a atratividade de repensar soluções acessíveis em um contexto de escassez de alternativas medicinais. Dr. Gill, em seu blog, reiterou que o Long COVID representa um desafio significativo, com opções de tratamento limitadas, e que a pesquisa sobre nosso microbioma e a relevância das fibras fermentáveis poderá mudar a forma como a condição é tratada.

Conclusões e Recomendações para Pacientes

As fibras fermentáveis mostram-se promissoras não apenas como um tratamento para o Long COVID, mas também como uma medida preventiva para aqueles predispostos a problemas gastrointestinais. Contudo, é fundamental que mais pesquisas sejam realizadas para legitimar essa eficácia. Para aqueles que estão enfrentando sintomas crônicos, como problemas de digestão após a infecção pelo coronavírus, é aconselhável buscar orientação de um médico. A Dra. Lisa Sanders, também médica, sintetiza a importância das fibras em nossa dieta, destacando que a maioria das pessoas não ingere a quantidade de fibras necessária. Essas fibras possuem funções essenciais, entre elas a redução do risco de doenças cardíacas e o controle do colesterol.

Se você está considerando aumentar o consumo de fibras, comece devagar e aumente a dosagem com cautela, já que nosso sistema digestivo não aprecia mudanças bruscas. Além disso, ao utilizar produtos que contêm psyllium, como o Metamucil, lembre-se de acompanhá-los com uma boa quantidade de água. Afinal, cuidar da saúde intestinal pode ser a chave para deixar Long COVID onde ele pertence: no passado.

Se você gostaria de compartilhar sua experiência com Long COVID para possível uso em um futuro blog (seu nome pode ser mantido em anonimato), entre em contato pelo e-mail: [email protected].

Para mais informações sobre Long COVID, você pode consultar a seção Yale Medicine. Lembre-se de que as informações apresentadas não substituem a consulta com um profissional de saúde qualificado; busque sempre a orientação de seu médico para qualquer dúvida relacionada a condições médicas.

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