A atualidade nos apresenta um curioso fenômeno: o aumento da busca por informações sobre saúde mental nas redes sociais, em detrimento da orientação profissional. Muitos indivíduos que enfrentam problemas emocionais estão recorrendo a plataformas como o TikTok para buscar suporte, compartilham suas preocupações e buscam diagnósticos. Isso levanta uma questão importante: seria essa uma via saudável ou até mesmo perigosa? Uma pesquisa conduzida em 2024 revelou que 66% dos usuários adultos do TikTok já se depararam com conteúdos relacionados à saúde mental, estabelecendo um novo cenário sobre como os problemas emocionais estão sendo discutidos e analisados no ambiente virtual. No entanto, a consulta a informações não verificadas de plataformas de mídia social pode levar a sérios mal-entendidos e diagnósticos errôneos, transformando um problema já delicado em algo ainda mais complicado.

O Dr. Thomas Milam, psiquiatra e oficial médico da Iris Telehealth, afirma que uma grande parte das pessoas que navegam no TikTok acaba buscando conselhos ou indicações relacionadas à saúde mental dentro da própria plataforma. O que parece um recurso prático se torna problemático quando consideramos o contexto atual de escassez de profissionais de saúde mental, onde a dificuldade de conseguir uma consulta pode se transformar em desespero. Segundo dados da American Psychological Association, apenas um em cada três adultos consegue uma consulta com um profissional de saúde mental, e os custos associados muitas vezes tornam esse cuidado inacessível. Assim, ao invés de buscar a ajuda profissional necessária, as pessoas acabam se tornando cada vez mais dependentes do que as redes sociais têm a oferecer.

A relevância da saúde mental nas redes sociais não pode ser ignorada. A psicoterapeuta Lindsay Liben aponta que essa nova tendência tem contribuído para que as pessoas sejam mais transparentes sobre suas lutas emocionais e busquem formas de melhorar seu bem-estar. De fato, a visibilidade que a saúde mental ganhou nas plataformas digitais é um passo positivo, porém, é crucial que, ao buscar conforto e informações, as pessoas estejam atentas à fonte do que estão consumindo. Muitas vezes, o conteúdo compartilha diagnósticos sendo discutidos de maneira superficial, o que pode levar a uma compreensão errônea da própria saúde emocional.

Os riscos de diagnósticos equivocados e informações enganosas

Um dos perigos que surgem dessa busca por autorreflexão nas redes sociais é a possibilidade de diagnósticos equivocados. Liben alerta que muitas informações na internet são criadas por indivíduos que não são profissionais de saúde mental. Essa falta de qualificação pode resultar na disseminação de informações imprecisas ou enganosas. Um estudo publicado em 2023, que investigou vídeos relacionados ao autismo no TikTok, revelou que 41% dos vídeos continham informações erradas, enquanto 32% apresentavam generalizações excessivas. E se isso não fosse alarmante o suficiente, mais de 52% dos vídeos sobre o Transtorno de Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH) continham afirmações enganosas em uma análise similar realizada em 2022. Mesmo com as redes sociais adotando medidas contra a desinformação, como a rotulagem de postagens não verificáveis, a responsabilidade em discernir informações confiáveis recai sobre o usuário.

Dr. Milam também ressalta as complexidades por trás dos sintomas psicológicos mencionados nas redes sociais. Os mesmos sinais podem ser indicativos de diversos transtornos. Por exemplo, fraquezas físicas, fadiga e falta de concentração podem ser sintomas tanto de ansiedade quanto de depressão, mas podem também refletir um simples cansaço ou uma infecção leve. Essa combinação de sintomas sem um diagnóstico profissional adequado pode levar à autoconfiança mal orientada. Por isso, procurar respostas nas redes sociais pode levar as pessoas a conclusões precipitadas sobre suas condições psicológicas.

O consumo de produtos e o culto à “solução rápida”

A proliferação de conteúdos de saúde mental nas redes sociais também levanta preocupações sobre a monetização da saúde. Muitas postagens que abordam o bem-estar emocional estão frequentemente ligadas à promoção de produtos, como suplementos e medicamentos, promovendo a ideia enganosa de que a saúde mental pode ser ‘consertada’ através de produtos ou dicas simplistas. Dr. Milam afirma que soluções rápidas não são eficazes para a maioria das crianças e adolescentes que lidam com ansiedade ou depressão, ressaltando que intervenções mais profundas e complexas são frequentemente necessárias. O impacto que esse tipo de conteúdo pode ter sobre a autoimagem e autoestima dos indivíduos é significativo, uma vez que as promessas de soluções fáceis podem resultar em um sentimento de fracasso para aqueles que não conseguem alcançar a suposta ‘cura’ apresentada online.

Buscar fontes confiáveis e especialistas capacitados

Portanto, ao buscar informações sobre saúde mental, é essencial que os usuários do TikTok e de outras redes sociais se dirijam a conteúdos produzidos por profissionais qualificados, que possuem formação em psicologia ou psiquiatria. O uso de conteúdos de especialistas garante que o público tenha acesso a informações precisas e fundamentadas. Liben sugere que, antes de seguir qualquer perfil que discorra sobre saúde mental, os usuários devem checar as credenciais dos autores e sua formação acadêmica. Para aqueles que suspeitam ter um problema de saúde mental, buscar orientação junto a médicos ou terapeutas é o caminho mais seguro.

No final das contas, para a maioria das pessoas, a resposta para questões emocionais geralmente se encontra além do alcance de um vídeo no TikTok. A busca por bem-estar mental exige aproximações mais delicadas e fundamentadas, que são melhor entregues em um ambiente terapêutico tradicional. É preciso reconhecer que, enquanto as redes sociais podem ajudar a aumentar a conversação sobre saúde mental, elas não devem nunca ter a incumbência que pertence aos profissionais que dedicam suas vidas ao cuidado do outro.

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