A recente eleição presidencial nos Estados Unidos, que resultou na vitória do presidente eleito Donald Trump, marca o início de um processo de transição de poder que ocorre em um período de 76 dias. A administração Biden está se preparando para essa transição pacífica, mas já enfrenta desafios significativos devido ao atraso na colaboração da equipe de Trump na assinatura de documentos essenciais. Essa situação levanta questionamentos sobre a eficácia desta transferência de poder, fator crucial para a segurança e continuidade do governo.
Na semana passada, representantes da equipe de Trump se reuniram com planejadores de transição de várias agências federais, conversando sobre a chamada “prontidão pós-eleitoral”, segundo um oficial da Casa Branca. Contudo, o presidente eleito ainda não assinou memorandos de entendimento vitais com a administração Biden, os quais desbloqueariam atividades de transição que poderiam começar assim que o acordo fosse selado. A assinatura desses documentos é vista como essencial para que a próxima administração possa iniciar suas atividades com o pé direito e ter acesso às informações indispensáveis para um governo eficiente.
As observações de Max Stier, presidente e CEO da Parceria para o Serviço Público, corroboram essa visão. Ele afirmou à CNN que a falta de assinatura dos memorandos de entendimento por parte da equipe de Trump torna impossível a condução eficaz da transição, uma vez que essa colaboração é necessária para garantir o suporte governamental crítico. Segundo Stier, mesmo que a equipe Biden tente contornar essa dificuldade, existem limitações legais que impossibilitam a plena cooperação sem o consentimento da equipe de Trump.
A preparação para a transição teve início antes que ambos os partidos, Republicano e Democrata, escolhessem seus candidatos. A Casa Branca, por meio do Escritório de Gestão e Orçamento e da Administração de Serviços Gerais, começou a elaborar um planejamento robusto que deveria se intensificar à medida que a data da eleição se aproximasse. Além disso, o Conselho de Diretores de Transição das Agências, co-presidido pelo vice-diretor do OMB e pelo coordenador de transição federal da GSA, realizou reuniões mensais com representantes de cada agência para garantir que todos os detalhes estivessem sendo cuidadosamente considerados.
Por sua vez, a equipe de transição de Trump é liderada por Linda McMahon e Howard Lutnick, figuras proeminentes em suas respectivas áreas. Até 1º de setembro, esperava-se que ambas as campanhas, a de Trump e a de Kamala Harris, assinassem um memorando de entendimento com a GSA que lhes daria acesso a espaço de escritório, comunicações, equipamentos e suporte de TI. No entanto, a equipe de Trump não assinou tal acordo, o que leva à incerteza sobre o andamento dessas formalidades essenciais.
A GSA informou que está pronta para fornecer serviços à equipe de transição de Trump assim que um memorando de entendimento seja executado. Um porta-voz da GSA afirmou que o coordenador federal de transição está em contato ativo com a equipe de Trump para finalizar o MOU. Entretanto, as câmaras do governo aguardam com expectativa a resolução desse impasse, pois o prazo para que a equipe e as agências federais compartilhem informações cruciais de transição está se esgotando rapidamente.
Até 1º de outubro, tanto as campanhas de Harris quanto de Trump deveriam ter assinado um memorando adicional detalhando os termos de acesso às agências governamentais, incluindo pessoal, instalações e documentos. Contudo, a equipe de Trump não atendeu a essa expectativa. Esta recusa em aceitar o apoio do governo federal, segundo Stier, representa um risco significativo e desnecessário para a segurança e a prontidão nacional.
A administração Biden já vinha se preparando desde 2023, começando pela nomeação de um coordenador de transição federal, uma função desempenhada por um oficial de carreira sênior que atua como principal ligação entre os candidatos e o futuro presidente eleito. Com a aproximação da eleição, as atividades se intensificaram e em abril, o OMB emitiu uma nota a cada agência federal detalhando as providências que deviam ser tomadas. Por consequência, cada agência tinha a obrigação de elaborar um plano de sucessão para todos os seus altos funcionários políticos até 15 de setembro e preparar materiais de briefing até 1º de novembro para a equipe do presidente eleito.
Esses materiais de briefing têm como objetivo “ajudar a informar a próxima administração sobre o que a aguarda, quais problemas precisam ser resolvidos, quais medidas foram adotadas e quais prioridades devem ser estabelecidas para o futuro”, conforme explicado por Valerie Boyd, diretora do Centro para a Transição Presidencial. Em sua maior parte, esses materiais se concentram em informações logísticas e na estrutura organizacional, ao invés de políticas, pois se espera que sirvam como um guia útil para as conversas que ocorrerão entre a administração Biden e a equipe de transição da próxima administração. Contudo, o clima de partidarismo permanece predominante e leva a incertezas a respeito do uso desses materiais por uma administração futura.
Embora organizações como a de Stier tenham trabalhado para institucionalizar o processo de transição nos últimos anos, há um receio de que essa estrutura seja ignorada. Os apelos de figuras próximas ao ex-presidente Obama sugerem que a experiência da transição de 2016 pode não ser bem aproveitada na atualidade. Um ex-oficial da administração Biden comentou que “estávamos aguardando as ligações [da equipe de Trump], esperando que as pessoas aparecessem, e elas nunca apareceram. Eles nunca levaram nossos memorandos”. De fato, a administração Trump, até o momento, não demonstrou interesse em utilizar os dados ou informações oferecidas pela equipe de transição da administração Biden.
Além disso, Trump sinalizou sua intenção de implementar mudanças drasticamente sobre os funcionários de carreira do governo federal, transformando milhares dessas funções em posições de indicação política. Especialistas em políticas alertaram que essa abordagem poderia resultar na demissão de servidores públicos, a menos que estes colocassem sua lealdade a Trump acima do serviço ao interesse público. Essa abordagem arriscada não apenas prejudica a integridade do governo federal, mas também abre as portas para a corrupção e práticas de clientelismo político.
Diante desse cenário complicado, a transição entre o governo Biden e a futura administração de Donald Trump se torna um verdadeiro campo de batalha, onde o tempo será um fator crítico, e a colaboração entre as partes, fundamental para o sucesso da democracia americana. A expectativa é que, apesar dos desafios, a história possa se fortalecer a partir dessa nova dinâmica política, onde as instituições e o aparato governamental conseguirão se adaptar e superar os obstáculos encontrados.