Recentemente, documentos legais que envolvem o processo judicial em andamento entre Elon Musk e a OpenAI revelaram informações curiosas: a OpenAI, em um determinado momento, considerou a possibilidade de adquirir a Cerebras, uma empresa de fabricação de chips voltada para inteligência artificial que está em processo de abertura de capital. Essa análise intrigante de um cenário que poderia ter mudado o curso da tecnologia de IA nos últimos anos nos leva a revisar o contexto dessa proposta discutida em 2017 entre figuras proeminentes do setor.
As circunstâncias da proposta de aquisição
A proposta de aquisição da Cerebras fez parte de uma troca de e-mails entre Ilya Sutskever, cofundador e ex-chefe da ciência da OpenAI, Elon Musk e Sam Altman, atual CEO da OpenAI. Sutskever sugeriu que a compra poderia ser realizada através da Tesla, a companhia automobilística de Musk, então alinhada futuramente com interesses da OpenAI. Em um e-mail datado de setembro de 2017, ele expressou suas preocupações sobre como fazer essa aquisição de forma que não conflituasse com os objetivos da OpenAI.
Ele destacou que, embora a Tesla tivesse a estrutura financeira para a transação, o seu compromisso de maximização do retorno dos acionistas poderia divergir da missão da OpenAI. Essa perspectiva levou Sutskever a se questionar sobre qual seria a abordagem mais eficiente para concretizar a aquisição, indicando que havia um dilema ético e estratégico por trás da negociação.
A trajetória da Cerebras e os desafios financeiros
A Cerebras, instalada em Sunnyvale, Califórnia, é conhecida pela construção de hardware customizado para a execução e treinamento de modelos de IA, destacando-se por reivindicar que seus chips estão na vanguarda da eficiência e velocidade em relação aos principais produtos da Nvidia, gigante do setor de chips. Desde a sua fundação, a Cerebras conseguiu angariar US$ 715 milhões em capital de risco e está buscando reduzir significativamente sua avaliação de US$ 4 bilhões através de uma abertura de capital. No entanto, essa jornada não é isenta de turbulências.
Olhando mais de perto, encontramos que um único cliente, a firma de Abu Dhabi G42, representou 87% da receita da Cerebras na primeira metade de 2024, o que suscita preocupações sobre a sustentabilidade dos negócios, especialmente em relação às possíveis ligações históricas da G42 com a China. Além disso, a trajetória do CEO da Cerebras, Andrew Feldman, levanta algumas interrogações, uma vez que ele já havia pleiteado uma acusação anterior por evasão de controles contábeis quando atuava como vice-presidente da Riversstone Networks.
As consequências da não aquisição
O desfecho das conversas de aquisição não se concretizou, embora os documentos legais não esclareçam o motivo dessa frustração. A OpenAI, ao que parece, decidiu adiar suas ambições em relação à fabricação de chips, permitindo que o campo de inovações tecnológicas seguisse seu curso sem essa valiosa colaboração. Se a aquisição tivesse sido realizada, seria plausível imaginar uma sinergia onde a Cerebras poderia ter evitado os empecilhos de um IPO complicado, ao mesmo tempo que a OpenAI obtinha um recurso importante em sua corrida para desenvolver chips in-house.
A OpenAI, que já visava não depender tanto da Nvidia, percebeu que a abertura do mercado de chips otimizados para IA é um caminho desafiador. Enquanto outras corporações, como Google e Amazon, já se estabeleciam nessa nova demanda, a empresa de Musk se viu pressionada a reduzir custos de treinamento, refino e execução de modelos. Nesse cenário, a fabricação de seus próprios chips poderia apresentar uma solução viável para conquistar as reduções necessárias de custo.
Próximos passos e expectativas futuras
No passado, a OpenAI considerou a construção de uma rede de fábricas voltadas para a fabricação de chips, mas, recentemente, parece ter abandonado essa ambição inicial. Em vez disso, a empresa está investindo em uma equipe robusta de designers e engenheiros de chips, colaborando com grandes empresas do setor, como a Broadcom e TSMC, para criar um chip de IA destinado à execução de modelos, com a expectativa de lançamento em 2026.
Esse novo capítulo na história da OpenAI e suas dinâmicas comerciais não apenas ilumina os desafios enfrentados na tecnologia de inteligência artificial, mas também nos faz refletir sobre como as decisões estratégicas de hoje moldam o futuro dessa indústria. A aquisição da Cerebras, se realizada, poderia ter reconfigurado a paisagem dos chips de IA, um cenário que continua a evoluir.