A discussão sobre a duração dos filmes tornou-se especialmente relevante durante a temporada de premiação, onde a expectativa é alta e a pressão por escolha é constante. A famosa citação de Roger Ebert, “Nenhum bom filme é longo demais, e nenhum filme ruim é curto o suficiente”, ecoa na mente de muitos durante este período do ano. A crítica se volta para a experiência do espectador, que frequentemente se vê em conflito entre sua paixão por um filme e o desejo de que ele terminasse mais cedo, especialmente em um momento em que as telas estão cheias de informações e estímulos.
Entretanto, esta temporada em particular parece desafiar essa filosofia. A maioria dos filmes na lista dos dez melhores indicados ao Oscar de 2024 tem longas durações médias a partir de duas horas e dez minutos, com três dos filmes – Duna: Parte Dois, Wicked e o épico de imigração The Brutalist – superando as duas horas e quarenta minutos. Se a intensidade da produtividade é o novo mantra, então muito tempo se perdeu. A indústria cinematográfica, em um ponto de vista bastante cômico e irônico, se enredou na sua própria ambição, tornando os filmes equivalentes a maratonas cinematográficas que demandam uma verdadeira dedicação do público.
Enquanto isso, “The Brutalist”, com três horas e trinta e cinco minutos de duração, se destaca como um dos maiores desafios no horizonte das telonas. O filme, protagonizado por Adrien Brody, não só faz uma pausa para um intervalo, mas se apropria de sua longa duração de maneira tão audaciosa que uma contagem regressiva de quinze minutos entre os atos é inserida. Uma verdadeira reflexão de tempos passados, onde a paciência do espectador é testada a cada minuto que passa.
Considerando a mudança nos hábitos de consumo de mídia, um fenômeno interessante se desenrola. Em 2010, quando o Oscar começou a nominar dez filmes, metade deles não ultrapassava uma hora e cinquenta minutos. Avançando para 2024, a maioria dos indicados esperados ultrapassará duas horas. No mundo atual, onde a atenção das pessoas está se encurtando a passos largos, com as notícias se convertendo em clipes e a música compactada em vídeos de quinze segundos, ir aos cinemas se sente como um ato de coragem, mas também de resistência.
O fenômeno das produções independentes, que frequentemente carecem das considerações de mercado que uma produção convencional levaria, também desempenha um papel nesse aumento. O estigma em torno das produções de longa duração está se dissipando de forma drástica, onde os cineastas são incentivados a se expandir além dos padrões normais de tempo. A ideia de que um filme precisa ser ¿culpado? pela sua duração está se tornando cada vez mais uma coisa do passado.
Ainda assim, os dados nos contam uma história diferente. Por exemplo, a distribuição de filmes era tradicionalmente feita com filmes com uma duração precisa. Mas agora, muitos filmes são produzidos com durações que refletem a liberdade criativa, resultando em um miríade de longa-metragens que desafiam a norma. Se, em um tempo não tão distante, ter uma produção com mais de duas horas parecia um erro, hoje é visto como um sinal de status – tanto para os cineastas quanto para os estúdios que os apoiam.
No final das contas, a crescente aceitação de filmes mais longos também se reflete nas atitudes dos críticos e da indústria em relação ao espectador. Hoje, os espectadores são frequentemente levados a parabenizar-se por aguentar até o fim de um longa-metragem extenso, um fenômeno que, por sua vez, gera mais expectativas para as próximas temporadas de premiação. Portanto, em uma disputa pelo prestígio e pela atenção do público, os filmes longos estão se tornando uma espécie de puroxpure dynamo cinematográfico, onde cada um deles deve fazer justiça a esse investimento de tempo.
Se mantenho um olhar atento sobre a sua evolução, a era do streaming também nos ensinou a oferecer novos caminhos para o público. Mesmo com o aumento da pressão, há um entendimento crescente de que a cada minuto perdido em uma experiência cinematográfica os cineastas têm um potencial infinito para transformar o simples ato de assistir em uma jornada profundamente gratificante. Contudo, apesar dessa crescente tendência, é prudente lembrar que não podemos criar equivalência entre a duração e a excelência cinematográfica.
Concluindo, a escolha por filmes longos realmente não é uma questão de qualidade por si só. “Setembro 5”, um filme com apenas noventa e um minutos de duração, apresenta-se como um forte concorrente a um prêmio principal e representa o que a nova audiência pode oferecer. Assim, a transformação do espectador para a capacidade de dedicação e resistência pode muito bem nos levar a um renascimento na forma como apreciamos o cinema, onde a qualidade do conteúdo e a resiliência do público se entrelaçam de forma excepcional no futuro das narrativas cinematográficas.
Esta matéria foi publicada na edição de 20 de novembro da revista The Hollywood Reporter.