O cineasta chinês Guan Hu tem se mostrado incansável em sua carreira ao longo de 2024. Com um currículo que se estende por mais de duas décadas, ele recentemente brilhou no Festival de Cinema de Cannes, onde seu décimo longa-metragem, intitulado Black Dog, conquistou o prestigioso prêmio Un Certain Regard. Essa vitória simboliza não apenas um ponto alto em sua trajetória, mas também coloca Guan em um destaque internacional, elevando suas produções a um novo patamar. Não muito tempo depois desse sucesso, ele apresentou outra obra, A Man and A Woman, no Festival Internacional de Cinema de Xangai, desenvolvendo ainda mais seu papel como um dos diretores mais influentes da China. Em um ritmo que não dá sinais de pausa, ele está atualmente em pré-produção de Dong Ji Dao, um filme de ação ambientado na Segunda Guerra Mundial, programado para estrear no próximo ano. Agora, Black Dog também se encontra em cartaz no Festival de Cinema de Tóquio, consolidando as conquistas do diretor.

Guan Hu é um membro proeminente da sexta geração de diretores de cinema da China. Sua estreia ocorreu em 1994 com Dirt, um retrato corajoso da cena do rock em Pequim nos anos 90. Desde então, ele alternou entre projetos de baixo orçamento, como a comédia Cow de 2009, e grandiosas produções comerciais, incluindo o épico da Segunda Guerra Mundial The Eight Hundred, que se tornou o filme de maior bilheteira da China em 2020, arrecadando mais de US$ 461 milhões. A extrema diversidade em suas obras reflete uma busca contínua por contar histórias autênticas e provocativas, sendo Black Dog uma adição notável a esse portfólio.

No centro da narrativa de Black Dog, encontramos Lang, interpretado por Eddie Peng, um ex-presidiário que busca seu lugar em uma cidade rural devastada, localizada nas proximidades do deserto de Gobi. O enredo se desenrola em meio aos Jogos Olímpicos de Pequim de 2008, um evento que marca a ascensão do país no cenário global, mas que parece distante para Lang e as figuras que ele encontra durante sua jornada. O filme ganha força quando Lang se junta a uma equipe de captura de cães de rua, apenas para estabelecer uma ligação emocional inexplicável com um cão agressivo local, em vez de cumprir sua missão. A crítica da The Hollywood Reporter descreveu o estilo visual da obra como “deslumbrante”, ressaltando o humor negro e a atmosfera peculiar que envolve os personagens em uma cidade ameaçada pela demolição.

Por outro lado, A Man and A Woman traz uma abordagem diferente, apresentando os astros Huang Bo e Ni Ni como dois desconhecidos que encontram refúgio em um hotel de quarentena em Hong Kong, durante um período de severas restrições. A narrativa é delicada e se concentra na conexão que surge entre os protagonistas, enquanto dividem momentos de solidão e revelações em suas varandas adjacentes. O filme desenha um quadro sensível de como o isolamento forçado os leva a refletir sobre suas vidas, enquanto a vibrante linha do horizonte da cidade aguarda um retorno à vida ativa. Ambos os filmes, embora distintos em suas narrativas, exploram o que significa viver em tempos de mudança e desconexão.

Ao dialogar com Guan por videoconferência, surgem perguntas sobre a relação entre tempo e espaço nas suas criações. O cineasta observa que “filmes têm a função de registrar eventos e lembrar as pessoas do que aconteceu”. Ele enfatiza que ao desenvolver Black Dog e A Man and A Woman, seu objetivo é suscitar uma reflexão profunda sobre as realidades vividas durante momentos significativos da história recente da China: os Jogos Olímpicos e a pandemia. Guan compartilha que os personagens de Black Dog simbolizam pessoas que se sentem marginalizadas pela velocidade das transformações sociais e econômicas, enquanto os protagonistas de A Man and A Woman lidam com as pressões cotidianas de uma vida moderna, cheia de expectativas e obrigações.

Guan menciona ainda a relevância da música de rock na construção de suas histórias. A influência do rock chinês dos anos 90 permeia ambos os filmes, representando um chamado à rebeldia – algo que seus personagens jovens anseiam reviver, mas se encontram em situações de resignação. Ele observa que, ao envelhecer, as pessoas frequentemente reavaliam suas vidas e tentam reencontrar um sentido de energia e vitalidade perdidas, tema central em suas obras atuais. “Ambos os filmes são simplesmente sobre a vida,” ele conclui, fazendo uma ligação direta entre as experiências de seus personagens e os desafios que muitos enfrentam em suas jornadas pessoais.

Agora, o diretor se prepara para as mudanças que sua carreira pode tomar, alternando entre projetos maiores e mais íntimos, refletindo sua versatilidade como cineasta. A conversa ainda toca na valentia de ter conseguido os direitos das músicas do Pink Floyd para a trilha sonora de Black Dog, algo inédito na história do grupo. Com todos esses avanços, as criações de Guan Hu ressoam com a mensagem de que, mesmo em tempos de turbulência, as histórias humanas e as interações são sempre relevantes e necessárias.

Guan Hu tem se provado um contador de histórias visionário, capturando a essência de momentos críticos na história da China e, ao mesmo tempo, explorando a complexidade da experiência humana. Os filmes Black Dog e A Man and A Woman não só destacam seu talento, mas também oferecem um espelho para a sociedade contemporânea, encorajando a reflexão sobre o que realmente significa viver e sentir em um mundo em constante mudança.

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