O pastor filipino Apollo Carreon Quiboloy, que se tornou um dos fugitivos mais procurados pelas autoridades, foi detido nas Filipinas, encerrando uma busca que se estendeu por semanas e que incluiu uma tensa negociação entre a polícia local e seus fervorosos apoiadores. Quiboloy, que é alvo de acusações graves, incluindo abuso sexual e tráfico humano, estava escondido em uma propriedade no Sul do país, onde suas atividades religiosas atraíam a atenção de milhares de seguidores.

A prisão de Quiboloy foi confirmada recentemente pelo Ministro do Interior das Filipinas, Benhur Abolos, que escreveu em suas redes sociais que o pastor, que estava foragido por três anos, “foi capturado”. O evento ocorreu em um contexto tenso onde aproximadamente 2 mil oficiais de segurança cercaram o extenso complexo de 30 hectares que abriga sua igreja, o Reino de Cristo, em Davao. Os apoiadores de Quiboloy tentaram impedir a ação policial, lançando pedras e bloqueando estradas com pneus em chamas.

Após um cerco de 24 horas, os detidos se renderam à polícia. A operação começou há mais de duas semanas e culminou em um conflito que poderia ter se intensificado drasticamente. Quiboloy e quatro de seus assistentes foram levados de Davao para a sede da polícia nacional em Manila usando aeronaves militares. Por volta das 13h30, horário local, um ultimato foi dado aos fugitivos para se entregarem, e eles o fizeram quatro horas depois, segundo informações da Agência de Notícias das Filipinas (PNA).

O Diretor do Escritório Regional da Polícia 11, Brig. Gen. Nicolas Torre III, comentou sobre a rendição e expressou seu agradecimento aos membros e apoiadores da igreja pelo apoio durante o processo. Torre disse que espera que esse episódio possa ser um ponto de partida para a cura para todos os envolvidos. “Eu agradeço a Quiboloy pela decisão de enfrentar a lei e aos membros do KOJC pela cooperação”, mencionou.

As autoridades têm trabalhado para capturar Quiboloy desde que uma acusação federal foi apresentada em 2021, alegando que ele e seus cúmplices operavam um anel de tráfico sexual que forçava garotas e jovens mulheres a se envolverem em relações sexuais com ele, sob ameaças de “condenação eterna”. O pastor também é acusado de perpetrar um esquema de tráfico de mão de obra, que permitiu que membros da igreja entrassem ilegalmente nos Estados Unidos e solicitassem doações para uma instituição de caridade fraudulenta na Califórnia. Quiboloy nega todas as acusações que pesam contra ele.

No contexto de sua detenção, o presidente das Filipinas, Ferdinand Marcos Jr., expressou alívio pela captura do pastor e enfatizou que ele deve ter os mesmos direitos que qualquer outro cidadão preso. “Embora ele seja uma pessoa muito proeminente… iremos tratá-lo como qualquer outro preso e respeitar seus direitos. O processo será transparente e todos os envolvidos serão responsabilizados”, afirmou o presidente.

Quiboloy, que se autodenomina “filho de Deus escolhido”, é o fundador da igreja Reino de Cristo, que foi estabelecida em 1985. Sua popularidade cresceu em proporção à ascensão do televangelismo nas Filipinas, um país de predominância católica com milhões de seguidores de diversas seitas cristãs. A igreja de Quiboloy anuncia ter sete milhões de seguidores em todo o mundo e opera uma série de negócios, incluindo uma faculdade, um resort e meios de comunicação.

O envolvimento de Quiboloy com ex-presidentes filipinos é notório, especialmente por sua proximidade com o ex-presidente Rodrigo Duterte, frequentemente visto em redes de mídia associadas à igreja durante o tempo em que Duterte foi prefeito de Davao, cidade conhecida pelo controverso combate às drogas que resultou em milhares de assassinatos extrajudiciais, de acordo com grupos de direitos humanos.

Ago­ra que Quiboloy enfrenta a justiça, o desfecho desse caso pode servir como um divisor de águas para as operações da igreja e para a comunidade de seus adeptos. A interseção entre fé, justiça e responsabilidade pública continua a ser uma questão complexa, e o capítulo que se abre pode impactar não apenas os envolvidos diretamente, mas também a sociedade filipina como um todo.

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