A comunidade Ethereum, depois de um hiato de mais de dois anos, voltou a se apoiar em um evento de grande relevância tecnológica. Durante a conferência Devcon, realizada em Bangkok, o pesquisador da Ethereum Foundation, Justin Drake, fez uma apresentação que gerou grande expectativa. Ele introduziu sua proposta de um redesign substancial da camada de consenso da rede chamada “Beam Chain”, um conceito que sintetiza as ideias mais inovadoras do roteiro evolutivo do Ethereum. Desde a implementação do mecanismo de consenso “proof-of-stake”, que substituiu o antigo método “proof-of-work” conhecido por seu alto consumo de energia, a estrutura subjacente da blockchain Ethereum permaneceu relativamente inalterada, apesar de diversas atualizações menores para suportar blockchains em camadas superiores que são mais rápidas e econômicas.

A proposta de Drake aparece num momento em que a comunidade Ethereum sente falta de uma visão unificadora, capaz de gerar a mesma empolgação que o Merge de 2022. No salão lotado do Queen Sirikit National Convention Centre, Drake delineou como a Beam Chain irá estruturar uma série de melhorias significativas, abrangendo ajustes nos mecanismos de produção de blocos, além de alterações no modo como o staking e a criptografia de conhecimento zero são geridos. Esta abordagem aglutinadora promete não apenas revitalizar o debate sobre a evolução futura do Ethereum, mas também esclarecer a forma como as atualizações deverão ser executadas nas próximas fases de desenvolvimento da rede.

Uma das inovações principais que a Beam Chain propõe é a organização das atualizações em “pacotes” integrados. Atualmente, o Ethereum realiza atualizações anuais em seu núcleo de código, mas Drake sugere a adoção de um modelo mais dinâmico: ao invés de pequenas modificações frequentes, a ideia seria realizar pequenas melhorias contínuas, enquanto as grandes inovações seriam introduzidas em um único lançamento mais robusto a cada alguns anos. Para isso, focar na camada de consenso, também conhecida como Beacon Chain, se torna crucial. Segundo Drake, essa parte da rede apresenta uma certa obsolescência, tendo seu modelo congelado há cinco anos.”Nesse período, muitas mudanças significativas ocorreram”, disse ele, dando a entender que uma atualização profunda é necessária para acompanhar a evolução tecnológica e as novas demandas do mercado.

Entre as áreas que a Beam Chain irá abordar estão a introdução de “slots mais rápidos” e “finalidade mais rápida”. Essas medidas visam aumentar a frequência com que novos blocos são adicionados, o que, supostamente, reduziria o tempo de espera atual de cerca de 15 minutos para a finalização de um bloco. Isto não apenas aumentaria a eficiência das aplicações que demandam grande volume de transações, como também reduziria as oportunidades para a Extração Máxima de Valor (MEV), um problema que tem gerado discussões acaloradas entre desenvolvedores e usuários. Contudo, essa mudança não é isenta de riscos; um aumento na rapidez da finalização poderia acentuar o problema da centralização, uma vez que exigiria hardware de computação mais potente e, portanto, mais caro, desafiando os desenvolvedores a equilibrar eficiência e acessibilidade.

A Beam Chain também incorporará a criptografia de conhecimento zero de forma mais integrada à camada base do Ethereum, estimulando uma arquitetura mais robusta. Este é um desenvolvimento que poderá impactar a crescente popularidade das operações em camadas superiores que utilizam tecnologias de conhecimento zero, como os rollups ZK. Nos últimos dois anos, diversos rollups ZK, como o zkEVM da Polygon e o zkSync da Matter Labs, ganharam notoriedade, contribuindo para o crescimento e a inovação no ecossistema global da blockchain. Com a proposta de Drake, a inclusão de provas de conhecimento zero na rede principal do Ethereum pode alterar a dinâmica desses sistemas auxiliares, uma vez que a escalabilidade e a segurança estarão ainda mais imbricadas no protocolo base da blockchain.

Embora a Beam Chain propõe mudanças ambiciosas, Drake se mostrou cauteloso ao evitar rotular essa inovação como “Ethereum 3.0”, um termo que vem sendo utilizado por alguns para referenciar o upgrade que ocorreu em 2022. “A Beam Chain é focada apenas na camada de consenso”, declarou ele, sublinhando que outras pesquisas ainda estão em andamento em relação às camadas de execução e de dados, que são fundamentais para sustentar não apenas aplicações, mas também as redes de camada superior que têm se proliferado no ecossistema Ethereum. Ao finalizar sua apresentação, a expectativa que pairava no ar era palpável; a comunidade espera que a Beam Chain possa realmente galvanizar o potencial da rede e levar o Ethereum a um novo patamar, onde a inovação e a adaptabilidade possam caminhar lado a lado em um cenário competitivo em rápida evolução.

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