Quincy Jones, um nome emblemático na indústria da música, faleceu em sua casa em Bel Air, Califórnia, aos 91 anos, no domingo à noite. Sua trajetória é marcada por uma carreira que abrangeu rádio, cinema e televisão, conquistando corações e mentes ao longo de várias décadas. Jones não era apenas um compositor, músico e produtor renomado, mas também uma personalidade que se abria sobre suas experiências extraordinárias em inúmeras entrevistas, incluindo o documentário da Netflix de 2018, intitulado “Quincy”, coescrito e co-dirigido por sua filha, Rashida Jones. Protagonista de histórias fascinantes, sua vida foi repleta de encontros notáveis e desafios pessoais que moldaram seu caminho artístico.
Durante sua longa carreira, Quincy Jones trabalhou com uma infinidade de artistas lendários, mas seu relacionamento mais destacado foi com Frank Sinatra. A conexão entre eles começou em 1958, quando Jones foi contratado para dirigir a banda de Sinatra. Juntos, eles transformaram clássicos da música, como a icônica canção “Fly Me to the Moon”, lançada em 1964. O que muitos não sabem é que Jones alterou a arregimentação da música originalmente composta como um valsa, em um estilo mais swing, o que resultou não apenas em um grande sucesso musical, mas também na história quando foi tocada por Buzz Aldrin antes de pisar na Lua. “A primeira música tocada na lua”, comentou Jones em uma entrevista ao New York Times em 1990, revelando sua surpresa ao saber que sua criação teve um papel tão histórico. Isso mostra como sua criatividade não apenas influenciou a música, mas também deixou uma marca indelével em momentos significativos da história.
Entretanto, a vida de Quincy Jones não foi só feita de triunfos musicais. Uma das histórias mais impactantes da sua vida é como ele escapou por pouco de se tornar uma das vítimas da infame família de Charles Manson. Em 1969, momentos antes dos infames assassinatos na casa da atriz Sharon Tate, Jones havia sido convidado por seu amigo, o cabeleireiro Jay Sebring, para ir à residência de Tate. Contudo, por algum motivo, ele esqueceu do compromisso e não compareceu. No dia seguinte, ficou chocado ao receber um telefonema de Bill Cosby informando-o sobre a morte de Sebring, que foi brutalmente assassinado junto com Tate e outras cinco pessoas naquela fatídica noite. A sorte de Jones foi inegável, uma vez que ele poderia facilmente ter estado no local errado na hora errada, encontrando-se em uma situação aterradora que poderia ter mudado o curso de sua vida drasticamente.
Quincy Jones também se destacou pelo modo como desafiou a morte em diversas ocasiões. Em 1974, aos 41 anos, ele sofreu uma aneurisma cerebral que o levou a um colapso. Durante a cirurgia, os médicos descobriram um segundo aneurisma, e Jones, determinado, passou por uma segunda operação que apresentava uma chance de sobrevivência de apenas um em cem. As complicações de sua condição foram muitas, pois um clipe colocado em um vaso sanguíneo de seu cérebro o impediu de tocar seu amado trompete. Isso, no entanto, não impediu o espírito indomável de Jones de tentar, pelo menos uma vez, tocar novamente, apenas para sentir a dor aguda que o forçou a desistir. “Eu não consegui escapar disso, cara,” disse ele, refletindo sobre a luta contra os limites impostos por sua condição de saúde. Esta resistência física e mental reflete a essência da vida e carreira de Jones, sempre buscando se superar, mesmo quando enfrentava desafios monumentais.
A trajetória de Quincy Jones vai muito além do que as palavras podem expressar. Sua música e vida estão entrelaçadas com a história da cultura pop e os movimentos sociais. Ele se tornou não apenas um ícone musical, mas também um defensor da igualdade e diversidade na indústria da música. Através de suas colaborações com artistas de diversas origens, ele ajudou a pavimentar o caminho para uma representação mais justa e inclusiva. Como um verdadeiro inovador e artista visionário, o legado de Quincy Jones é um testemunho de que a música é uma manifestação poderosa da experiência humana, capaz de conectar pessoas e culturas em uma melodia atemporal.
Assim, ao refletirmos sobre a vida de Quincy Jones, é válido lembrar que não se trata apenas de suas contribuições musicais, mas da maneira como ele enfrentou adversidades, influenciou gerações e eternizou momentos históricos. O mundo da música perdeu um gigantesco talento, mas seu espírito e criatividade continuam a inspirar aqueles que buscam a beleza na arte e na vida.