A recente decisão do distrito escolar de Richmond County, na Carolina do Norte, de remover todas as cópias do mangá Unico: Awakening das feiras escolares da Scholastic levou à controvérsia e ao debate sobre a censura e a adequação de conteúdos nas escolas. A medida foi anunciada após uma reclamação de uma mãe de um aluno da primeira série da Mineral Springs Elementary, que expressou sua preocupação com as representações de violência no título. Na era atual, onde os debates envolvendo a liberdade de expressão e o que é considerado apropriado para crianças estão cada vez mais acalorados, essa situação não passa despercebida.

contexto do mangá e a reclamação que motivou a retirada do material

Público mencionado em sua maioria como sendo na faixa etária de 8 a 12 anos, Unico: Awakening é uma adaptação em mangá da obra de Osamu Tezuka, famosa por suas narrativas que misturam fantasia e lições de vida. A história segue um unicórnio aventureiro que, ao inspirar positividade e esperança, irrita a deusa Vênus. Motivada pelo ciúme, Vênus decide destruir Unico, abandonando-o para que seja esquecido. Contudo, o West Wind, um servo da deusa, se compadece da criatura e a protege, levando-a através das eras. A busca de Unico pela sua identidade e o enfrentamento de deuses e monstros se tornam elementos centrais de sua trajetória.

No entanto, a mãe que fez a reclamação, identificada como Nikki Fletcher, afirmou estar horrorizada com a representação de violência armada e abuso de animais contidos na obra, especialmente em uma cena em que um homem ataca um gato. A indignação expressa por Fletcher reflete algumas das preocupações que muitos pais têm em relação ao material que seus filhos consomem nas escolas. O diretor executivo de comunicações do distrito, Cameron Whitley, comentou que o livro foi retirado das feiras para permitir uma revisão mais profunda da situação, além de um diálogo com a Scholastic.

tendências de remoção de mangás nas escolas americanas

O incidente em Richmond County não é um caso isolado. A remoção de textos, especialmente mangás, das escolas tem sido uma tendência crescente nos EUA. Em um exemplo recente, no dia 15 de novembro, o distrito escolar de Horry County, na Carolina do Sul, decidiu retirar Assassination Classroom, de Yūsei Matsui, de suas bibliotecas após uma reclamação semelhante. De acordo com a política do distrito, tal decisão não pode ser contestada por cinco anos. Medidas como essa ressaltam um crescente clima de cautela em relação ao que é disponibilizado nas bibliotecas escolares.

Além disso, o Gifford Middle School, na Flórida, havia retirado o mesmo título de sua biblioteca em março de 2023 após pressões de diversos grupos. O Elmbrook School District em Wisconsin também retirou o mangá em um movimento similar. O que se observa é uma série de reações a conteúdos que são considerados problemáticos por uma parcela da comunidade escolar.

O quadro se complica ainda mais em estados como a Flórida, onde o Conselho Público de Escolas de Brevard decidiu banir Sasaki e Miyano, um mangá de boys-love, suscetível a críticas por seu conteúdo sobre sexualidade. A noção de que a literatura, especialmente a que aborda questões de identidade sexual, deveria ser excluída dos espaços educacionais provocou debates acalorados entre defensores e críticos da liberdade de expressão.

reflexões sobre a crescente censura e suas implicações

O aumento da censura e a remoção de obras, tanto literárias quanto gráficas, nas escolas criam um cenário de preocupações que vão além da simples avaliação de conteúdo. É crucial que instituições educacionais reavaliem sua abordagem, compreendendo a importância de fornecer um espaço seguro e inclusivo para todos os alunos. O movimento de retirada de livros, especialmente aqueles que tratam de assuntos complexos como sexualidade, violência e abuso, questiona o papel da educação na formação de jovens cidadãos, que devem ser preparados para entender e enfrentar o mundo que os cerca.

A decisão do distrito escolar de Richmond pode, portanto, servir como um microcosmo dos desafios enfrentados por muitas escolas em todo o país. Assim como Unico, muitos materiais enfrentam o dilema de serem potencialmente mal interpretados ou censurados, privando os estudantes da oportunidade de explorar narrativas que possam, de fato, ensinar lições valiosas sobre empatia, coragem e a complexidade da condição humana. Quanto mais a sociedade avançar em seu entendimento sobre diversidade e expressão, mais essencial se torna o debate sobre o que é considerado apropriado para o consumo jovem.

Por fim, é evidente que a história do Unico: Awakening se entrelaça com questões muito maiores do que a simples alegação de um conteúdo problemático. É um convite a refletir sobre a natureza da censura, a função da literatura na formação de jovens mentes e a responsabilidade social de educadores, pais e alunos em promover um diálogo aberto e respeitoso sobre os diferentes temas que moldam nossa sociedade.

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