No último dia 18 de novembro, a ServiceTitan, desenvolvedora de software para empresas do setor de serviços, fez um movimento que chamou a atenção do mercado ao divulgar seu formulário S-1, sinalizando a intenção de realizar uma oferta pública inicial (IPO). A expectativa é que uma IPO bem-sucedida da empresa possa reanimar o mercado de capitais, que tem estado relativamente inativo nos últimos tempos. Contudo, o cenário não é tão simples quanto parece, uma vez que a empresa está sob a pressa de um acordo realizado em 2022, que impõe uma série de condições e prazos que podem impactar sua avaliação e o número de ações disponíveis para os investidores.
Quando a ServiceTitan levantou impressionantes US$ 365 milhões em sua rodada de financiamento da Série H em novembro de 2022, o acordo incluía uma cláusula conhecida como “IPO ratchet”. Essa cláusula é uma proteção para investidores que garante que, caso a empresa abra seu capital com uma avaliação inferior ao preço das ações que adquiriram, o número de ações em sua posse será ajustado para que mantenham a mesma participação no negócio. Agora, com a aproximação do prazo estipulado de realização do IPO até maio de 2024, a situação se torna mais delicada. Se a ServiceTitan não cumprir esse prazo, o número de ações que terá que oferecer aos investidores em sua abertura de capital aumentará a cada trimestre em que permanecer privada.
É importante compreender as implicações desta “IPO ratchet” e, mais especificamente, como ela se torna “compounding” neste caso. A estrutura compounding implica que o “hurdle rate” ou taxa mínima de avaliação para a abertura do capital aumenta proporcionalmente, caso a empresa não consiga se abrir ao mercado dentro do prazo estabelecido. Inicialmente, a avaliação mínima para evitar diluição das ações era de US$ 84,57 por ação. Com o prazo já ultrapassado, estima-se que esse valor mínimo agora se aproxime dos US$ 90 por ação, conforme análise da Meritech Capital. Isso significa que quanto mais tempo a ServiceTitan esperar para se tornar pública, mais difícil será atingir essa avaliação desejável e menos ações eles poderão permanecer para os investidores.
A situação se complica ainda mais ao considerar as avaliações atuais do mercado. Se a ServiceTitan tivesse visto um aumento em sua avaliação após a rodada de financiamento de 2022, a pressão da cláusula não seria tão significativa. No entanto, as análises indicam que a avaliação da empresa gira em torno de US$ 70 por ação, de acordo com a Meritech, enquanto o site de negociações secundárias Caplight prevê um valor em torno de US$ 81,59, implicando uma avaliação total de aproximadamente US$ 7,3 bilhões. Embora a previsão da Caplight seja mais otimista que a da Meritech, ambas ainda estão aquém do “hurdle rate” necessário.
A verdadeira questão agora reside na forma como a ServiceTitan irá precificar sua oferta pública inicial. A empresa, que desde sua fundação em 2012 já arrecadou mais de US$ 1,5 bilhão em capital de risco de grandes investidores como Iconiq, Bessemer e Coatue, reportou no último período fiscal um total de US$ 685 milhões em receita, juntamente com um prejuízo líquido de US$ 183 milhões, conforme indicado em seus documentos S-1. Este cenário financeiro levanta interrogantes sobre a viabilidade da avaliação necessária para que a oferta pública seja considerada um sucesso.
Portanto, a trajetória da ServiceTitan rumo ao IPO representa uma combinação complexa de desafios e oportunidades. A pressão imposta por prazos e estruturas contratuais certamente deixará os investidores e analistas atentos aos próximos passos da empresa. Somente o tempo dirá se a ServiceTitan conseguirá não apenas realizar a tão aguardada oferta pública, mas também cravar seu nome entre as grandes referências do mercado de tecnologia e serviços. Afinal, em um mundo onde a inovação e a adaptação são essenciais, cada movimento deve ser cuidadosamente planejado e executado, criando um equilíbrio delicado entre risco e recompensa que pode determinar o futuro da empresa em um mercado competitivo e volátil.