Na última semana, os rebeldes anti-governamentais no norte da Síria deram início a uma ofensiva inesperada, tentando tirar proveito das fraquezas das forças proxy iranianas na região. Este movimento estratégico reflete não apenas uma oportunidade de combatê-los, mas também uma resposta ao ambiente mais amplo de tensões e conflitos que envolve diversos atores regionais, especialmente Israel. A ofensiva surge em um momento em que os rebeldes, após anos de ganhos limitados, conseguiram capturar cerca de quarenta vilarejos e cidades que anteriormente estavam sob controle das forças do governo sírio, além de uma base militar síria.
No último dia 27 de novembro, os rebeldes unificaram-se em uma operação contra o regime, avançando em direção a Aleppo, a segunda maior cidade da Síria, que está sob domínio do governo de Bashar al-Assad e de milícias pró-iranianas desde 2016. Neste cenário de confrontos, os insurgentes diagnosticam que sua ofensiva foi motivada pela necessidade de dissuadir o governo de Assad e as milícias iranianas que, segundo eles, “declararam uma guerra aberta” contra o povo sírio ao bombardear áreas que abrigam populações deslocadas. Este episódio marca o primeiro confronto significativo entre os rebeldes e o regime desde março de 2020, quando um cessar-fogo foi mediado por Rússia e Turquia no norte do país.
Nos últimos doze meses, a presença iraniana na Síria tem enfrentado desafios, especialmente considerando as diversas dificuldades enfrentadas pelas forças do Hezbollah. A famosa milícia, que desempenhou um papel crucial na defesa do regime de Assad em várias batalhas, agora se encontra debilitada em decorrência das campanhas aéreas e terrestres israelenses. Evelyn Farkas, especialista em questões do Oriente Médio, relata que o Hezbollah sofreu perdas significativas em sua cúpula, com muitos de seus líderes sendo assassinados, o que permite que os rebeldes vejam uma chance de capitalizar essa fragilidade.
As facções de oposição anunciaram a ofensiva em seus canais do Telegram, intitulando-a “Detenção da Aggressão”, que, segundo eles, é um ato de resposta ao bombardeio de artilharia do regime de Assad na província de Idlib, que faz fronteira com a Turquia. Em resposta a este desenvolvimento, fontes turcas afirmaram que a Ankara buscou conter a ofensiva rebelde com o intuito de evitar uma escalada de tensão na região em função da agressão israelense, relacionada às guerras em Gaza e no Líbano. O que começou como uma operação limitada, segundo fontes, cresceu à medida que as forças do regime fugiram de cidades ao redor de Aleppo.
O discurso dos rebeldes é claro: eles não estão apenas lutando contra Assad, mas contra a devastação que, segundo eles, o regime e suas forças aliadas, incluindo as milícias iranianas, trouxeram para a região. O porta-voz da coalizão rebelde mencionou em uma transmissão no Telegram que seus inimigos “exploram populações árabes e muçulmanas” para implementar seus planos destrutivos, escondidos sob a égide de uma resistência. Tais afirmações, sem dúvida, intensificam o clima de insegurança e tensões no cenário sírio.
Uma Nova Dinâmica de Poder na Região
Segundo analistas, a capacidade dos rebeldes de avançar é em grande parte atribuída ao vácuo deixado pelo enfraquecimento do Hezbollah, aliado fundamental da Irã na Síria. Segundo especialistas como Nanar Hawach do International Crisis Group, os rebeldes parecem acreditar que têm uma oportunidade real de testar as linhas de frente, impulsionados pela fraqueza do Hezbollah, pela pressão sobre o Irã, assim como pelo envolvimento militar da Rússia na crise na Ucrânia. O resultado disso, segundo a análise, foi uma surpreendente e bem-sucedida ofensiva rebelde.
A dinâmica geopolítica da área se complicou ainda mais com a presença militar do Irã na Síria, que busca não apenas manter Assad no poder, mas também expandir sua influência na região. As forças iranianas são constantemente alvos de bombardeios israelenses, como foi o caso de um ataque aéreo à embaixada iraniana em Damasco, que resultou na morte de um comandante do Corpo de Guardas da Revolução Islâmica. Essa situação ilustra o intricado jogo de forças que molda o conflito na Síria e seu impacto no cenário regional.
A relevância do Hezbollah nesse embate não pode ser subestimada. Tradicionalmente, a milícia atuou como um suporte crucial às forças de Assad em suas batalhas contra os rebeldes e outros grupos armados. No entanto, conforme os conflitos no Líbano escalam, o Hezbollah foi forçado a reavaliar seu comprometimento na Síria, realocando tropas para a sua terra natal. Essa mudança estratégica, segundo analistas, pode ter diminuído a sua presença operacional na Síria, um fardo que Siria enfrenta devido a um aumento das tensões com as potências ocidentais e israelenses.
À medida que o contexto se torna mais complexo, as autoridades e a população síria se encontram em uma situação intrincada. As palavras dos rebeldes ressaltam um desejo profundo de resistência a um governo que muitos sentem estar na servidão de interesses externos, enquanto as forças governamentais estão constantemente enfrentando a ameaça de um colapso em um cenário de perda de aliados. Portanto, a questão que permanece é: até onde os rebeldes conseguem avançar e qual será a resposta do regime e de seus aliados? O jogo de xadrez geopolítico continua no Oriente Médio, e o próximo movimento pode ser decisivo.