O hidrogênio, considerado uma promessa significativa como combustível amigo do clima, tem enfrentado desafios significativos no seu desenvolvimento e adoção. Embora tenha o potencial de revolucionar o setor de energia, o hidrogênio perdeu a batalha pelo transporte pessoal em favor dos veículos elétricos a bateria, e até mesmo para usuários industriais, continua sendo muito mais caro do que o gás natural. Esta diferença de preços se deve, em parte, à infraestrutura existente: enquanto o gás natural flui através de uma rede vasta de gasodutos, o hidrogênio não possui essa mesma facilidade de transporte e, consequentemente, os compradores precisam depender do hidrogênio derivado de combustíveis fósseis ou transportá-lo através de caminhões, o que representa um custo elevado.
Gabriel Rodriguez-Calero, fundador da Ecolectro, aposta que a solução para reduzir esses custos é a produção de hidrogênio próxima do local de consumo. Sua startup desenvolve eletrolisadores de hidrogênio que podem ser instalados dentro de contêineres de transporte. Essa inovação permite que a produção de hidrogênio ocorra no próprio local de uso, o que minimiza riscos associados à logística de transporte e armazenamento. Como ele mesmo observa, “estamos muito interessados em descobrir quem está transportando hidrogênio atualmente”. Ao produzir o gás in loco, a empresa busca não apenas garantir eficiência, mas também facilitar o acesso a um combustível que poderia revolucionar indústrias e residências ao redor do mundo.
No entanto, a questão do armazenamento representa apenas um dos inúmeros problemas enfrentados pelo hidrogênio verde. O processo de produção em si também é oneroso. Muitos eletrolisadores são fabricados com materiais caros, enquanto outros que utilizam tecnologias antiquadas apresentam baixa eficiência. Recentemente, cientistas têm explorado maneiras de fabricar eletrolisadores mais baratos e eficientes. Rodriguez-Calero se destacou nesse cenário ao cofundar a Ecolectro, após realizar estudos sobre tecnologias relacionadas a baterias durante seu doutorado na Universidade Cornell. A proposta da startup é criar uma abordagem híbrida que une as vantagens dos dois principais métodos de eletrolise disponíveis: a membrana de troca de prótons (PEM) e a eletrólise alcalina.
A Ecolectro optou por desenvolver uma membrana que suporte as condições mais rigorosas da eletrólise alcalina, em vez de utilizar membranas compostas por substâncias químicas problemáticas como os compostos PFAS, que têm sido criticados por sua persistência no meio ambiente. Além disso, a empresa trocou catalisadores caros como irídio ou platina por níquel, um material muito mais acessível. “Você pode usar mil vezes mais níquel em comparação à quantidade de irídio, sem alterar o custo”, afirma Rodriguez-Calero, mostrando uma solução inovadora e viável em termos de custo.
Recentemente, a Ecolectro desenvolveu um pequeno eletrolisador de 10 quilowatts que é capaz de produzir 5 quilos de hidrogênio por dia. Atualmente, esse equipamento está sendo testado pela Liberty Utilities no estado de Nova York, onde a companhia está misturando hidrogênio ao gás natural que distribui. A startup se encontra em processo de construção de seu primeiro eletrolisador em escala comercial, um modelo de 250 quilowatts que pode produzir até 125 quilos de hidrogênio por dia. Rodriguez-Calero indicou que esta versão maior estará disponível no primeiro trimestre do próximo ano.
Embora essa capacidade de produção seja menor em comparação com muitos projetos de eletrolisadores que são tipicamente medidos em megawatts, Rodriguez-Calero acredita que a dimensão modular desses eletrolisadores menores e adaptáveis atraíra clientes que são mais cautelosos quanto à adoção de novas tecnologias. “Esse tamanho é muito atraente para aquelas empresas que compram um caminhão de hidrogênio por semana”, destaca ele. Esta abordagem pode facilitar a transição para o hidrogênio como uma solução viável para muitos consumidores e empresas.
Lisa Coca, parceira da Toyota Ventures, sustenta que a Ecolectro pode ter a chance de produzir hidrogênio a um custo de US$ 1,35 por quilograma até o final da década, uma meta que está próxima do objetivo estabelecido pelo Departamento de Energia dos EUA de US$ 1 por quilograma. Para atingir essa ambiciosa meta, a Ecolectro levantou uma rodada de investimento série A de US$ 10,6 milhões, tendo a Toyota Ventures Climate Fund como principal investidora, com a participação de outras instituições como a Universidade de Cornell, New Climate Ventures, Starshot Climate e Techstars.
Com este novo modelo de eletrolisadores que desafiam o status quo e a atraente perspectiva de redução de custos, a Ecolectro está se posicionando como uma esperança renovada para o hidrogênio, podendo assim transformar não apenas a matriz energética, mas também a dinâmica do mercado da energia sustentável nos próximos anos.