O futebol feminino canadense está passando por uma reviravolta significativa após a demissão da treinadora Bev Priestman, uma decisão que se seguiu a um polêmico escândalo envolvendo o uso de drones durante os Jogos Olímpicos de Paris 2024. Com a saída de Priestman, a Canada Soccer anuncia o início de uma busca para encontrar um novo comando técnico para a seleção nacional feminina, a qual se destacou com um desempenho robusto em competições anteriores, incluindo uma medalha de ouro nas Olimpíadas de Tóquio 2021. A suspense que envolve esta controvérsia não apenas lançou uma sombra sobre a equipe, mas também levanta questões sérias sobre a ética nas práticas de treinamento e supervisão dentro da organização.
A situação que culminou na demissão de Priestman surgiu após a investigação de um incidente em que um drone foi utilizado de maneira inadequada para espionar uma sessão de treinamento da seleção da Nova Zelândia, no contexto da competição olímpica. Em julho, a FIFA impôs uma suspensão de um ano a Priestman e a outros dois membros de sua equipe de treinamento, Joseph Lombardi e Jasmine Mander, além de aplicar uma multa à equipe canadense e descontar seis pontos de sua campanha. É interessante notar que, apesar do escândalo, o Canadá conseguiu vencer a Nova Zelândia por 2 a 1 logo após o incidente, mostrando a resiliência da equipe diante da adversidade.
O comunicado oficial da Canada Soccer afirma que os três indivíduos suspensos não retornarão e que uma busca por um novo treinador começará em breve. A determinação de não usar nomes na declaração se alinha com as leis de privacidade e compromissos de confidencialidade. Essa decisão se seguiu à revelação das conclusões de uma investigação independente sobre o uso ilegal de drones, que identificou que, embora não houvesse evidências de que as jogadoras canadenses tivessem acessado as filmagens, alguns membros da equipe estavam desconfortáveis com as diretrizes impostas por Priestman. Em suas declarações, ficou claro que havia uma cultura de conformidade que inibia os funcionários de questionar as decisões da treinadora.
A investigação confirmou que o Canada Soccer havia implementado determinadas práticas durante a preparação Olímpica que não condiziam com os padrões éticos esperados. O escândalo do drone, conforme relatado, se tratava de um sintoma de uma cultura inadequada e de supervisão insuficiente dentro das equipes nacionais. Kevin Blue, CEO da Canada Soccer, destacou que essas descobertas reforçam o compromisso da organização em implementar mudanças urgentes para melhorar sua operação e cultura. Entre as mudanças sugeridas estão a criação de um sistema para reportar comportamentos antiéticos e a utilização de software para garantir relatórios confidenciais em toda a estrutura.
Adicionalmente, a investigação também analisou alegações sobre o uso de drones pela equipe masculina canadense durante a Copa América, embora tenha determinado que não houve evidências conclusivas. Entretanto, foi relatado que um ex-treinador da equipe masculina poderia ter envolvimento em possíveis violações de protocolo, embora não tenha sido identificado neste momento. O processo disciplinar que está em andamento visa abordar essas supostas irregularidades e garantir que a Canada Soccer restaure sua imagem e credibilidade no cenário esportivo.
Priestman já havia pedido desculpas publicamente, assumindo a responsabilidade pela conduta do programa, e afirmou que estava empenhada em corrigir o curso da equipe em face das críticas. Apesar da polêmica, o time feminino reuniu forças para avançar até as quartas de final dos Jogos Olímpicos de Paris antes de serem eliminadas pela seleção da Alemanha nos pênaltis. O resultado do torneio não foi suficiente para apagar as consequências da controvérsia, que ainda reverbera na organização, complicando o panorama de uma seleção reconhecida por seus sucessos passados.
mudanças em prol da ética e da transparência
Além das demissões e sanções impostas, o escândalo do uso de drones levou a Canada Soccer a reavaliar suas práticas administrativas e de ética. O compromisso em reestruturar a abordagem organizacional é central para garantir que incidentes semelhantes não se repitam no futuro. As iniciativas de responsabilização contratual e os novos métodos para o contato anônimo são vistos como passos importantes nesta direção, um reflexo direto das lições aprendidas durante esta crise.
O envolvimento de Priestman, Lombardi e Mander na controvérsia não é apenas sobre a mancha na reputação do futebol canadense, mas também um chamado despertar sobre a necessidade de que todas as partes envolvidas no esporte, dos atletas aos treinadores, possam operar em um ambiente de respeito, ética e transparência. O futuro do futebol feminino no Canadá pode depender das medidas que a Canada Soccer tomará para reinstituir a confiança em sua liderança e proteção à integridade do esporte.
Com um novo comandante a ser escolhido e a estrutura organizacional em evolução, o próximo capítulo para o futebol feminino canadense começa a ser escrito, mas agora, talvez, com considerações mais profundas sobre a importância de uma cultura saudável e ética no esporte profissional.