Nota: Esta matéria contém spoilers do final da segunda temporada de Frasier.
Na metade do primeiro episódio da segunda temporada de Frasier, o star Kelsey Grammer, que interpreta o icônico Dr. Frasier Crane, utiliza uma Bola de Snooker Encantada — um tipo de “Bola Mágica” britânica. Ele faz a pergunta: “Frasier Crane ainda é o mesmo?” A resposta obtida, “Indubitavelmente”, provoca real desassossego, enquanto ele continua se adaptando à vida em Boston. Apenas momentos antes, ele havia se dado conta de que o mesmo brinquedo deu a resposta para seu filho, quando este questionou a possibilidade de largar Harvard para se tornar bombeiro. A agitação se intensifica para Frasier, que apressadamente pergunta ao objeto se o seu amigo rabugento Alan Cornwall (brilhantemente interpretado por Nicholas Cornwall) usou o mesmo brinquedo para dar a mesma orientação ao seu filho. A resposta desta vez é clara: “Obviamente, você, seu imbecil”.
Essa interação hilariante não apenas capta a essência do humor característico da série, mas também sinaliza o que se tornou um dos temas centrais da segunda temporada: a luta contínua de Frasier com a transição de sua vida, tentando se reestabelecer e reconectar com seu filho, Freddy (Jack Cutmore-Scott), enquanto analisa seu impacto na vida de outros. Os showrunners, Joe Cristalli e Chris Harris, afirmam que a elaboração dessa nova fase do Dr. Frasier Crane foi tão recompensadora quanto acompanhar as aventuras da série original, que foi ao ar de 1993 a 2004. Cristalli, um autêntico super fã da série, até criou uma paródia chamada “Frasier for Hire” após o término da original e foi influenciado pelo tempo que passou assistindo Frasier pela primeira vez em Cheers em 1984.
Esta competição familiar não é a única mudança que Frasier enfrenta. Na segunda temporada, seu retorno como professor em Harvard e todos os desafios que surgem não impedem que ele atue como um Cyrano da tecnologia, um detetive da era regencial ou mesmo como um gêmeo falso em sua busca por uma recomendação importante para um livro. Cristalli comenta que “pode ser um dos melhores momentos que já fizemos” ao se referir à habilidade de Grammer de mudar rapidamente sua persona no sétimo episódio, intitulado “My Brilliant Sister”. A química entre Grammer e os outros personagens flui bem, apesar das dificuldades enfrentadas durante a filmagem da temporada.
Infelizmente, no entanto, a temporada também enfrentou momentos de dificuldade pessoal. A coadjuvante Toks Olagundoye, que interpreta a reitora de Harvard, Olivia Finch, foi diagnosticada com câncer de mama em estágio 1 e passou por três cirurgias e quimioterapia. “O que foi bonito de se ver foi que, apesar de estarmos apenas alguns episódios na temporada, todos se uniram porque estava claro que queríamos garantir que tudo o que Toks precisava fosse providenciado. O mais importante era que Toks estivesse bem”, diz Harris. Este sentimento solidário reverberou ao longo da produção, refletindo o espírito da série que também tem profundas raízes afetivas.
Estamos testemunhando o retorno de lembranças, além de alguns rostos familiares do passado da série, como Roz (Peri Gilpin), Bebe Glazer (Harriet Sansom Harris), Bulldog (Dan Butler) e Gil (Edward Hibbert). Novas adições ao elenco também trouxeram uma nova energia, com participações de comediantes icônicas como Amy Sedaris e Patricia Heaton. Segundo Cristalli, existe um equilíbrio necessário ao reinserir esses personagens, pois muitos fãs desejam ver as antigas personalidades, mas também desejam conteúdos novos e exploratórios que simbolizem o crescimento da nova série.
Além disso, a temporada também se aprofundou na exploração do luto através da personagem Eve (Jess Salgueiro), que lidou com a perda de seu parceiro. Cristalli pôde considerar a variedade de vozes na sala dos escritores, algumas das quais tinham experiências pessoais para conectar-se a essa narrativa emocional. “Apenas o ato de compartilhar suas histórias proporcionou uma dinâmica autêntica que está presente nas tramas”, afirma Cristalli.
Esse novo capítulo da série, que comemora o 40º aniversário de seu personagem principal, Frasier Crane, exibe não apenas a nostalgia dos espectadores, mas também a evolução do personagem em si. A identificação que o público possui com Frasier – uma figura que enfrenta dilemas contemporâneos enquanto ainda é um intelectual pomposo – provoca empatia e humor. O quanto ele mudou ao longo dos anos é um reflexo da realidade de muitos, que se encontram em um mundo em constante transformação.
Frasier na nova temporada continua a tradição de episódios memoráveis conectados ao Natal, com o final da segunda temporada, intitulado “Father Christmas”, assumindo um tom mais emocional do que o do ano anterior. Cristalli ressalta que essa transição para momentos mais profundos em meio ao humor não é uma constante impressão, mas sim uma abordagem cuidadosa que tensões dramáticas funcionam bem com a comédia. Ele menciona episódios antigos de Natal, como aqueles protagonizados pelos irmãos de Frasier com situações cômicas de alto impacto, em que o tom emocional foi gradualmente se entrelaçando com o humor típico. A interação dos criadores reflete um amadurecimento em suas habilidades narrativas, permitindo que a história de Frasier ressoe mais profundamente com os espectadores em um tempo onde o riso ainda é tomado como elemento importante.
Finalmente, a temporada permitiu que os roteiristas se alinhassem mais estreitamente às vozes dos personagens, permitindo o desenvolvimento das histórias para refletir onde os personagens estão agora em suas vidas e a profundidade que eles têm. O desenvolvimento dinâmico dos personagens permite mais camadas ao humor, em conexão com a nostalgia e sensibilidade comuns aos fãs de longa data.
Agora que a segunda temporada de Frasier está disponível para streaming no Paramount+, os espectadores podem revisitar a icônica jornada de Frasier e sua rede de alucinações e humor que perpetua ao longo do tempo.