Nos dias atuais, a maneira como usamos as redes sociais tem um impacto significativo em nossa saúde mental e bem-estar. Diante da crescente utilização de smartphones e plataformas digitais, muitos se questionam se pequenas mudanças na forma como interagimos com essa tecnologia podem resultar em melhorias na nossa qualidade de vida. Em uma recente reflexão sobre sua rotina matinal, um co-apresentador do “The TryPod” mencionou como substituir o check-in nas redes sociais por uma atividade física simples como o pickleball transformou sua manhã e, consequentemente, seu humor. O relato, que inicialmente pode parecer uma observação corriqueira, trouxe à tona uma questão relevante: é possível que uma simples alteração nos nossos hábitos matinais possa mudar nossa perspectiva diária?
O relato de um ouvinte anônimo, que compartilhou essa experiência, destaca um desafio comum enfrentado por muitos: acordar com um sentimento de apreensão e angústia. Inspirado pela experiência do co-apresentador, ele decidiu interromper a prática de verificar os aplicativos logo pela manhã e, em vez disso, optou por se dedicar a uma caminhada com seu cachorro. O resultado foi surpreendente: ele notou uma drástica redução da sensação de desespero que frequentemente o acompanhava. Essa mudança simples não apenas iluminou suas manhãs, mas também despertou interesse em profissionais de psicologia, como a Diretora do Centro de Pesquisa em Psicologia da Mídia, Dra. Pamela Rutledge, que explicou que começar o dia com uma atividade no mundo real altera a forma como nos sentimos. Engajar-se em atividades reais e ter o controle sobre suas decisões podem ser fatores que afetam diretamente nosso bem-estar emocional.
Segundo Dra. Rutledge, começar o dia com emoções positivas pode aumentar a resiliência, a produtividade, a disposição para novas experiências e, o mais importante, criar um ambiente mais agradável para os relacionamentos ao nosso redor. No entanto, essa prática não deve ser uma solução drástica. Ela sugere que mudanças sutis, como evitar as redes sociais logo ao acordar, podem ser benéficas. A Dra. Charlotte Armitage, psicóloga de um programa britânico de conscientização sobre o uso de dispositivos, trouxe à tona outro aspecto: a transição abrupta do sono direto para a tela do celular pode ser prejudicial. O uso de dispositivos móveis logo pela manhã pode gerar um aumento nos níveis do hormônio do estresse, o cortisol, que, conforme ela explica, pode provocar sentimentos de ansiedade e aceleração do batimento cardíaco.
Outro ponto relevante que Dra. Armitage levanta é a influência negativa do conteúdo consumido. O acesso imediato a notícias ruins ou conflitos online pode sobrecarregar alguém que ainda não se ajustou ao início do dia, resultando em um início negativo que compromete a disposição para as horas que se seguem. Essa lógica se estende ao ciclo vicioso gerado pelos algoritmos das redes sociais, que tendem a exibir conteúdo negativo para prender a atenção. De acordo com a especialista, se a primeira interação ao acordar for consumindo esse tipo de conteúdo, a pessoa pode se sentir apática e sem energia logo nas primeiras horas do dia. Portanto, evitar as redes sociais logo que os olhos se abrem pode evitar a construção desse cenário mental negativo.
Entretanto, a questão não se resume a eliminar por completo o uso do celular. Há formas de utilizar a tecnologia que podem ser benéficas. Rutledge afirma que usar o celular como despertador ou para consultar a previsão do tempo pode conferir ao usuário um sentimento de controle e organização. Em contrapartida, perder-se em e-mails ou redes sociais ao acordar pode roubar o tempo de planejamento do dia. Essa perda de tempo pode impedir a reflexão sobre metas e exigências do dia, o que prejudica a intenção responsável de iniciar o dia.
Para aqueles que temem perder a conexão ao se afastar das redes sociais pela manhã, Dra. Armitage sugere que a ativação do modo avião à noite pode proporcionar um espaço mental para refletir na manhã seguinte sem a pressa de responder a mensagens ou verificar atualizações. O foco nas interações do mundo real, como o convívio com a família, pode aumentar a sensação de conexão e, ao mesmo tempo, permitir uma adaptação mais calma à rotina diária. Não se trata apenas de se afastar do celular, mas de realinhar as prioridades do que realmente importa.
Outro aspecto importante a se considerar é que, mesmo após a “abertura dos portões” do uso do celular, é fundamental que haja atenção dedicada a pessoas ao nosso redor. Ignorar os chamados por atenção de filhos, parceiros e amigos pode fazer com que experiências valiosas sejam desperdiçadas. No mesmo sentido, evitar o uso de dispositivos eletrônicos uma hora antes de dormir pode contribuir para um sono melhor, evitando que a luz azul e a estimulação provocada por conteúdos digitais interfiram no descanso.
Considerando todas essas alternativas, fica evidente que pequenas mudanças em nossa rotina matinal podem elevar não apenas nosso humor, mas também melhorar a qualidade das interações que mantemos ao longo do dia. No mundo atual, em que a tecnologia se faz presente em todos os aspectos de nossas vidas, um toque de deliberada mudança nas maneiras como nos conectamos com o digital pode nos levar de volta a uma espontaneidade positiva e revigorante, não importa o quão desafiador isso possa parecer a princípio.