Nos bastidores da política americana, a figura de Donald Trump continua a gerar intenso debate e preocupação, especialmente entre defensores da liberdade de imprensa. Ao se preparar para uma potencial segunda temporada na presidência, Trump não apenas prometeu retaliar a mídia, acusando-a de ser “inimiga do povo”, mas também fez declarações alarmantes que levantam questões sobre a possibilidade de um ataque sistemático à imprensa livre. Suas ameaças incluem a promessa de processar jornalistas, revogar licenças de transmissão e submeter veículos de comunicação a uma onda de ações judiciais. Este cenário é preocupante não apenas para jornalistas, mas para todos aqueles que acreditam na democracia.
Durante seu primeiro mandato, Trump frequentemente se envolveu em conflitos com a mídia, tornando-se conhecido por hostilizar jornalistas e por banir certos repórteres de briefings oficiais. Mais recentemente, em comícios, ele usou uma retórica violenta ao atacar jornalistas, afirmando de forma chocante que não se importaria se eles fossem alvejados. Essas declarações acenderam o alerta entre os especialistas, que temem que ele use o governo para coagir a imprensa e minar a liberdade de expressão que é um dos pilares da democracia americana. Nesse contexto, ficamos diante da pergunta: até onde Trump pode ir em sua busca por controlar a narrativa?
Especialistas em liderança autoritária na Europa observam que, em um segundo mandato, Trump poderia causar danos significativos à liberdade de imprensa nos Estados Unidos, especialmente se contar com lealdades mais fortes entre seus colaboradores e se a estrutura de proteção institucional for fragilizada. Os casos de democracias europeias que enfrentam retrocessos significativos podem servir como um alerta do que pode acontecer. Sharon Moshavi, presidente do Centro Internacional para Jornalistas, enfatiza que essa erosão não ocorre da noite para o dia; trata-se de uma série de ataques coordenados semelhantes a uma “morte por mil cortes”. Nesse sentido, a experiência de países como Rússia, Hungria e Polônia é preocupante, onde a mídia sofre uma ampla gama de pressões.
A estratégia de Trump parece mimetizar a tática observada em várias nações governadas por líderes autoritários. O foco não está apenas em silenciar dissidentes ou prender jornalistas, mas em um ataque mais sutil e abrangente que inclui campanhas de desinformação, pressão sobre proprietários de Empresas de Mídia para censurarem suas equipes e, em alguns casos, a compra de veículos de comunicação para transformá-los em porta-vozes do governo.
Historicamente, governos autoritários, incluindo os de líderes como Viktor Orbán na Hungria, têm utilizado a compra de mídia e a influência financeira para moldar narrativas. Essa prática, conhecida como captura da mídia, resultou na centralização de órgãos de imprensa sob controle governamental, minando a diversidade e a independência jornalística. Essa estratégia, em última análise, não é apenas uma questão de censura direta, mas um desmantelamento do pluralismo que permite diferentes vozes e opiniões se expressarem.
No cenário atual nos Estados Unidos, observam-se movimentos que revelam um padrão semelhante. Exemplos recentes incluem decisões tomadas pelos proprietários de veículos como The Washington Post e Los Angeles Times, que se afastaram de endossos políticos sob a pressão de interesses empresariais, refletindo uma forma de autocensura. A lúgubre afirmação “a democracia morre na escuridão”, slogan do The Washington Post, adquire uma ressonância ainda mais dura neste contexto, sugerindo que a falta de apoio verbal a figuras políticas certas pode prejudicar a vitalidade democrática.
Além disso, o quadro legal nos Estados Unidos é suscetível a abusos semelhantes, com Trump já iniciando processos judiciais contra meios de comunicação, como no caso de uma ação contra a CBS, demandando US$ 10 bilhões em danos após uma entrevista. Esse tipo de estratégia jurídica não apenas consome recursos jornalistas e organizações de notícias, mas também serve para intimidar e silenciar as vozes que poderiam criticar o governo.
Sobretudo, a retórica de Trump gerou um profundo cisma de confiança entre os seus apoiadores e a mídia. Essa cultura de desconfiança, alimentada por alegações constantes de “notícias falsas”, não apenas desencoraja o jornalismo independente, mas banaliza a hostilidade em relação a jornalistas, líderes de opinião e instituições que tradicionalmente têm defendido a democracia e a verdade.
Apesar do ceticismo, alguns especialistas ainda acreditam que as instituições americanas podem resistir a essa pressão autoritária. A diversidade do mercado de mídia nos EUA, em contraste com países que têm servido como avisos, cria um ambiente onde a liberdade de expressão pode continuar a prosperar. Ao mesmo tempo, especialistas como Anne Applebaum e Olga Kamenchuk afirmam que a estrutura de controle e limites legais em vigor pode proteger a imprensa, embora não sem desafios significativos, que já estão moldando um cenário nascido da adversidade.
O futuro em relação à liberdade de imprensa sob a liderança de Trump é incerto, e o clima de desconfiança, especialmente entre seus apoiadores, poderá manter as feridas abertas na relação entre o governo e a mídia. O que resta a observar é se as velhas instituições conseguirão se manter firmes diante da tempestade ou se sucumbirão a este novo normal de desinformação e autoritarismo.