O filme Wicked, que se destaca como uma das produções teatrais mais bem-sucedidas da história, baseia-se na icônica peça que conquistou o coração do público ao longo de seus 21 anos de trajetória. Em breve, a produção estreará nas telonas, com a previsão de uma abertura espetacular no feriado de Ação de Graças, gerando expectativa de arrecadar cerca de $85 milhões em sua primeira semana, enquanto já acumulou surpreendentes $1,7 bilhão em vendas de ingressos desde sua estreia na Broadway.
Apesar do sucesso estrondoso que o musical se tornou, é preciso lembrar que a sua estreia em 30 de outubro de 2003 foi recebida com uma onda quase unânime de críticas desfavoráveis. Os críticos, em sua maioria, não hesitaram em expressar seu desencanto em relação à obra, caracterizando-a como entediante e excessivamente carregada.
O crítico Ben Brantley, do renomado New York Times, foi particularmente severo, afirmando que a produção era “monótona, sem cor e sobrecarregada”. Ele descreveu como a única exceção digna de nota era a interpretação de Kristin Chenoweth, a primeira Glinda, que trouxe uma leveza à obra que, segundo ele, poderia estar fadada a flutuar em sua própria grandiosidade e exagero por quase três horas.
O crítico enfatizou a falta de originalidade na música, sentindo que as canções como “For Good” e “Defying Gravity” eram apenas meras composições no estilo pop, lamentando que a proposta da peça, que se pretendia uma crítica política sobre fascismo e liberdade, acabava por perder sua capacidade de impacto devido à maneira direta como foi apresentada.
Brantley continuou a descrever o papel da protagonista, Elphaba, como “bizarro” e “sem cor”, questionando se a profundidade emocional e a complexidade tinham sido deixadas de lado em detrimento de uma interpretação mais superficial. Apesar de reconhecer a performance impactante de Idina Menzel, que interpretou Elphaba, Brantley concluiu que a essência e a habilidade da atriz eram insuficientes para salvar o desempenho do papel, que considerava limitado.
A princípio, a visão negativa em relação ao Wicked era amplamente compartilhada. A crítica de New York Magazine, escrita por John Simon, também teve um tom mordaz, começando sua análise com uma piada que ironizava os nomes dos produtores, insinuando que a combinação de nomes como Platt (que significa “plano” em alemão) e Stone (que em inglês significa “pesado”) já predizia uma proposta teatral sem grande profundidade.
Ele não poupou críticas ao compositor, afirmando que, de forma geral, a música e a letra careciam de qualidade, descrendo uma plateia que, por mais que apreciasse a entrega de Kristin Chenoweth, ainda assim, esperava algo além da superficialidade apresentada: “Ela canta as canções sem valor admiravelmente, mas isso não é o suficiente.”
Na verdade, várias avaliações foram extremamente severas. O crítico do New York Daily News, Howard Kissel, foi ainda mais inequívoco em sua reprovação ao descrever a peça como “interminável”, carecendo de qualquer lógica dramática ou centro emocional que pudesse capturar o espectador. Ele argumentou que o exorbitante investimento de $14 milhões na produção parecia mais um impulso desesperado do que uma estratégia eficaz.
O desdém foi, em muitos casos, generalizado. Embora as críticas fossem predominantes, algumas vozes se destacaram. O USA Today, por exemplo, elogiou Wicked por sua capacidade de inovação, considerando-a uma adaptativa e satisfatória reinterpretation da história da bruxa má de Oz, através de uma lente feminista e socialmente consciente.
Após receber 10 indicações ao Tony e vencer três prêmios, incluindo Melhor Atriz em Musical para Menzel, o Wicked finalmente se estabeleceu como parte essencial do teatro musical contemporâneo. O estrondoso sucesso é um testemunho da resiliência da produção, mostrando que, mesmo diante da crítica, é possível encontrar aceitação e adoração pelo público.
Portanto, a trajetória de Wicked nos ensina que o valor de uma obra não é sempre imediatamente reconhecido e, muitas vezes, a crítica pode ser desafiada pelo gosto popular. O teatro, assim como qualquer forma de arte, pode surpreender e ressoar de maneiras inesperadas, mostrando que, no fim das contas, todos merecem uma chance para brilhar.